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O nascimento de uma nova etapa com a gravidez na universidade

Por Caroline Oréfice Demétrio
Uma das principais questões que permeiam a cabeça de alunas do curso superior quando descobrem que estão grávidas é a decisão de seguir a faculdade ou trancar a matrícula. Essa decisão acaba influenciando não só o futuro das mães estudantes, mas também toda a gestação da criança e o pós-parto.
A escolha em manter-se ou não na graduação deve levar em conta mais de um aspecto. Dentre eles, encontram-se os custos que surgirão para manter a criança, se a mulher será mãe solo ou contará com o suporte do pai da criança e, principalmente, a estabilidade emocional. Além disso, é preciso considerar a mobilidade dessa gestante, já que a locomoção torna-se mais complicada ao longo da gestação, principalmente se a universidade for longe de casa.
É necessário que as gestantes também saibam que existem decretos para apoiar toda a gestação sem que haja o abandono dos estudos, como é o caso do decreto 6202/75, o qual garante a licença da faculdade por três meses a partir do oitavo mês de gestação. Esse decreto permite que a estudante possa fazer provas, trabalhos e outras atividades que valham nota quando retornar às atividades acadêmicas.

A saudade inesperada de uma criança indesejada

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As dificuldades de ter uma gravidez no período da faculdade são agravadas quando não há apoio do pai na criação. (Foto arquivo pessoal de Dandara Adrien).


Foi em 2017 que a vida de Dandara Adrien Aveiro passou por uma reviravolta. Nascida em 5 de setembro de 1991, a aspirante a jornalista nunca idealizou ser mãe. Mas, devido a imprevistos da vida, ela acabou engravidando e passou por um dos maiores dilemas de sua vida.
Para ser mais exata, foi em agosto de 2017 que tudo mudou. Dandara, até então, não fazia ideia do que iria passar. Mantendo sua rotina comum, o atraso de sete meses na menstruação não causava grandes preocupações. Afinal, nenhum sinal de gravidez havia surgido e ela havia descoberto um caso de ovário policístico, o que também contribui para que a menstruação atrase.
Mesmo assim, Dandara decidiu fazer o BetaHCG, exame de gravidez, para que não restassem dúvidas. O resultado chegou, as mãos tremiam um pouco e o coração estava acelerado. Ao abrir o papel, o choque: POSITIVO. As lágrimas caíam na velocidade de uma enxurrada.
A decisão mais sensata na hora foi fazer outros dois testes, agora um de farmácia e um de sangue. Não era possível que Dandara estivesse grávida. Mais uma vez, mais um desespero. Ambos deram positivo. A vontade de desaparecer do mundo parecia cada vez mais razoável.
O sonho de ser jornalista estava despedaçando aos poucos e, tudo por culpa de uma criança que nunca fora desejada. A decisão de fazer um aborto era real. Todos os dias, em sua cabeça, passava como ela nunca se imaginara como mãe. O que ela então faria?
Os problemas de realizar um aborto clandestino eram muitos. Que segurança ela teria ao realizar um aborto clandestino?  E se ela morresse? E se a criança nascesse com problemas? E se ela passasse mal ao ponto de precisar de um hospital e suspeitassem que tentou um aborto? Essas questões geraram um medo que fez com que Dandara prosseguisse com a gravidez.
A luz no final do túnel surgira. Os pais de Dandara dariam todo o suporte para que ela continuasse os estudos. Enquanto Dandara estivesse em Bauru estudando, eles ficariam em Uberaba cuidando da criança. No entanto, a ideia de ter um filho não estava amadurecida na cabeça de Dandara.
Mesmo com todo o apoio da família e dos amigos, ela ainda se sentia sozinha. A tristeza de viver algo que nunca quis fazia com que seu psicológico ficasse cada vez pior. Não importava, para ela, se ela tivesse 26  ou 14 anos, o filho não seria sinônimo de felicidade jamais.
Ainda por cima, a dificuldade de ser mãe solo a atormentava. Não ter ajuda do pai da criança fazia com que suas responsabilidades e medos crescessem conforme prosseguia com a gravidez. A gestação ficava cada vez mais difícil. Não podendo recorrer ao álcool, seu refúgio emocional preferido, o que era para ser uma felicidade tornava-se, em sua cabeça, um tormento.
O amargo que a mulher levava para vida era só um dos sentimentos causados pela rejeição ao filho. A felicidade parecia impossível para a estudante de Jornalismo. Mesmo com todas as tentativas de aproximar-se da ideia de ser mãe – chá revelação, a compra dos enxovais, a montagem de o quarto da criança na casa dos pais de Dandara – nada parecia o suficiente para fazer com que ela se apaixonasse pelo filho.
O dia do parto chegou. A princípio, tudo era muito angustiante. Não era fácil nem olhar para a criança. O pesadelo que Dandara não conseguiria mais acordar. Tudo estava acontecendo e era verdade. Depois de um turbilhão de sentimentos, tudo o que restou à ela foi um tempo para respirar. Ao se acalmar, ela tomou uma das decisões mais corajosas, a de olhar para a criança. E, assim que seus olhares se cruzaram, todo o amargo e tristeza passaram, ela estava perdidamente apaixonada. A ideia de ser mãe não parecia mais ruim. O amor por seu filho era enorme.
Hoje, tudo mudou. O filho é a primeira coisa que pensa quando acorda e a última quando vai dormir. Ser mãe fez com que ela se empenhasse ainda mais em seus estudos para possibilitar um futuro melhor ao seu filho. As prioridades passaram por mudanças e, atualmente, não é algo que gere incômodo em Dandara. Pelo contrário, essa experiência que, no começo fora sufocante, serviu de amadurecimento para ela em sua vida.
A saudade é como um nó que aperta cada vez mais o coração. As lágrimas descem por sua face como uma garoa ao lembrar que a distância a impede de acompanhar os primeiros meses e anos de seu filho. A chamada de vídeo para que o filho não se esqueça da voz e desacostume de Dandara não causa o mesmo calor na alma do que aquele abraço apertado e beijo demorado na testa da criança.

A jornada tripla para manter uma criança

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A vida de mãe solo é agravada pela necessidade de realizar jornada tripla para sustentar a família. (Foto por Ivan Gomes).


A ficha demorou um pouco para cair, a surpresa fora maior do que qualquer outro sentimento. Raíssa Pansieri nasceu dia 3 de setembro de 1996 e foi em 9 de fevereiro de 2017 que descobriu estar grávida da Marina.
Durante a gravidez, a ideia de abortar surgiu como uma opção rápida para um problema que, até então, não parecia ter uma solução. Foi então que, pesquisando sobre os impactos de interromper uma gestação e conversando com uma de suas amigas, Raíssa enxergou alternativas após o nascimento e decidiu prosseguir com a gravidez.
Os pensamentos que passavam na cabeça dela enquanto grávida traziam uma dificuldade que não aconteceu. O medo de não conseguir manter a filha em condições boas aterrorizava sua cabeça. Ainda por cima, Raíssa não conseguia nem cogitar largar os estudos.
Essas questões ainda cercavam a vida da estudante de jornalismo quando, às 2:30 do dia 7 de outubro de 2017, Marina nasceu. A felicidade era tanta que, por um momento, os contratempos foram deixados de lado. Foi naquele pacotinho de gente de 3,2 quilos e 49,5 centímetros que a mãe de primeira viagem redescobriu suas prioridades e amores.
A onda de vitórias não havia acabado, um mês após o nascimento de Marina, Raíssa conseguiu um emprego. Uma de suas maiores aflições, a de não conseguir manter ela e a filha financeiramente, havia desaparecido de primeiro plano. Em compensação, um novo obstáculo surge, a jornada tripla. Acordar, cuidar da Marina, se preparar para trabalhar, ficar o dia inteiro fora, voltar, se arrumar, preparar a Marina e ambas irem para a faculdade. Essa rotina diária foi árdua e obrigou que Raíssa aprendesse a administrar seu tempo para conciliar todos os compromissos sem deixar de lado sua filha.
Questões cotidianas como lavar a louça e cozinhar pareciam desafios gigantescos com uma criança ao lado. Como mãe solo, as complexidades estavam até em ter um tempo sozinha, que geralmente era no banho. Com o passar do tempo e com o crescimento da Marina, acabou que essa rotina saiu do âmbito da loucura e tornou-se simples.
Os impasses mudam conforme a idade da criança avança. O que para alguns universitários é algo rápido, para Raíssa fica complicado. Ir ao mercado com Marina é sempre uma aventura. A criança ainda é de colo, como Raíssa precisa fazer suas atividades diárias sozinha, o que torna complexo realizar cada ação com a Marina junto.
É claro que não foi só a vida pessoal da nova mamãe que mudou. A vida acadêmica de Raíssa precisou ser adaptada ao fato de ter uma nova companheira para tudo. A organização é o novo mantra de sua vida. Com uma jornada tripla, ela precisou realocar seu tempo para conseguir entregar todos os trabalhos e estudar para as provas.
Enquanto alguns de seus amigos estão preocupados em tirar uma nota maior que 7 nas provas da universidade, os olhos de Raíssa brilham ao ter tempo extra para se dedicar ainda mais na criação de sua filha, que é sua mais nova prioridade.
A cobrança vem de forma traiçoeira. Em alguns momentos, ela sente que poderia fazer mais pela filha e que, se não tivesse todos os compromissos de uma  vida adulta, conseguiria cuidar da filha em tempo integral. Da mesma forma, a estudante compreende que nem tudo está em seu alcance. Então, é muito mais importante aproveitar cada momento ao lado da Marina, desde os primeiros barulhos, a primeira parada sentada e até a primeira engatinhada.
No âmbito acadêmico não é muito fora desse padrão. A vontade de se dedicar mais e também aproveitar uma das melhores fases da sua vida causa um conflito interno em sua cabeça. Mas isso não é motivo para ficar cabisbaixa ou desistir do seu sonho de ter uma graduação.
As medidas a curto prazo não podem ser substituídas por um futuro brilhante. É assim que Raíssa procurou manter seu foco para terminar o curso de Jornalismo. Mesmo com muitos conselhos de que o melhor seria se dedicar totalmente a filha, a jornalista não se deixou levar e abrir mão dos seus planos. Ainda não é o fim do mundo.

O sonho de ser mãe que sempre existiu

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Bernardo e Geovanna realizam todas as atividades diárias em conjunto. (Foto por Geovanna Favero).


“Eu sempre quis ser mãe”. Foi assim que minha conversa com a Geovanna começou. Hoje seu filho já tem 4 meses, sua rotina mudou completamente. Ela, que nasceu dia 18 de março de 1998, sempre quis ter uma criança ainda jovem. Sentadas no bosque da universidade, começamos a conversa com ela contando um pouco sobre como descobriu que estava grávida, em meio a pausas de um nervoso por ser a primeira vez que contava sobre a gravidez para alguém de fora da sua rede de amigos e familiares.
Enquanto ela se manteve calma ao descobrir a gravidez, o namorado não estava tão tranquilo assim. Até passou pela cabeça da estudante de Educação Física em abandonar a criança ou criá-la sozinha. O fato é que ela teria o filho de qualquer maneira.  O aborto até passou pela cabeça dos dois, mas a vontade de ser mãe nova falou mais alto.
Os dois suspeitavam da gravidez, mas estavam calmos ainda, como qualquer outro universitário que já passou por isso. A menstruação estava atrasada e então resolveram realizar um teste de farmácia. Resultado positivo. Os corações aceleraram. Aquele desespero surgia. O que os pais do Guilherme, namorado dela, falariam?
Decidiram assumir a responsabilidade pelo erro de não se prevenirem. Precisavam arcar com as consequências e crescer com isso também. A dificuldade era gigante levando em conta que ela morava sozinha e o namorado em uma república. A família de Geovanna é de Jundiaí, a do Guilherme de Ribeirão Preto e ambos moram em Bauru. Dentre as três opções, decidiram continuar em Bauru, mas, dessa vez, foram morar juntos.
Além da gravidez, agora tinha o obstáculo de morarem juntos com apenas 7 meses de namoro. Aliado a isso, os estudos vinham como ponto principal. Estava fora do pensamento de ambos largarem os estudos. Enquanto Geovanna desenrola sobre sua história, seu namorado fica, ao lado, em meio ao balançar de pernas, confirmando cada afirmação com um vaivém de cabeça.
A ajuda dos pais foi imprescindível nessa nova fase. Embora os pais de Guilherme tenham assustado, prontificaram-se à mobiliar o apartamento. Os pais de Geovanna também deram todo o auxílio para comprarem o apartamento em que o casal vive.
O ponto chave dessa gravidez foi a forma que ela se sentiu em todo esse processo de gestação. A felicidade fica explícita no rosto de Geovanna ao contar que nunca se sentiu tão bonita quanto agora. O sonho que ela tinha está se concretizando e, a mãe em primeira mão não cansa de afirmar que está maravilhosa e radiante.
Em relação a universidade, os professores e colegas de Educação Física prestaram todo o apoio. Como os estudos continuam em primeiro foco, a preocupação de ambos está cada vez menor. A universitária foi parabenizada por seus educadores e recebeu total liberdade para agir de acordo com o que a gravidez demandasse.
O casal apaixonada, em meio a uma troca de sorrisos, enquanto cada um está sentado em bancos opostos, elogiam o companheirismo um do outro. A gravidez, em sua essência, foi regada por suporte da família, dos amigos e dos professores. 
Agora com a criança incluída em suas vidas, a rotina mudou completamente. Sair com os amigos já não é tão fácil e, para conseguir algo do tipo, todo o ambiente precisa ser adaptado. Mesmo assim, Bernardo participa dos eventos junto com o papai e a mamãe. O relacionamento dos dois e formação de um lar foi um sonho que Geovanna não imaginava há pouco mais de um ano realizar tão cedo. O suporte de todos que a rodeiam foi fundamental para que ela conseguisse lidar com essa viagem de mãe em meio as dificuldades de uma graduação. Uma sorte que nem todas puderam contar.

Redação

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