Canais gastronômicos facilitam a vida de quem gosta de se arriscar na cozinha.
Por Juan Daniel, Michele Matos e Natalia Pinhabel
Não é de hoje que a internet é o melhor aliado no quesito “simplificar o nosso dia a dia”, não é mesmo? Quando surge aquela dúvida crucial, é só dar uma pesquisada e em apenas alguns segundos a resposta já está ali, pronta. Dentre as infinitas possibilidades que esse universo virtual oferece, uma plataforma que vem há muito fazendo a cabeça dos internautas e facilitando a vida de todos são os chamados vlogs.
O “vlog”, palavra que se origina de “vídeoblog”, utiliza vídeos sequenciais para comunicar. Com temas variados, essa novidade teve crescimento forte também na área gastronômica e tem inspirado muitas pessoas a se arriscarem na cozinha. Agora não há mais desculpas para cozinhar!
Criado por amadores e/ou profissionais, os canais gastronômicos se tornaram bastante didáticos e têm despertado um interesse maior das pessoas em realizar atividades na cozinha. Esse conteúdo multimídia foi a chave para que internautas ao redor do mundo compartilhassem o que gostam de fazer quando o assunto é preparar algum prato. É o caso da Paula Lumi, 26 anos. Ela, que possui um canal no site Youtube, ensina maravilhas da culinária vegana.
Paula é designer, mas decidiu criar o vlog Presunto Vegetariano quando passava por um momento de decisões em sua carreira. “Em 2011 estava deprimida e indecisa sobre o curso que estava fazendo (Design de Produto), se era mesmo isso que eu queria seguir. Gostava
muito de cozinhar, mas não tinha dinheiro para fazer um curso de Gastronomia, que é muito caro”, comenta. Mas foi com o estímulo de seu marido que a história do Presunto Vegetariano começou a ser desenhada: “Meu marido, Marco, namorado na época, me incentivou a criar um blog para compartilhar as receitas que fazia com os meus amigos e conhecidos e, alguns meses depois, sugeriu a criação do canal, para ter outra forma de apresentar este nosso conteúdo” conta Paula.
Ela, que tem a cozinha como hobby, começou bem cedo e suas produções eram, muitas vezes, baseadas em ‘tentativa e erro’: “[Cozinho] desde pequena (acredito que desde os 12). Quando me tornei vegetariana precisei aprender mais algumas coisas e passei a pesquisar mais sobre o assunto e fazer testes. Nunca fiz nenhum curso, sou autodidata e gosto de pesquisar receitas e testar”, diz.
Como Paula é vegetariana, seu canal é todo voltado para pratos que atendem a esse público, mas, também, para quem quer diferenciar em suas refeições: “Oferecemos opções para as pessoas substituírem a carne, ovo, leite e derivados na sua alimentação e não sentirem falta. É possível fazer diversos tipos de pratos sem estes tipos de ingredientes. Muitas pessoas pensam que vegetarianos e veganos se alimentam apenas de legumes e verduras e nosso objetivo é mostrar a variedade de opções que temos e oferecer mais opções para o dia a dia para estas pessoas”, comenta.
Hoje o canal de Paula conta com mais de 100 mil inscritos que acompanham suas receitas. Para ela, um grande diferencial de seus vídeos é a garantia de bons resultados das receitas. “Atualmente compartilhamos apenas receitas veganas, que testo muitas vezes antes de compartilhar. Isso gera confiança no nosso público, pois sabem que a margem de erros é mínima”. Além disso, Paula procura manter-se próxima de seus seguidores: “[o público] pode contar com a gente para solucionar suas dúvidas (respondemos praticamente todos comentários das redes sociais)”, afirma a designer.
Do lado de cá
Luana Vilas Boas, estudante de odontologia, é fã de vlogs e acompanha o Presunto Vegetariano. Ela, que abandonou o consumo de carne há quase um ano, conta que o vlog a ajudou nos primeiros meses, enquanto não sabia muitos pratos a fazer sem o uso animal. “Eu, que não tinha muita intimidade com a culinária vegetariana, aprendi a fazer vários pratos legais e que permitem que a gente não sinta falta de comer carne vermelha, tudo isso só assistindo o canal. Hoje em dia me viro muito bem na cozinha!”, afirma a estudante.
Além disso, acompanhar as receitas diretamente do vídeo fez com que o processo de aprendizagem se tornasse mais fácil: “Ver passo a passo como se faz cada receita simplificou e muito! Bem melhor do que ler livros de culinária que, muitas vezes, não dão tão certo”.
Para a chef de cozinha Mirian Mori, o uso de vlogs ajuda quem está começando a se arriscar na arte de cozinhar: “Eu acho super interessante. Se você foi num restaurante e comeu uma porção diferenciada, ou uma coisa que você gostou, às vezes você acha para comprar, mas, às vezes, você pode achar um vídeo demonstrando como é que faz”, explica. “É legal porque ensina como a pessoa pode fazer em casa, usando o que ela tem”, completa a chef.
Em alta
Os vlogs de culinária possuem diversos públicos e seguimentos. Há para quem é vegano, para quem gosta de uma comia mais elaborada, para comidas de rápido preparo… afim. Selecionamos alguns vlogs de sucesso para quem quer se arriscar na missão que é cozinhar!
– Gastronomismo
Criado pela porto-alegrense Isadora Becker, cada vídeo, sempre muito bem editado, traz referências a livros ou filmes. Uma fofura só!
– I Could Kill For Dessert
No canal Cozinha, Bossa & Malagueta, de Danielle Noce, existe uma parte dedicada especialmente para sobremesas, o I Could Kill For Dessert. Impossível resistir!
https://www.youtube.com/watch?v=eMGd7-1YilM
– Cozinha para 2
Aqui, o casal Duca Mendes e Carol Thomé ensinam receitas fáceis de fazer, sem fogão e sem complicações. E esbanjam amor!
– Rolê Gourmet
Criados por PC Siqueira e Otávio Albuquerque, os vídeos ensinam receitas simples e regadas de bom humor durante todo o preparo.
– Ana Maria Brogui
Assim como vem descrito na aba “Sobre”, o canal é o primeiro destinado a culinária do Youtube. Criado por Caio Novaes, o vlogueiro tenta mostrar que cozinhar não é tão complicado quanto se pensa.
Trabalho de verdade
Seja por ignorância sobre o tema ou preconceitos o brasileiro ainda tem o pé atrás com profissões não tradicionais, como é o caso dos vlogueiros ou youtubers.
O que parece uma diversão despretensiosa, muitas vezes realizada na cozinha de casa, com câmeras amadoras, na verdade é um mercado que pode movimentar milhares de reais em publicidade (próprias do youtube ou em parcerias com marcas de anunciantes) e, ainda, abrir portas não imaginadas no início da empreitada. Para ter uma ideia, o primeiro canal de culinária do youtube brasileiro, Ana Maria Brogui, hoje tem 1.459.553 assinantes e acumula um total de 98.015.311 de visualizações.
O que antes era um hobby, cresceu e se desmembrou num livro, numa loja virtual, num foodtruck (carrinho de comida de rua), além dos próprios vídeos, que apresentam propagandas de produtos utilizados nas receitas. Mas não se engane, toda a diversão não exclui etapas necessárias de todo o trabalho: planejamento, rotina, frequência, pré e pós-produção, dentre outras coisas, lembrando que a produtividade é diretamente revertida ao dono do canal, portanto, muitas vezes o trabalho é ainda maior do que numa empresa tradicional.
Como começar um canal de culinária?