Segundo relatório publicado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), as mulheres são maioria no ensino superior no Brasil. Os dados mostram que em 2010, 63% de todos os títulos acadêmicos de nível superior foram recebidos por mulheres. Atualmente, a parcela da população feminina com diploma é de 12%, ante 10% da masculina.
Apesar dos dados, nota-se que há sexismo e desigualdade entre os gêneros. Mulheres ainda são minoria em ocupações que predominam o raciocínio lógico e culturas vistas pelo senso comum como estritamente “masculinas”, na área de Exatas, como Engenharias e Ciências da Computação. Enquanto ocupações da área de Humanos ou relacionadas a cuidados e ambiente doméstico, como Terapia Ocupacional, Pedagogia, Nutrição e Enfermagem, são exercidas por mulheres em sua maioria.
Essa diferenciação é uma construção social, já que não há diferenças biológicas existentes entre homens e mulheres que causem limitações ou pré-disposições intelectuais. Para a professora doutora Nilma Renildes, do Departamento de Psicologia da Unesp de Bauru, “a questão da mulher na academia não é diferente das outras esferas de ocupação na sociedade capitalista. Nesse sentido, o machismo, como fenômeno social, estará presente em qualquer esfera onde as relações de trabalho existam”.
O machismo também se revela na violência dentro da universidade. No início deste mês de abril, quatro casos de estupro aconteceram com calouras da Unesp de Botucatu. O jornal Diário da Serra recebeu uma denúncia anônima relatando o caso. Segundo o depoimento, alunas foram levadas para uma república masculina, embebedadas, e perderam a consciência. Quando acordaram, sentiam dores e sangramento vaginal. Algumas tinham uma vaga lembrança de ter visto um rapaz sobre elas.
Assim como o sexismo, o preconceito de gênero está enraizado na cultura da nossa sociedade, refletindo-se na universidade. Apesar da discussão sobre diferentes orientações sexuais e a força que movimentos feministas e LGBT tem ganhado dentro das universidades, a heternormatividade é uma pedra no caminho da consquista da igualdade. Ou seja, quem não se enquadra no padrão heterossexual é alvo de preconceitos.
Em dezembro de 2013, Luma Nogueira de Andrade se tornou a primeira travesti doutora a tomar posse do cargo de professora efetiva da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), no Ceará. Ao mesmo tempo que o fato representa uma inegável conquista na militância LGBT, Nilma afirma que não se deve analisar somente o acontecimento em si. “Para entendermos estes fenômenos é necessário buscar compreender em que condições ela conseguiu. Uma análise mais ampla da realidade por ela enfrentada nos diria mais sobre o assunto e nos auxiliaria criar maiores e melhores condições para que outras também pudessem trilhar este caminho.”
Em meio a tantos desafios, fica o questionamento: como mudar uma cultura preconceituosa dentro da universidade? Para a professora doutora Tania Suely Brabo, vice- presidenta do Observatório de Educação em Direitos Humanos da Unesp, a universidade deve criar mecanismos que possibilitem essa mudança de consciência. “A Universidade pode contribuir muito inserindo estes temas e outros no currículo de todos os cursos de todas as áreas do conhecimento, conforme proposto no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos e nas Diretrizes Curriculares de Educação em Direitos Humanos. Pode também através de pesquisas acerca dos temas desvelando a violência e intolerância que ainda existe na sociedade”, afirma. Nilma Renildes complementa: “Reflexões são os pontos iniciais para a transformação da sociedade, porém somente a prática transformará de fato.”
É importante ressaltar que problemas da sociedade apenas são solucionados com uma mudança de cultura e de pensamento. A Universidade tem o papel de estimular debates e questionamentos que possam transgredir a cultura preconceituosa não somente em seu espaço, mas também para além de seus muros.