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Por Heloísa Kennerly e Isabela Giordan

Costuma-se pensar que um relacionamento tóxico e abusivo é apenas aquela situação clássica: uma pessoa trata mal sua parceira (o), agride fisicamente e sexualmente e tem ciúmes doentio. A verdade é que as coisas não são tão óbvias assim. Muitas atitudes abusivas podem estar disfarçadas de carinho ou amor e às vezes nem mesmo a vítima sabe o que está acontecendo.

Imagem: Joana Coccarelli / Flickr

Imagem: Joana Coccarelli / Flickr

A psicóloga Giselle Dechen explica que esses tipos de relacionamentos estão mais ligados a vínculos emocionais. “Eu defino como relações que nos fazem mal mas que temos ganhos secundários e por isso mantemos. Por exemplo, mulheres que são agredidas verbalmente e/ou fisicamente mas em contrapartida se sentem seguras e cuidadas”, diz Dechen.

Para um relacionamento se tornar tóxico, nem sempre é necessário uma agressão verbal ou física, apenas que uma das partes assuma o controle da relação. Juliana* relatou como passou meses em um relacionamento tóxico em parte, diz ela, por sua baixa auto estima. “

Ele dizia que eu era dele, que não adiantava eu fugir, que meu destino era ficar com ele

“Ele dizia que não queria nada sério, mas tinha atitudes que demonstravam o contrário, porém sempre que eu apertava, vinha com desculpas. Enquanto ficava comigo, começou a namorar outra e traiu ela comigo. Eu era apaixonada e ele me tinha na palma da mão. Ele me ganhava pela carência, sabia meus pontos fracos e jogava com eles. Eu demorei muito pra me libertar”, conta Juliana, que relata ter sentido muita vergonha na época por não dar um fim na situação. “Ele dizia que eu era dele, que não adiantava eu fugir, que meu destino era ficar com ele”, desabafa. Somente com a ajuda de amigos e muito amor próprio que ela diz ter conseguido sair do relacionamento.

“Eu comparo com um vício em drogas. Por mais que as pessoas falem, que você saiba que faz mal, tu tem necessidade daquilo”, diz Juliana. Hoje, ela afirma ter recuperado a auto estima e estar mais feliz.

Imagem: Marla Objetiva / Flickr

Imagem: Marla Objetiva / Flickr

Como identificar e sair de uma relação tóxica

Pedimos pela internet que algumas pessoas contassem suas histórias e em todas elas há um mesmo fator: a pessoa abusiva é controladora. Um estudo** da Universidade do Minho (Portugal) descreve que as relações abusivas e violentas são acompanhadas por controle de uma das partes (se a relação é heterossexual esse papel é assumido pelo homem na maioria das vezes) e tentativas de resistência por parte de quem sofre. O isolamento social e a destruição da auto estima são recursos do abusador, que tenta enfraquecer a vítima para ter mais controle sobre ela.

Para saber se está em uma relação tóxica, é necessário fazer uma reflexão e pesar os prós e contras, além de pensar nas expectativas para o futuro. “O esperado é que os relacionamentos tragam mais benefícios do que malefícios, mais paz do que estresse”, afirma a psicóloga.

O isolamento social e a destruição da auto estima são recursos do abusador, que tenta enfraquecer a vítima para ter mais controle sobre ela.

Sair de um relacionamento abusivo não é fácil e muitas vezes é um processo longo. Mesmo perceber que está em um é difícil.Tomar uma atitude sobre isso muitas vezes requer ajuda de um profissional e apoio de família e amigos. Dechen aconselha a buscar fontes de prazer fora da relação, como hobbies, exercícios e viagens. Traçar planos e objetivos de vida também é importante: “Saiba muito bem o que você quer pra si, se preciso for busque ajuda de um profissional para fazer esta descoberta. E o mais importante: só você tem o controle da sua vida, quando entendemos isso conseguimos ser felizes”, conclui a psicóloga.

E quando é caso de polícia?

Isabela* se apaixonou quando tinha 15 anos por um homem mais velho, já com 23 anos. A relação ia bem, até ela “fazer alguma coisa errada”. Qualquer coisa que ela fizesse e ele não gostasse já era errado, desde conversar com garotos na escola até ter um caderno de infância com o nome de um garoto escrito. “Me afastou de todas as pessoas, por eu ser bissexual ele também não confiava nas minhas amigas”, relata Isabela.

Os abusos eram frequentes. Ela começou a passar os fins de semana na casa dele, pois não queria que a mãe dela visse as inúmeras brigas, afastou-se de pessoas que a alertavam sobre os abusos por medo. “Defendia ele cegamente, embora eu soubesse que tinha algo errado, mas ele era ‘o cara que me salvou da merda’ E eu devia gratidão, sabe? Eu acreditava nisso”, conta Isabela. Em determinado momento, ele abusou sexualmente dela e a chantageava para realizar seus desejos.

Depois de desenvolver um transtorno de ansiedade e precisar de terapia, Isabela começou a perceber, com a ajuda da psicóloga e da família, o quanto seu namorado fazia mal para ela. Porém, quando terminou com ele os problemas aumentaram. No início ele insistiu para voltarem o namoro e com o passar do tempo foi se tornando mais violento. “Teve uma noite que eu estava nem lembro onde, e quando fui pra casa, ele começou a me seguir… Daí liguei pra polícia e falei que meu ex estava me seguindo e o policial falou pra eu procurar um conhecido porque eles tinham coisa mais importante pra resolver e estavam sem viatura”, conta Isabela. As perseguições foram aumentando, assim como as ameaças. Foram necessários dois boletins de ocorrência para que ele a deixasse em paz.

A Lei Maria da Penha pode ser uma importante ajuda nesses casos, pois ela prevê como violência qualquer ação que cause dano psicológico, patrimonial e físico, dentre outros. Ou seja: se uma pessoa sofre perseguições, chantagens, isolamento social, exploração, ou qualquer coisa coisa que afete sua saúde física e psicológica, ela pode denunciar amparada pela lei Maria da Penha.

O advogado e professor especialista em direito civil, Fabriccio Sicchierolli Posocco, explica que a lei abarca até casos que não sejam uma relação de marido e mulher. “A Lei Maria da Penha se aplica a qualquer relação de convívio familiar, mas também no âmbito das entidades familiares como um todo, no âmbito da unidade doméstica, no âmbito familiar ou ainda em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. As relações pessoais enunciadas nesta lei independem de orientação sexual”, explica o advogado.

“Não importando o sexo, as vítimas de violência física ou psicológica devem denunciar sempre a agressão, em qualquer modalidade que venha a ocorrer. Vale deixar claro que qualquer tipo de violência em âmbito familiar é injustificável e não pode ser escondida ou acobertada, pois pode gerar mais violência. Assim denuncie e mostre que você sabe valorizar os seus direitos e a sua personalidade”, aconselha Fabriccio Sicchierolli. Denunciar pode ser difícil, ainda mais quando é uma pessoa com quem bons momentos e sentimentos foram compartilhados. Mas acima de tudo, é necessário respeitar a si mesma e prevenir que ele faça o mesmo com outras pessoas.

*nome fictício

** “Violência nas relações de intimidade: estudo sobre a mudança psicoterapêutica da mulher”, por Marlene Matos, publicado em 2006.

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Redação

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