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Não é amor. É abuso!

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Os atos abusivos de um namoro agressivo são mascarados pela justificativa de amor e carinho. Segundo a ONU Mulheres, 3 em cada 5 mulheres sofreram, sofrem ou sofrerão violência dentro de um relacionamento

Por Caroline Roxo 

Segundo a ONU Mulheres, 3 em cada 5 mulheres sofreram, sofrem ou sofrerão violência dentro de um relacionamento. Foto: Ensaio Fotográfico feito por Caroline Roxo

Em 7 de agosto de 2006 foi sancionada a lei Maria da Penha. Esta lei federal tem como objetivo designar punição adequada e cercear atos de violência doméstica contra a mulher. A lei do Feminicídio, em vigor desde março de 2015, alterou o Código Penal, incluindo o feminicídio como uma modalidade de homicídio qualificado, entrando no rol dos crimes hediondos. 

E qual a necessidade de criar essas leis em defesa da mulher? Os motivos são mostrados em números: Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que em 2017 foram registrados 221.238 casos de lesão corporal dolosa enquadrados na Lei Maria da Penha, o que representa uma média de 606 casos por dia. O que dá, aproximadamente, 1 registro de agressão a cada 2 minutos. Segundo a ONU Mulheres, 3 em cada 5 mulheres sofreram, sofrem ou sofrerão violência dentro de um relacionamento. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de assassinatos chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres. O Mapa da Violência de 2015 aponta que, entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas morreram por sua condição de ser mulher. 

Diante números e dados alarmantes, é necessário estar atenta, pois o principal agente de agressões físicas contra a mulher são os próprios parceiros. E essa violência é um dos reflexos extremos de um relacionamento abusivo. Portanto, é essencial saber o que é e como identificar uma relação abusiva.

Muitas mulheres estão imersas em namoros violentos e não se dão conta da gravidade e dos abusos que sofrem. O psicólogo Rafael Moreton, 23 anos, trabalhou nessa área e definiu uma relação abusiva como uma relação em que há a tentativa de exercer poder sobre o/a parceira/o. “Para um membro da relação tentar exercer este poder sobre o outro este realiza abuso físico (segurar, empurrar, bater, confinar, etc.) ou psicológico (xingar, diminuir, humilhar perante outros, ofender características físicas ou não, etc.)”. Também é possível que haja um abuso financeiro e/ou sexual. E esses comportamentos costumam ser “disfarçados” de gestos de proteção, afeto ou cuidado.

As relações não começam agressivas e os parceiros não demonstram comportamentos violentos em primeiro momento. A relação abusiva aparece com o tempo, em pequenos detalhes, como ciúme excessivo, invasão de privacidade, chantagem emocional, controle financeiro, que vão crescendo e se tornado nocivos para os integrantes. Frases como: “é para o seu bem”, “me dá as suas senhas das redes sociais”, “não usa tal roupa porque está curta/inapropriada”, “não quero que saia sem mim”, entre outras, podem parecer normais e até mesmo uma demonstração de amor e carinho, mas atenção, todas elas podem indicar sinais de poder e posse. 

“Como profissional que atuou com o tema, afirmo categoricamente, relações com uso de poder existem, e a grande maioria delas (se esmiuçar bem, podemos afirmar que praticamente todas) possui relação com o machismo”, expõe Rafael, que, baseado em sua prática profissional, diz que o agressor busca poder sobre o outro. 

Quando indagado a respeito do que as vítimas relatavam com maior frequência, Rafael afirma que os abusos variam bastante em modo e intensidade nas relações. “Estatisticamente, eu não saberia especificar quais os comportamentos abusivos mais comuns, porém, dentro da minha prática profissional, pude ouvir relatos que variavam desde somente abusos verbais, até abusos verbais e físicos simultâneos. 

Obviamente, nem todo relacionamento abusivo culmina em agressão física, mas isto não significa que a vítima da relação não possa ser completamente destruída psicologicamente. Dentre os relatos mais comuns, xingamentos machistas eram presentes em quase todos, assim como os que incluíam agressão física, como segurar com violência, empurrar, socos e tapas”, expõe o psicólogo. 

         Maria (nome fictício de uma vítima de namoro abusivo), 22 anos, conta que namorou por pouco mais de 2 anos e começou a sofrer os primeiros sinais em apenas um mês de relacionamento. “Ele, de leve, criticava as minhas roupas curtas e quem eu seguia nas minhas redes sociais. Reclamava das minhas amigas e eu não percebia”, diz.

         Outra vítima, Luísa (nome também fictício), 18 anos, sofreu abuso por parte de outra mulher. O seu namoro durou 3 anos e ela, assim como Maria, também não notou os primeiros traços de abuso. Ela explica que no começo eram só elogios, e até os ciúmes eram disfarçados de cuidado, logo no primeiro mês já ouvia que não era para usar roupas curtas. “O tempo foi passando e eu fui cada vez mais me afastando dos meus amigos, e das coisas que eu gostava de fazer. Sempre gostei de me envolver em várias atividades, mas pouco depois de 1 ano de namoro, ela me pediu para sair do cursinho, do teatro e das aulas de jiu jitsu, já que essas coisas ocupavam meu tempo, e eu não tinha atenção para ela. Mesmo assim eu não me dei conta, e só comecei a perceber que nosso relacionamento era abusivo no terceiro ano”, relata Luísa.

         A história da Luísa mostra que os relacionamentos abusivos não são exclusividades das relações heterossexuais, mesmo que com menor incidência, as relações homoafetivas também estão sujeitas a terem parceiras ou parceiros violentos.

         Ambas as vítimas também relatam algo comum dentro desses namoros: confusão mental e inseguranças. As pessoas que estão imersas nesses relacionamentos se sentem sozinhas e fragilizadas. “Foi muito difícil terminar com ela, mesmo com as traições, a gente sempre voltava, eu sentia que ninguém mais no mundo ia me suportar. Me vi totalmente insegura e perdida com quem eu era”, conta Luísa. Maria, por sua vez, não conseguia entender o que estava acontecendo com si mesma. “Foi difícil sair dessa relação, durante esses dois anos de namoro nós terminamos diversas vezes, mas, na última vez, ele terminou comigo e eu passei uma semana implorando para voltamos, até que decidi superar. Porém ele começou a me ameaçar, dizendo que se mataria se eu não voltasse com ele”, relata.

         Uma terceira vítima, Fernanda (nome fictício para preservar a vítima), não deu muitos detalhes de sua relação pois, até hoje, ela se culpa por ter vivido tanto tempo (quase 5 anos) ao lado de alguém que explorava seu psicológico e a controlava de forma abusiva. “Eu deixei de gostar de quem eu era para ser quem ele queria que eu fosse”, afirma.

Sequelas e consequências de uma relação abusiva

Psicólogos alertam que relações abusivas podem gerar sequelas para a vida toda
Foto: Ensaio Fotográfico feito por Caroline Roxo

         Os abusos são vários: sexuais, financeiros, físicos e psicológicos, podendo variar conforme o que cada pessoa sofre dentro da relação abusiva. Porém, uma coisa é certa: todas terão sequelas e serão marcadas para  toda vida. “Diversos transtornos podem se desenvolver, como depressão, ansiedade (incluindo Transtorno de Estresse Pós-traumático), transtornos de personalidade, agorafobia, etc, podendo, inclusive, levar a vítima ao suicídio. No que tange os abusos físicos, podem haver desde cicatrizes permanentes, passando por perda de capacidades físicas, danos neuronais que geram incapacidades ou algum grau de demência devido a pancadas na cabeça e podendo até, em seus casos mais graves, levar à morte da vítima”, expõe Rafael. 

As próprias vítimas relatam que sofrem até hoje com o término. “Eu me sinto incapaz de manter um relacionamento, ele me deixou marcas tão profundas que não sei mais lidar com nada relacionado a amor. Três anos se passaram desde que esse relacionamento abusivo terminou e eu ainda me sinto um lixo”, narra Maria. “Sinto que ainda não consigo ser totalmente eu, pois ainda tenho hábitos que ela exigiu que eu tivesse. É como se mesmo longe ela ainda estivesse em mim. E a minha autoconfiança nunca mais foi a mesma”, explana Luísa.

Esses relatos mostram como é difícil desvincular de seu ou sua agressora e que, mesmo depois de anos (como é o caso da Maria), as vítimas ainda sentem os reflexos dos danos. A psicóloga Aline Martins, em entrevista para O Globo, ressalta o alto nível de fragilidade que um relacionamento abusivo alastra na vítima. “Às vezes, romper é muito mais difícil do que identificar, justamente porque a pessoa está com a autoestima tão prejudicada que passa a acreditar que não vai conseguir mais ninguém”, diz.

Como amenizar os danos e curar-se

A primeira Delegacia de Defesa da Mulher foi inaugurada no estado de São Paulo em 6 de agosto de 1985
Foto: Ensaio Fotográfico feito por Caroline Roxo

Mesmo que tenha sido difícil sair da relação abusiva com perniciosidade que parecem irreversíveis, confira abaixo um infográfico com algumas medidas para se recuperar dos traumas. Todos os itens citados foram baseados em conselhos e indicações do psicólogo Rafael Moreton.  

Redação

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