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Cenário político nacional reforça a intolerância ao diferente

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A eleição presidencial de 2014 aumentou a distância entre a esquerda e direita no país

Por Priscila Belasco e Thais Daniel Benedicto

A presidenta Dilma Rousseff foi eleita, ao final de 2014, com 54.501.118 milhões de votos pela população brasileira. O PT veio de uma sequência de três mandatos, para o seu quarto (Lula em 2002 com 61,27% dos votos; Lula reeleito em 2006 com 60,83%; Dilma eleita em 2010 com 56,05% e reeleita com 51,64% dos votos). Essa foi a eleição mais acirrada desde a volta da democracia no país: os 51,64% de Dilma, contra 48,36% de Aécio Neves (PSDB) – uma diferença de apenas 3,4 milhões de votos -, além do expressivo número de eleitores que optaram por nenhum candidato: 27% e 38,7% de pessoas, não compareceram ou votaram nulo ou em branco, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Antes disso, a disputa mais apertada tinha sido a primeira eleição direta após o período de Ditadura que teve, em 1988, como presidente, o candidato Fernando Collor (PRN – Partido da Reconstrução Nacional) com 53,03%, contra os 46,97% de Lula (PT).

Esse acirramento na política brasileira chamou a atenção de estudiosos, que chegam a comparar as eleições presidenciais no país com as dos Estados Unidos, como é o caso do professor de estudos brasileiros da Universidade Georgetown (Washington), Vivaldo Andrade dos Santos, que disse em uma entrevista à BBC Brasil, que o país sul-americano “caminha para uma polarização muito parecida com a dos Estados Unidos”, pensamento que, há menos de três anos, era algo nem cogitado devido ao sistema eleitoral de cada um dos dois países.

Estados Unidos que, hoje, passa pela disputa presidencialista entre os dois únicos partidos que existem no país. De um lado, a Democrata Hillary Clinton, primeira mulher na história a concorrer para a presidência dos EUA, e, de outro, o Republicano Donald Trump, empresário e ex-apresentador de reality show. O país vive uma disputa histórica e terá sua votação no dia 8 de novembro deste ano.

Ainda para o professor Vivaldo, há uma grande diferença na disputa política entre os países: “(Nos EUA) existe uma consciência de que se deve criar uma possibilidade de governabilidade, porque o país não pode ficar parado. Houve um momento no governo de Obama em que a popularidade dele esteve muito em baixa, mas nunca se falou em fazer impeachment por causa disso. O americano acredita no processo democrático e aceita esperar a próxima eleição.”

E não foi o que aconteceu no Brasil. O impedimento da continuação do mandato de Dilma Rousseff começou a ser discutido logo após a sua posse de reeleição, em janeiro de 2015. Em 2 de dezembro de 2015, o pedido do jurista Hélio Bicudo foi aceito pelo Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o processo se iniciou. Em 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados aprovou o impeachment com 367 votos a favor da continuidade do processo. O relatório foi enviado ao Senado, que também aprovou, em 12 de maio, com 55 votos a favor e 22 contra, a abertura do processo.

Em 25 de agosto deu-se abertura da etapa final do impeachment, em que as discussões e discursos se estenderam até o dia 31, dia em que foi concretizado, com 61 votos favoráveis e 20 votos contrários no Senado, o impedimento da presidenta eleita democraticamente com 51,64% dos eleitores. Seu vice, Michel Temer, peemedebista, assumiu a presidência do país.

Além da disputa presidencial, um dos fatores que promoveu a insatisfação popular – tanto da esquerda como da direita – é a baixa da economia brasileira, cujo o IBGE anuncia a queda de 3,8% do PIB em 2015, sendo a pior retração das últimas duas décadas. E é nesse contexto em que o brasileiro, atualmente, se encontra: em um país em que um cidadão ou é petista/comunista/”petralha”/”pão com mortadela” ou tucano/pede a volta do militarismo/”coxinha”. A polarização na política atravessou o campo político e se infiltrou na vida social, no dia a dia das pessoas.

Intolerância política

Alguns casos envolvendo famosos ou pessoas comuns ilustram o cenário nacional polarizado, em que a abertura para ouvir opiniões diferentes é diminuída e substituída por sentimentos e atitudes que não condizem com um país democrático:

1) Caso Zé de Abreu (1): o ator global foi flagrado em vídeo cuspindo em casal em um restaurante japonês de São Paulo. Segundo o ator, ele e sua esposa estavam sendo insultados pelos clientes da mesa ao lado, que diziam que seu dinheiro vinha da Lei Rouanet. Ao jornal Extra (2), Zé de Abreu declarou:  “Ele (acusador) dizia que era fácil roubar dinheiro do povo e ir gastar em restaurante japonês. O meu dinheiro não vem de Lei Rouanet. O meu dinheiro vem da TV Globo, do meu trabalho como ator. Ontem mesmo, num hotel, eu tirei mais de cem fotografias. As pessoas não costumam me tratar assim. Eu não sou ladrão. Eu sou honesto. Não preciso que ninguém venha me dar lição de moral”.

Outros artistas, como Letícia Sabatella e Chico Buarque, também sofreram acusações de defenderem o governo petista por se beneficiarem da lei.

2) Caso Dom Odilo Scherer (3): em 24 de março de 2016, Dom Odilo Scherer foi atacado enquanto celebrava missa na Catedral da Sé por uma mulher que não foi identificada. Aos gritos, ela acusava o cardeal e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de serem comunistas e estarem arruinando a Igreja Católica.

Para o cardeal, em matéria do portal G1 em 24 de março, a mulher tratava-se de alguém que precisava de ajuda.

3) Caso Juca Kfouri (4): o jornalista esportivo foi hostilizado em sua residência por suas declarações contra o impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff. Na ocasião, quatro pessoas o xingaram de “maldito, fdp e petista”, mesmo que informasse que não defendia o partido.

Em vídeo (5) publicado em 31 de março de 2016, em seu blog no portal UOL, o jornalista comparou o processo de impedimento da presidenta a um jogo de futebol, em que um dos times estaria cobrando a expulsão da capitã do time adversário, no caso, Dilma.

4) Caso mãe petista (6): a médica sulista Maria Dolores Bressan se recusou a continuar atendendo o filho de Ariane Leitão, filiada ao Partido dos Trabalhadores. Segundo sua justificativa, a médica não poderia abrir mão de seus princípios: “depois de todos os acontecimentos da semana e culminando com o de ontem (nomeação de Lula para o Ministério da Casa Civil), onde houve escárnio e deboche do Lula ao vivo e a cores, para todos verem (representante maior do teu partido), eu estou sem a mínima condição de ser Pediatra do teu filho. Poderia inventar desculpas, te atender de mau humor, mas prefiro a honestidade que sempre pautou minha vida particular e pessoal”

A polarização política também se desenvolve entre parlamentares, como, por exemplo, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). Em 2011, após o Partido Socialismo e Liberdade pedir investigação contra o deputado (7), ele usou termos pejorativos para se referir aos envolvidos: “o PSol é um partido de pirocas e de veados. Eu estou me lixando para a senadora. Eu vou responder à senadora [Marinor Brito] num papel higiênico. A imagem está lá, ela me deu uma porrada, me xingou de homofóbico, de corrupto e de assassino, daí eu estou errado, feri a feminilidade dela? As mulheres do Brasil que me desculpem, mas não são iguais a ela não”. Pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha mostra que se caso o deputado se candidatasse à presidência em 2018, ele teria 7% das intenções de voto.

(1) – https://www.youtube.com/watch?v=vl8HmPoPLL8 (a partir dos 18 minutos)
(2) – http://extra.globo.com/noticias/brasil/apos-cuspir-em-cliente-de-restaurante-jose-de-abreu-desabafa-fiquei-com-cabeca-quente-19151883.html
(3) – http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/222599/Dom-Od%C3%ADlio-%C3%A9-agredido-em-missa-aos-gritos-de-comunista.htm
(4) – http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/03/1755343-juca-kfouri-e-xingado-em-casa-por-ser-contra-impeachment.shtml
(5) http://blogdojuca.uol.com.br/2016/03/afinal-impeachment-e-golpe/
(6) http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,pediatra-causa-polemica-ao-se-recusar-a-atender-bebe-porque-a-mae-da-crianca-e-petista,10000023905
(7) http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/06/relator-diz-que-caso-bolsonaro-esta-apto-ser-investigado.html

Redação

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