Escreva para pesquisar

À espera de um milagre: a fila por leitos hospitalares em Bauru

Compartilhe

Moradores aguardam por mais de 200 horas uma vaga de atendimento

“Desde sempre” é a resposta dada por bauruenses, quando questionados sobre desde quando a falta de leitos é um problema na cidade.

Em 2009 foi extinta a Associação Hospitalar de Bauru, que administrava os Hospitais de Base, Manoel de Abreu e Maternidade Santa Isabel. As instituições atendiam tanto pelo sistema público quanto particular. Se pensava que, a partir do momento em que as instituições passassem a atender somente o Sistema Único de Saúde, a situação iria melhorar. Mas não foi isso que aconteceu.

A pasta é rediscutida a cada edição da Conferência Municipal de Saúde. O último relatório divulgado, referente ao ano de 2018, abarca 340 demandas de âmbito municipal, estadual e federal. Dentre elas está a necessidade de investimento na porta de entrada da saúde pública no país: as Unidades Básicas de Saúde. 

Um levantamento feito pela Prefeitura revelou uma fila de espera com mais de 50 mil pessoas aguardando o agendamento de consultas, exames e cirurgia na rede pública bauruense em 2018. São 18 núcleos de UBS em pontos estratégicos da cidade, 6 Unidades de Saúde da Família e 4 Unidades de Pronto Atendimento, além de P.A. Infantil e Pronto Socorro Central.

Em entrevista para a TV Tem a respeito dos 6 primeiros meses de seu mandato, o prefeito Clodoaldo Gazzetta apontou a dificuldade na manutenção do sistema. 

“Só pra colocar uma UPA em funcionamento com pediatra lá no Geisel, nós estamos tirando 5 milhões de reais de uma pasta da Prefeitura para destinar para a saúde pública. Estamos destinando para a saúde exatamente porque a gente acredita que a saúde pública este ano tem que receber o maior aporte de recursos”, explica Gazzetta.

Isso de fato aconteceu. No primeiro ano da nova administração, o executivo aplicou aproximadamente 158 milhões de reais na pasta. Em 2018, o valor investido teve aumento em torno de 10 milhões de reais. Quando somadas as prestações de contas por quadrimestre, a pasta recebeu investimentos municipais na ordem de 640 milhões de reais em 5 anos. 

Apesar da Prefeitura redirecionar verbas de outras pastas para suprir a demanda da saúde pública, as unidades de saúde e hospitais na cidade não atendem somente à população bauruense. A lista de espera também é composta por moradores da região, encaminhados por falta de estrutura e vagas disponíveis em suas cidades de origem.

Ou seja: um sistema de saúde que já possui dificuldade no atendimento de seus próprios pacientes transborda em encaminhamentos regionais.

A situação mais preocupante, no entanto, é a lista de espera para leitos hospitalares. Em 2018, os parlamentares da Câmara Municipal voltaram a denunciar o descaso da falta de leitos na cidade. Durante as sessões legislativas, foram feitas diversas demonstrações de insatisfação tanto dos vereadores como fiscais da atividade do poder executivo, quanto veiculação dos pedidos desesperados dos bauruenses.

Em julho de 2018, o vereador Ricardo Cabelo (PPS) mostrou mensagens trocadas com um munícipe durante o uso da tribuna na sessão ordinária

Minha mãe passou pela UPA do Mary Dota na segunda-feira. Ela estava muito ruim, e lá dentro piorou. A diabetes dela foi para 460, os pulmões pararam e a pressão foi a 0. Foi um milagre de Deus ela ter resistido.

Aí eles entubaram ela mas como não tinham muitos recursos transferiram para a UPA do Bela Vista. Mas lá eles também não têm todo o suporte que ela precisa. Falaram que tem que ser transferida para o [Hospital] Estadual, mas lá eles dizem não ter vaga. 

Já fui na defensoria, o juiz expediu o mandado para transferência dela mas eles desobedeceram. Aí fui na delegacia e abri um boletim de ocorrência. 

Voltei na defensoria, eles abriram outra ação por desobediência e disseram que assim que o juiz der o mandado ela tem que ser transferida na hora para algum hospital, ou se não houver vaga em nenhum público, eles têm obrigação de internar ela em um leito particular.

Dias depois, ainda sem solução para a situação da mãe, o munícipe voltou a entrar em contato com o vereador:

Desculpe incomodar você de novo, mas até agora nada de eles transferirem ela. Eu estou correndo para tudo quanto é lado mas nada até agora, sempre não tem vaga em hospital nenhum. Estou com mandado do juiz e eles não querem nem saber. Eu estou desesperado já, minha mãe precisa muito ir para um hospital.

Fui me informar com a enfermeira, ela disse que não tem vaga em nenhum. Mas segundo a defensora pública eles têm a obrigação de colocar ela em algum particular. Pelo jeito não respeitam nem ordem judicial.

Josefa Pereira de Andrade morreu aos 59 anos de idade, esperando para ser internada.

A cobrança constante era para as iniciativas propostas há anos, e que ainda não haviam ultrapassado a barreira das palavras. Não aos olhos do povo.

Quem assume a responsabilidade pelo Base?

Uma das principais propostas na obtenção dos leitos necessários ao município foi feita em 2017, quando os bauruenses receberam a notícia de que o prédio do Hospital de Base seria transferido para a Prefeitura, e o Estado iria destinar recursos na implantação de um hospital-escola para a unidade da USP na cidade, graças ao curso de medicina. 

Se tratava de um esquema de contrapartida: para que o Estado investisse em um Hospital das Clínicas, o executivo de Bauru deveria assumir parte do custeio no funcionamento do HB, que precisa de 8,5 milhões de reais por mês para permanecer ativo.

Para que isso fosse possível, sem ultrapassar o limite fiscal do município na folha de pagamento, a saída proposta foi de transformar a Fundação Regional de Saúde em Organização Social (OS) e assumir a gestão. A iniciativa foi apontada pelo secretário de saúde José Eduardo Fogolin como o único jeito de a Prefeitura conseguir gerir o HB. A Fundação para o Desenvolvimento Médico Hospitalar (Famesp), que administra a verba repassada pelo Estado para a manutenção do HB, passaria a ser prestadora de serviços para o hospital.

Desde 2017, a Comissão de Saúde da Câmara Municipal, presidida pela vereadora Telma Gobbi (SD), promoveu diversas reuniões e audiências públicas junto à Prefeitura e o Departamento Regional de Saúde, de forma a acompanhar os esforços na obtenção dos leitos necessários. 

“Nas reuniões foram encaminhadas planilhas com os custos da reforma de uma ala no Hospital de Base que nos daria 16 leitos gerais e 5 leitos de UTI, além de uma ala para hemodiálise no Hospital Estadual com mais 16 leitos gerais. Desta forma, se realizadas estas demandas, teríamos uma melhora significativa em nossa cidade”. 

Durante sessão ordinária em 01 de abril deste ano, o vereador Sandro Bussola (PDT) levou um caixão para seu uso da tribuna, como forma de protesto. No dia 04, ele também montou acampamento em frente ao DRS. 

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=l7VIEt7NMBg&w=560&h=315]

Segundo o presidente da Câmara Municipal, José Roberto Segalla (DEM), a medida surtiu efeito. A demanda foi levada para o secretário estadual de saúde José Henrique Germann Ferreira. Estiveram presentes parlamentares, o prefeito Clodoaldo Gazzetta, o secretário de saúde José Eduardo Fogolin, a direitoria da Famesp e a DRS.

“A partir da ação do vereador Bussola, foi conseguida a reunião. O secretário estadual alegou num primeiro momento que estaríamos alterando um pedido que já havia sido feito, para equipar o Centrinho, trocando para o pedido de mais leitos. Pedi a palavra e argumentei para continuarem os trabalhos para providenciar o Centrinho, mas que independente disso a cidade precisava dos leitos com urgência”, explica Segalla.

De acordo com o presidente da Casa de Leis, Ferreira pediu 3 semanas para que fossem feitos os estudos necessários do que poderia ser feito. Passado o tempo, veio o anúncio de que os leitos seriam providenciados.

“Só que até o presente momento não aconteceu absolutamente nada”, conta Segalla. “Na vinda do secretário para Bauru, ele anunciou ainda que iria autorizar a recuperação do Hospital Manoel de Abreu para colocá-lo em funcionamento. Também é promessa, não há ação no momento. O que nos resta é confiar na palavra do secretário que outros já deram e não cumpriram. Não tem muito o que fazer”.

Até junho de 2019 o Hospital de Base ainda não tinha sido transferido para gestão da Prefeitura de Bauru. No momento em que esta reportagem foi fechada, o portal da Secretaria Municipal de Saúde estava registrando 26 pessoas no aguardo para serem internadas. A primeira da fila é uma mulher de 58 anos, aguardando para ser internada na ala de neurologia há 10 dias.

A redação tentou entrevista com o Prefeito Clodoaldo Gazzetta. No entanto, até o fechamento desta reportagem não obtivemos resposta.

Tags::
Redação

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Nam quis venenatis ligula, a venenatis ex. In ut ante vel eros rhoncus sollicitudin. Quisque tristique odio ipsum, id accumsan nisi faucibus at. Suspendisse fermentum, felis sed suscipit aliquet, quam massa aliquam nibh, vitae cursus magna metus a odio. Vestibulum convallis cursus leo, non dictum ipsum condimentum et. Duis rutrum felis nec faucibus feugiat. Nam dapibus quam magna, vel blandit purus dapibus in. Donec consequat eleifend porta. Etiam suscipit dolor non leo ullamcorper elementum. Orci varius natoque penatibus et magnis dis parturient montes, nascetur ridiculus mus. Mauris imperdiet arcu lacus, sit amet congue enim finibus eu. Morbi pharetra sodales maximus. Integer vitae risus vitae arcu mattis varius. Pellentesque massa nisl, blandit non leo eu, molestie auctor sapien.

    1

Você pode gostar também

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *