Plataforma abre as portas de armários luxuosos e vídeos populariza, na moda peças de grifes.
Se você é do tipo de pessoa que passa horas rolando a tela do celular em uma das plataformas mais acessadas do mundo, o TikTok, com certeza, já se deparou com um ‘Get Ready With Me‘, ou Arrume-se Comigo, na versão brasileira. A trend, que consiste em mostrar peças de seu guarda-roupa a fim de montar um ‘look’ para alguma ocasião especial, viralizou no último ano, já tendo mais de 66 bilhões de vídeos na hashtag #GRWM, abreviação do nome, e se tornou uma das mais consistentes na rede social por todo o mundo.
No Brasil, nomes como Lele Burnier, Gustavo Foganoli, entre outros, cresceram na plataforma ao abrir as portas de seus armários luxuosos e com itens que geraram, no mínimo, repercussão, se não, polêmica. Por exemplo, em fevereiro do último ano, a peça da grife espanhola Balenciaga, balaclava, se tornou uma das mais pesquisadas do mundo, ao ser usada pela influenciadora Malu Borges em um de seus vídeos. Apesar de já ser tendência entre celebridades, esse foi o primeiro momento em que a peça teve destaque popular e não somente entre aqueles que acompanham moda diretamente.
Por isso, ao investirem em grifes de todo o mundo, esses “especialistas” no ramo popularizam o espaço como uma forma de apresentar, de maneira mais simplificada que grandes desfiles de moda, por exemplo, as propostas do momento das mais elitistas marcas de luxo.
O sucesso dos vídeos, no entanto, está trazendo uma nova visão ao mundo da moda. Para as marcas, agora é interessante apostar em pequenos influenciadores, uma vez que seu espaço perpetua muito mais tendências do que as grandes celebridades globais no deteriorado Instagram, por exemplo.
Victor Corte Real, especialista em design de moda e marketing digital, analisa o fenômeno como resultados de uma nova interação entre empresa e consumidor: “As marcas devem reinventar a maneira de se comunicar com o público, de modo a seguir formatos e estilos criados e popularizados pelos ‘tiktokers’ e influenciadores em geral, para manter a relevância e seguir as vanguardas culturais e artísticas”.
Apesar disso, o especialista destaca que, mesmo muito comentado entre os seguidores e envolvidos no meio, a forma de vender moda não mudou devido ao sucesso da plataforma e seus vídeos. Esse fenômeno apenas permeia uma vertente do marketing já presente em outras redes sociais: o marketing de influência. Como Victor explica, “as mídias sociais como o TikTok facilitaram as relações de oferta e demanda e tem proporcionado fortes movimentos de acessibilidade aos bens de consumo”.
Essa influência direta nos hábitos de compra de moda, portanto, traz um novo olhar para aqueles que, de fato, estão inseridos no meio. Thainara Oliveira é estudante de moda e percebeu na plataforma um espaço de grande alcance justamente para compartilhar seus aprendizados. “O TikTok é bem mais democrático em relação ao Instagram. Comecei a criar por lá também porque conseguiria alcançar mais pessoas que de fato se identificassem comigo nesse sentido de estilo e vestimenta”, explica.
Para a jovem, que tem contato direto em sala de aula com as teorias da área, assim como sua prática tradicional no mercado de trabalho, a influência do TikTok na moda é notória e menos destrutiva do que em outras redes sociais: “Você encontra diversas pessoas que se vestem de diversas formas, então de certa forma isso vai mais de encontro a uma moda identitária. Ao mesmo tempo, no TikTok existe esse desejo de ser diferente, então vejo que, por exemplo, as influencers de sucesso da plataforma sempre têm esse ‘quê’ a mais de se destoar de uma norma”.
Apesar dessa influência evidente, a moda sempre foi um espaço elitista. Por isso, tanto para o especialista, quanto para a estudante e criadora de conteúdo, essa popularização no TikTok ainda enfrenta barreiras para, de fato, revolucionar o mercado. “O TikTok não atua efetivamente como um canal de compra e venda de produtos de moda, pensando nos modelos de marketplace. Então, não é possível dizer que somente ele seja capaz de revolucionar a forma de vender moda. Mas já é possível perceber que ele adquire um papel fundamental no processo de escolha por um produto ou outro”, pontua Victor. “O universo da moda tem problemáticas que não se alteram, por mais que a plataforma tenha essa linguagem de moda mais autêntica. Ainda, sim, essas mesmas pessoas autênticas seguem um padrão, de cor, biotipo, por exemplo. Algum movimento já está acontecendo, se ele vai refletir de fato, temos que aguardar. São passos de formiguinha tendo em vista todas as problemáticas do universo da moda, como, racismo, gordofobia, elitismo, capacitismo, etc”, evidencia Thainara.