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A batalha das torcidas organizadas

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Importância social, origem e modificações: as organizadas buscam reconhecimento de sua história

Oitavas de final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, o maior campeonato de categorias de base masculina realizado no Brasil desde 1969.  Naquele 17 de janeiro de 2016, São Paulo e Rondonópolis decidiam quem passaria de fase. Mas o jogo foi marcado pelo conflito envolvendo torcedores do São Paulo e a polícia militar. O motivo seria a superlotação do estádio Nogueirão, em Mogi das Cruzes (SP). Barras de ferro, gás lacrimogênio e torcedores tentando se proteger foi o cenário nas arquibancadas. Na confusão, haviam torcedores com camisa de torcida organizada do clube paulista. O jogo era transmitido ao vivo, e a confusão foi filmada, sendo fácil a identificação dos envolvidos. Porém, ninguém foi preso.  

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Está superlotado foi a causa da confusão. Foto: Vitor Geron

As torcidas organizadas possuem relação de amor e ódio no cenário futebolístico brasileiro. Ao mesmo tempo em que são reconhecidas pela fidelidade ao seu time e pela festa realizada durante os jogos, a violência está presente. Fernando Capez, atual presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo e citado em depoimentos da operação “Alba Branca” como responsável por receber propinas em fraudes de merenda escolar, foi um ferrenho defensor da extinção das torcidas organizadas. Nos anos 90, foi responsável por ações contra as organizadas, como o pedido de extinção da Mancha Verde (Palmeiras) e Independente (São Paulo).

Atualmente, existem cerca de 120 torcidas organizadas apenas no estado de São Paulo, segundo o site “Organizadas Brasil”.

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SURGIMENTO FISCALIZADOR

O termo torcidas organizadas ou uniformizadas aparecem no vocabulário futebolístico nos anos 1940. O futebol estava se profissionalizando e conquistando cada vez mais adeptos. Grande estádios estavam sendo construídos, como Pacaembu em São Paulo (27 de abril de 1940). “Elas surgem quase que hegemonicamente com o apoio do clube para a criação de um tipo de animação dentro dos estádios, que levassem a música e o vestuário do jogador. O termo uniformizado vem daí”, diz o historiador e professor da Fundação Getulio Vargas, Bernardo Buarque de Holanda. Além disso, o país passava por um movimento de migração muito grande, e as aglomerações das torcidas passam a ser motivo de preocupação do Estado. Inicialmente, elas tem um caráter fiscalizador. “Ela está ligada a alguns princípios que nortearam o Estado Novo. No Rio de Janeiro nós tivemos as ‘Charangas’ em 1942, em São Paulo tivemos a Torcida Uniformizada do São Paulo (TUSP) em 1940. Surgiram com o sentido de conter os excessos das massas que podem se valer das multidões que chegaram aos esportes para cometer desordem e transtornos”, fala Bernardo Buarque.

RUPTURA COM A ORIGEM

No final dos anos 1960, as torcidas organizadas passam a ter maior presença dos jovens. Surgem torcidas denominadas “Jovem”, como a Torcida Jovem do Flamengo, originária de uma dissidência da antiga Charanga em 1967. O caráter delas, antes de fiscalização, passou a ser de contestar. A torcida Gaviões da Fiel surgiu em 1969 para combater o então presidente do clube, Wadih Helú.

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CARAVANAS E SOCIABILIZAÇÃO

Com a criação do campeonato brasileiro de futebol em 1971, tiveram início as viagens das torcidas organizadas pelo país. Elas não se resumem mais aos dias de jogos, mas compõe uma nova forma de sociabilização. A professora e pesquisadora sobre futebol e violência da UNICAMP, Heloisa Helena Baldy dos Reis, diz que os jovens já fizeram o mais difícil: se reuniram. “As expectativas, os anseios e as realizações que as torcidas organizadas trazem para o jovem é, na verdade, o preenchimento de um vazio que o Estado não foi capaz de promover. E aí a torcida organizada passa a ser tudo na vida desse indivíduo. É lá que ele tem o amigo, é la que ele se sente seguro, é lá que ele tem prazer”.  

VIOLÊNCIA ESTÁ PRESENTE

De acordo com matéria do jornal esportivo Lance, são mais de 270 mortes ligada ao futebol desde 1988. Apenas 9 delas aconteceram dentro do estádio. Em 2013 foi o ano mais violento: 30 mortes provocadas por torcedores rivais.

O ano de 1988 também marca o início da criminalização das torcidas organizadas, após o então presidente da torcida organizada Mancha Verde, do Palmeiras, Cléo Sóstenes, ser assassinado. Em 1995, São Paulo e Palmeiras disputavam a final da extinta Supercopa de Futebol Júnior no estádio do Pacaembu. Com o estado em reformas e um número pequeno de policias para fazer a segurança do jogo, houve enfrentamento entre as torcidas após vitória palmeirense por 1×0. O resultado foi 102 pessoas feridas, além da morte do sãopaulino Márcio Gasparin, de apenas 16 anos.

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“Parece que a gente está falando de um segmento diferente do nosso país, e não é. Todos os problemas que a torcida organizada tem ela absorve de uma sociedade ruim, corrupta e violênta”, diz o presidente da Associação Nacional das Torcidas Organizadas, André Azevedo. De acordo com o relatório do governo federal, o Mapa da Violência mostra que o Brasil teve mais de 56 mil homicídios em 2012.

 
FALTA DE PREPARO E DEBATE

Juntamente com os confrontos entre torcidas rivais, o despreparo policial agrava a violência.

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A cobertura realizada pela imprensa esportiva também auxilia no esvaziamento do debate. Não é abordado a natureza das torcidas organizadas e o papel que elas tem na sociedade, mas sim uma cobertura vaga. É o que afirma o jornalista dos canais por assinatura ESPN, Mauro Cézar Pereira. “A imprensa esportiva acompanha o assunto de uma forma muito distante, e parte muitas vezes para a generalização. Rotula todos os torcedores organizados como se fossem bandidos, porque é mais fácil do que entender o que se passa nesse universo”.

É essencial também incluir os próprio integrantes das torcidas em debates. “Se você vai fazer um tipo de regra, é importante que os agentes que estarão sendo vigiados por essa regra participem da construção. Porque aí a regra para eles é legítima, e conseguem criar mecanismos de auto controle”, afirma Heloisa Helena.

A violência ocorrida no jogo do São Paulo, citado no início da matéria, pode ser combatida através de debates, maior preparação policial e mais punições. Mas punições aos indivíduos, e não às instituições. Resumir a violência presente no futebol apenas às torcidas organizadas, defendendo sua proibição, não contribui para melhorar o ambiente futebolístico.  “A proibição não resolve, até piora, porque ela empurra para a clandestinidade. Fica mais anárquico, mais difícil de combater”, diz Mauro Cézar Pereira.

 

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Redação

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