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A influência da mídia no desenvolvimento das crianças e o papel dos pais como mediadores

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Estudos e leis apontam limites aconselháveis na exposição das crianças aos recursos midiáticos, mas, e na prática?

A mídia está em todo lugar. Ao acordar, a primeira coisa que fazemos não é mais se levantar da cama, mas sim pegar o celular e checar as redes sociais. Em qualquer estabelecimento comercial que entramos, há uma televisão ligada. No carro, o rádio. Nas ruas, trens e ônibus, publicidade por todos os lados. Não por acaso, as crianças do século XXI, que já nascem neste contexto, apresentam características sociais moldadas pelo consumo midiático.

Obra do artista plástico Frederico Clapis ironiza o consumo midiático cada vez mais precoce -Foto: Reprodução/ Instagram: @modernb_

A empresária Camila Lemos conta que é difícil manter os filhos, de 9 e 4 anos, distantes do celular. “Eles nos vêm o tempo todo mexendo no celular e acabam imitando o nosso comportamento. Por mais que eu tente trazer atividades diferentes para eles, confesso que muitas vezes o celular acaba consumindo grande parte das atividades do dia a dia deles”, comenta a mãe.

Segundo a psicóloga Carine Ramos, é natural e saudável que as crianças estejam inseridas no mundo tecnológico, o problema é quando há um excesso e outros estímulos deixam de ser reforçados. “O excesso é prejudicial em todos os sentidos, se é a única fonte de estimulação as demais áreas do desenvolvimento terão déficits, na socialização, desenvolvimento motor, autocuidado, cognição e até linguagem dependendo do tipo de tecnologia que ela acesso por meio destes aparelhos”, explica. 

“Os prejuízos do excesso não ficam restrito ao desenvolvimento do indivíduo, mas pode envolver questões amplas de comportamento e saúde, como o sedentarismo, consumismo, imediatismo, distúrbios de sono, entre outros. Uma saída para driblar os excessos é estabelecer períodos offline diários para toda a família.”, complementa a especialista.

Regulamentação da mídia infantil

No Brasil, algumas leis regulamentam a mídia destinada ao público infantil. No caso da televisão, por exemplo, existem indicações de faixa etária indicadas para cada tipo de programação e conteúdos considerados impróprios para crianças são proibidos de serem veiculados em horário comercial na televisão aberta, por exemplo. Quando o assunto é a publicidade, um estudo da TNS/InterSciense aponta que cerca de 80% das decisões de consumo de uma família são influenciadas por crianças. Os produtos que mais chama a atenção delas são os alimentícios, seguidos por brinquedos e roupas.

Foto: Pixabay

Carine explica que é fundamental que estes desejos criados pela publicidade sejam dosados pelo adulto responsável. “A publicidade tem como objetivo criar necessidades, e esta falta (ocasionada pela própria propaganda) pode afetar a criança em diferentes âmbitos, como na socialização (todos os amiguinhos possuem aquele objeto), na auto aceitação (só sou feliz comigo mesmo se possuo tal objeto), no desenvolvimento de respeito à regras (muitos pais fazem trocas em relação à obediência de regras no ambiente familiar ou escolar). Desta maneira, não acho que o prejuízo esteja relacionado diretamente à publicidade, mas sim na significação dada a esta necessidade criada por este tipo de atividade”, comenta a psicóloga.

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) considera que o público infantil precisa ser protegido midiaticamente e é contrário a qualquer propaganda dirigida às crianças. “O Idec entende que toda publicidade que tem o público infantil como interlocutor desrespeita o princípio da identificação, pois a criança não tem condições de analisar criticamente o interesse mercadológico que existe por trás da informação direcionada a ela”, aponta o instituto em texto oficial.

Legalmente, existem alguns artigos da constituição, no Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbem a publicidade infantil. Na prática, nem sempre isso é respeitado, principalmente na internet, onde a fiscalização se torna mais difícil. Um exemplo disso são os youtubers irmãos Neto, que produzem conteúdo infantil recheado de produtos de consumo. Eles sofrem processos acerca disso, mas alegam que não estão fazendo publicidade ao apenas mostrar os produtos.

A pedagoga Marina Moreira Santos é contra esse tipo de conteúdo onde o consumo é estimulado. “Acredito que os conteúdos que propõe para as crianças fazer coisas inadequadas ou estimular o consumo não são saudáveis, mesmo porque existem comprovações que crianças não sabem discernir sobre o que é certo e errado, já que o córtex frontal delas não está totalmente formado e é nessa área cerebral que as decisões são formadas de forma adequada. Existe também um nível de efervescia de aprendizagem nas crianças que está do seu nascimento até os 3 anos e o que realmente me preocupa são crianças cada vez mais pequenas, entre 1 a 3 anos já fazendo uso desse recurso sozinhas, ao invés de estarem aproveitando as interações com meios e objetos concretos em prol de seu desenvolvimento efetivo.”

A mídia como aliada da educação

Apesar dos possíveis malefícios causados pela mídia, quando esta é usada da maneira correta e com moderação, ela pode ser uma grande aliada ao desenvolvimento das crianças. “Todas as mídias podem exercer um papel educativo e desenvolver novas habilidades na criança, no entanto para que isto aconteça de maneira satisfatória deve acontecer em conjunto com a mediação de um adulto”, reforça Carine. 

A especialista explica que, por exemplo, “revistas de colorir podem funcionar apenas como uma maneira de ocupar o tempo da criança e mantê-la ocupada, entretanto se houver mediação de um adulto, esta atividade pode desenvolver cognição na distinção de cores e formas; as habilidades de criatividade e imaginação; além da coordenação motora fina”.

Foto: Pixabay

“Conteúdos no Youtube pode, dependendo do conteúdo e da mediação, desenvolver cognição e entendimento do mundo a partir de conteúdos lúdicos, desenvolver novas habilidades nos tutoriais oferecidos e o desenvolvimento de interação social a partir da atenção compartilhada ao comentar sobre estes assuntos. Algumas músicas infantis têm como meta a assimilação de conceitos e práticas sociais, desenvolvendo novas habilidades como a linguagem por exemplo. No entanto, nenhuma destas mídias tem a possibilidade de desenvolver tais atividades sem uma mediação e acompanhamento de qualidade junto a criança”, completa a psicóloga.

É nesta onda de integração tecnológica ao desenvolvimento saudável da criança que algumas escolas já têm inserido recursos midiáticos em atividades pedagógicas. A pedagoga Marina conta que, na escola onde trabalha, são utilizadas diversos recursos midiáticos com as crianças. “As principais e essenciais são os livros e músicas, tanto que temos momentos específicos na rotina dedicados para essas mídias, momento literário e roda de música. Muitas vezes até ligamos as duas, já que muitas histórias podem ser cantadas”, conta.

Marina explica que “o propósito está em ampliar o conhecimento das crianças e, claro, abordar todos em suas particularidades, já que alguns aprendem mais com músicas, outros com livros e muitos outros com vídeos. A sala de vídeo que ainda em muitas escolas é usada sem fundamento, no meu trabalho usamos sempre com um objetivo, de ampliar a visão das crianças acerca do tema que estamos trabalhando. Logo, o propósito é sempre a aprendizagem e o desenvolvimento dos sujeitos, levando em consideração as múltiplas formas de aprender”.

O equilíbrio é a chave do sucesso

A grande dúvida dos pais, segundo a empresária e mãe Camila Lemos, é como mediar o consumo midiático dos filhos. “As crianças de hoje em dia estão cada vez mais espertas, eles aprendem a mexer no celular a na televisão sozinhos e nem sempre podemos estar constantemente junto para ver o que estão assistindo ou deixando de assistir”, aponta.

Alguns recursos disponibilizados pelas plataformas digitais podem servir como aliados para os pais neste sentido. A Netflix, por exemplo, possui uma aba “kids”, onde conteúdos impróprios para crianças são bloqueados. Assim, os responsáveis podem habilitar uma senha para ter acesso aos conteúdos voltados para adultos, impedindo o acesso das crianças. No YouTube, também já existe uma opção “kids”, que inclusive disponibiliza que os pais escolham quais conteúdos os filhos podem ou não acessar.

Foto: Pixabay

Marina comenta que, “Assim como tudo na vida, temos que ter instruções adequadas para não fazer uso inadequado das possibilidades que nos são apresentadas. A internet é assim! Crianças em hipótese alguma deveriam ter acesso sozinhas a ela, já que temos, de acordo com os conhecimentos sobre redes apresentados, algarismo que promovem conteúdos de acordo com cliques que realizamos, logo um clique errado vai trazer uma série de conteúdos com o mesmo fundamento daquele”.

“O consumo vem se tornando cada vez maior, no entanto maior no que diz respeito a dispositivos eletrônicos que, como já disse, se não forem usados de forma adequada podem ser um grande mal. Às vezes os pais estão preocupados com a rua e o vilão está em casa, nas mãos dos filhos. Não considero adequado a partir do momento que o dispositivo acaba se tornando como uma parte do corpo deles, alguns não conseguem mais fazer nada sem eles! Todos precisam viver a vida e não sobreviver nela, só se aprende a viver experienciando situações e para isso você precisa estar conectado com cada momento, o que hoje em dia é uma raridade. As crianças são a minha maior preocupação, MAS elas só fazem o que veem, sempre atrás de uma criança que não sai do celular, existem pais ausentes que também não saem do celular”, completa a especialista.

Ambas as especialistas reforçam ainda a importância de apresentar diferentes estímulos às crianças e não apenas o que o celular tem a oferecer. Isto é, alternar vídeos com músicas, livros, atividades de pintura, atividades motoras, entre outras. A idade também é um fator importante a ser levado em conta pelos pais ou responsáveis na hora de escolher atividades para as crianças.

Carine explica que “existem diversas teorias pedagógicas que conceituam  o tipo de atividade mais aconselhada para o desenvolvimento infantil em cada uma das fases. Muitas giram em torno de quatro principais conceitos: 

  • Exercício (Onde na primeira infância as crianças devem exercer atividades de repetição para adquirir novas habilidades, em relação às mídias aqui se encaixam músicas infantis, por exemplo); 
  • Simbólico (nesta fase é saudável que as crianças desenvolvam atividades de criatividade e imaginação, criar histórias, brincar de escolinha, casinha, em relação às mídias brincar de youtuber, gravar vídeos com suas próprias histórias); 
  • Construção ( nesta fase a prioridade é o desenvolvimento de conceitos centrais à cultura e habilidades de coordenação motora, com atividades de quebra-cabeça, montagem de blocos de encaixe por exemplo, às mídias desenvolveram jogos específicos para esta fase); 
  • Regra ( nesta fase é necessário o desenvolvimento do conceito de regras e limite, nos jogos de tabuleiro, por exemplo, em relação às mídias acredito que os vídeo games tem feito este papel).

Uma outra forma de utilizar a tecnologia como aliada na educação das crianças é recorrer às informações que a internet disponibiliza para os pais. Existem por exemplos diversos canais no YouTube voltado para a educação e o desenvolvimento dos pequenos. Que tal começar a desfrutar desses recursos de maneira mais saudável e efetiva?

Matéria da editoria de Cultura do grupo: Ana Marsiglia, Ariely Polidoro e Giovanna Castro.

Texto: Giovanna Castro

Redação

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