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“Brincadeira de criança, como é bom!”

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Por João Pedro Ferreira e Julia Bacelar
Em 1997, o grupo de pagode Molejo lançou o CD “Brincadeira de Criança”, com o single de mesmo nome que é um chiclete. É aquela música que todo mundo tem vergonha, mas sabe “de cor e salteado” e sempre cantarola alguns versos quando o tema criança e brincadeira são citados.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=e7PJlKdNdXk]
Mal sabia o grupo Molejo, mas sua famigerada canção marcaria a infância dos anos 90 com nostalgia, em um momento de transição de década e século. Será que é possível afirmar que hoje as brincadeiras de criança são realmente boas quanto na época de ouro do Molejão?
O século XXI é sem dúvida o século da tecnologia mais próxima de nós. Milhões de casas no Brasil possuem computadores, videogames, celulares, televisores, etc. Isso sem dúvida influenciou e influencia as crianças de hoje. Muitas mães preferem que o filho fique em casa no computador do que brincando na rua com os vizinhos, pois acham mais seguro. Há de se somar o fato de que em muitas cidades, brincar na rua é impossível, devido ao grande fluxo de carros e falta de espaços públicos para isso.
A psicóloga Ana Marta Meira alerta, que, apesar de serem as novas formas de brincar, os jogos virtuais não substituem as brincadeiras tradicionais. Ela explica ainda que as crianças que são conectadas ao mundo virtual em seu cotidiano e estão perdendo o convívio com as demais, perdem também um laço que é construtivo na infância: “É na presença que as crianças aprendem a falar, a olhar, a caminhar, a brincar, a suportar as ausências, as diferenças, a colocar seu corpo em movimento”.

Foto: Lars Frantzen/Creative Commons

Foto: Lars Frantzen/Creative Commons


Mas olhar apenas pelo lado da tecnologia nos dá uma visão parcial e generalista da infância. A educadora e socióloga Magali Reis atenta ao fato de que a infância em um espaço somente pode ser concebida no plural. Segundo ela, não é possível determinar como é a “nova” ou “velha” infância se não houver uma consulta à disponibilidade real dos aparatos tecnológicos, que são inacessíveis para grande parte das famílias do Brasil.
Apesar disso, Magali pontua: “O fato é que crianças que dispõem de um significativo aparato tecnológico tendem a ser mais reclusas e solitárias, e terem suas brincadeiras mediadas pelas máquinas”.
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É possível observar também que questões como inserção no mercado de trabalho foram modificadas. E isso se reflete na infância. Muitos pais colocam os filhos desde cedo nas mais diversas atividades como aprender a tocar piano, inglês, natação, etc.
Em “O Jogo da Vida”, a roleta determinava a casa em que você caía, e isso definia seu salário e profissão. Hoje, na vida real, se faz de tudo pra que roleta dê o melhor resultado possível. (Foto: Reprodução/VIP)

Em “O Jogo da Vida”, a roleta determinava a casa em que você caía, e isso definia seu salário e profissão. Hoje, na vida real, se faz de tudo pra que roleta dê o melhor resultado possível. (Foto: Reprodução/VIP)


Segundo o historiador Eduardo Silveira Netto Nunes, nas famílias dos anos 90, “o valor ou ética do trabalho” eram transmitidos pelas famílias, que demonstravam que a vida deveria ser ganha com ele.
Agora, acredita-se que a capacidade adquirida durante a infância e a adolescência pode ajudar a exercer um trabalho bom ou melhor remunerado que o de seus pais. Há a preocupação em fazer o máximo para que a criança esteja capacitada para qualquer trabalho, pois quando for convocada, sua vida pregressa de formação lhe qualificará para acessar as ofertas.
“Essa transição entre receber o ‘valor do trabalho’ e ‘saber trabalhar’ impactou sobre o cotidiano infantil vivido nos anos 90 e o de agora, pois no primeiro as crianças tinham maior disponibilidade de tempo para ‘ser criança ociosa e brincante’, no segundo o tempo passa a ser cada ver mais ocupado com tarefas que permitam a ‘criança torne-se adulta competente’”, explica Eduardo.
(Foto: Pixabay)

(Foto: Pixabay)


Ainda é possível fazer uma comparação midiática entre os anos 90 e agora. Se antigamente a Xuxa foi quem inseriu a criança no mercado, se intitulando a “Rainha dos Baixinhos”, e colocando seus produtos à disponibilidade delas, hoje não há alguém como a apresentadora e sim uma oferta maior de opções. “Com a Xuxa, a criança consumidora foi integrada aos meios de comunicação de massa. No Pós-Xuxa, os meios de comunicação aprofundaram de maneira exponencial essa relação e transformaram a experiência de ser criança como uma experiência de consumir produtos de uma indústria que ‘aprendeu’ a confeccionar mercadorias para um ‘mercado de baixinhos’. Ser criança, cada vez mais, será identificado com o ato de consumir estes produtos”, diz Nunes.
Ele considera essa “mercantilização da infância” uma tendência negativa, já que pode se associar a possibilidade de se ser uma criança feliz com a aquisição de um produto, e mais, cria a contingência de que nunca se é plenamente feliz, pois sempre há um novo brinquedo, um novo filme, etc.
Foto: Pixabay

Foto: Pixabay


O historiador finaliza dizendo que as crianças de hoje estão mais distantes de outras crianças e mais próximas dos adultos do que da geração anterior: “Existem novas brincadeiras e brinquedos mais intensamente midiatizadas e induzidas por uma indústria de produtos destinados ao consumidor infantil. Sabe-se muito não fazer nada. E brincar, agora, em muitas ocasiões, precisa vir com manual de instruções”.

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Redação

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