Próximo das quatorze horas da tarde, uma figura austera conduz a conversa com a seriedade impressa pelos trejeitos, pela gola de camisa alinhada e pelo cabelo chanel serrado aos ombros. A permissão de entrada no escritório é concedida por meio de um aperto de mão, enfatizado pelos dedos longos e delicados.
Ao entrar na sala, na qual se presume ser imponente e mais ornada, nota-se uma tendência às linhas retas. Aquela frieza das cores acinzentadas, que parecem a continuação de um vestuário minimalista trajado pela personalidade mais important daquele ambiente, tornam-se mais aprazíveis quando a gentileza de Telma Gobbi é apresentada no diálogo.
A mulher circundada pela tonalidade da sala cinza, que se mimetiza às cores do grisalho chanel serrado, é vereadora em Bauru. Sob seus óculos, tampouco adornados quanto o recinto, vê-se o pragmatismo e a sinceridade de um indivíduo que se moldou pela ordem e racionalidade das ciências biológicas.
Médica por formação e residente em endocrinologia, Telma possui trinta e cinco anos de atuação na medicina, enquanto o caminho político se faz mais recente e já muito precoce com trabalhos relevantes. Com dois mandatos como vereadora de Bauru, e uma candidatura a deputada estadual, a política concorre seus cargos filiada ao partido Solidariedade. Esse que se configura como um partido de centro-direita, segundo a própria filiada, é condescendente ao liberalismo econômico.
A necessidade de um grupo que conduzisse o diálogo sobre intenções estatais voltadas à educação, segurança, saúde e meio ambiente, sem que as terceirizasse, revela indícios do ideário da médica e política bauruense, que se engajou mais de uma vez naquilo que tange, principalmente, a sua área de conhecimento. Na saúde, traça um paralelo com a medicina quando propôs mais leitos ao Hospital de Base (HB), ao Hospital Estadual (HE), e a reativação do antigo hospital municipal Manuel de Abreu, como adendo ao complexo de saúde da região. Quando questionada sobre o que tornaria deficitária a saúde de Bauru, Telma reverbera a problemática e comenta que a “vida não tem preço e a saúde tem um custo”, sendo que a segunda, para ela, é subfinanciada pelo Estado. A carência no momento do atendimento primário traz ao fronte da vereadora o semblante preocupado de quem preza por uma base sólida.
Em defesa ao seu diploma, Telma regozija a vitória de ter implementado uma faculdade de medicina em Bauru. A atribuição deste curso à Universidade de São Paulo (USP), quando problematizada – visto que há um campus de uma das estaduais com a pior crise orçamentária, dentre as três potências acadêmicas do estado de São Paulo – , traz à tona uma Telma Gobbi que coça a cabeça vigorosamente. A vereadora, ao explicar que a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e a USP têm, cada uma, o seu “quinhão”, parece ignorar a proporção igualmente dividida, e desigualmente aplicada, do percentual de 9,57% do ICMS. Com o maior número de campi, a UNESP geralmente povoa as manchetes com gastos que excedem o orçamento administrado pelo estado de São Paulo. Para Telma, essa simetria pode se configurar como um equívoco.
Presente em questões ambientais, a vereadora soma ao seu currículo o cargo de presidente da Comissão de Saúde, Higiene e Meio Ambiente. Para este último item, é notória a sua participação na articulação sobre as Áreas de Proteção Ambiental existentes no entorno de Bauru. Contabilizando três, as APA’s revelam o conflito daqueles que são favoráveis ao seu usufruto, com a compensação de uma iniciativa de reestruturação ambiental.
A defesa deste modelo argumenta que a utilização das terras poderiam ser restringidas pela prefeitura e, posteriormente, reivindicadas pelos proprietários, configurando os precatórios – cobranças ao município. Esses facilmente se apresentam como válvulas para rombos orçamentários da cidade. Um outro viés ideológico argumenta que uma metragem específica para exploração, determinada por um plano de manejo, seria a medida mais conveniente à sustentabilidade. Telma é favorável ao primeiro formato.
Com uma carreira iniciada nos diretórios acadêmicos, Telma se inspira na defesa de posicionamentos. Como mulher, seja na política, ou na medicina, enfrentou ambientes machistas, os quais passaram despercebidos em sua vivência graças à sua personalidade desinibida. Apesar de haver muitas milhas a se caminhar na questão gênero, a vereadora considera que os avanços são notáveis.
A ordem não foge de sua agenda de compromissos, regrada como as linhas da sua camisa azul clara. Telma se molda à vida que ela considera “normal”: carreira política, consultório clínico, marido, filho e dança são termos que resumem a sua rotina.
A oportunidade de se mostrar como o diferencial é também impressa pelo fato de ser a única na família a zelar pela ação política. O contragosto, portanto, não foi imprevisível. A mãe projetou o surgimento de uma “bandida”, corrompida pelo amargo da corrupção. Telma, porém, desdenhou, e optou por dar passos mais severos contra o jugo que poderia se deitar sobre seus preceitos.