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De Big Black a Florence And The Machine: a popularização do Indie ao longo dos anos

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O que era apenas um conceito musical pode ter virado um grande gênero sem limites e que tem ganhado um espaço de destaque nos principais festivais de música

 
Por Gabriel Oliveira

O Indie tem se tornado cada vez mais popular e não é preciso ir muito longe para perceber isso. O festival musical Rock In Rio, um dos maiores do mundo e com a sua essência pautada no gênero Rock, tem cada vez mais chamado bandas e cantores Indie para se apresentarem em seu palco principal: 5 Seconds Of Summer, Walk The Moon, Sheppard, Florence And The Machine e Phillip Phillips são atrações que fizeram parte das últimas três edições do festival.

Outro indício é o crescimento do Lollapalooza, evento reconhecidamente de bandas alternativas e que popularizou os principais artistas Indie do mundo. Na edição de 2017, o festival chegou, até então, a bater o seu recorde de público na edição brasileira, com 190 mil ingressos vendidos. Porém, em 2018, este número quase dobrou e mais de 300 mil pessoas lotaram o Autódromo de Interlagos para acompanhar bandas e cantores dos mais variados gêneros, mas sempre com a predominância do Indie no line-up.

Porém, o que fez o estilo – e não propriamente um gênero –, sempre marcado por um certo “alternativismo”, se popularizar tanto a ponto de ganhar o mercado e estar cada vez mais presente nas playlists e nos line-ups de festivais? A internet pode explicar o rompimento das barreiras e o início de um futuro sem limites para os artistas Indie.

A ORIGEM COMO MÚSICA INDEPENDENTE
O termo “Indie” nasceu na década de 80 por bandas que romperam com o mercado e com as gravadoras multinacionais, tornando-se independentes, ou seja, gravando os seus trabalhos em estúdios próprios ou não-subordinados e lançando-os para um público mais específico, limitado e fiel. Isso permitia aos cantores e bandas uma certa autonomia no plano de carreira da banda, sem influências mercadológicas na parte artística e melódica do trabalho.

Os primeiros EPs e álbuns lançados de forma independente, quase sempre, partiam de gêneros ligados ao Rock e ao Punk – historicamente, associados a quebra de paradigmas, de estigmas e de uma certa “rebeldia”. Ir contra o mercado e priorizar a parte física do produto musical era uma forma de protesto à influência das gravadoras no resultado final dos discos.

“Como boa parte dos movimentos de contracultura, o Indie surgiu no punk-rock e no hardcore. Lá nos anos 80, bandas desses gêneros, como Big Black ou Happy Mondays, foram as primeiras a romper com as gravadoras e lançar seus trabalhos com total liberdade”, afirma o crítico e produtor de eventos musicais, Matheus Pereira, 22. Ele também é um dos apresentadores e comentaristas do programa Esquina Paranoia, da Rádio UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), especializado na discussão de temas do universo da música.

Pereira também destaca o rompimento dos artistas dos anos 80 com as gravadoras: “Podemos pensar historicamente, que de certa forma foi um rompimento com o sistema vigente visto que, na década de 80, sem a internet para nos ajudar, era muito mais complicado você lançar um disco totalmente desvinculado a uma grande gravadora e ter sucesso. Acredito que era um ato de coragem.”

Para o musicista Ivan Gottardo, 33, o artista ganha em liberdade e autonomia ao romper com as gravadoras: “A influência das gravadoras e do mercado sempre foi grande e ajudou a ditar tendências no mundo da música, mas a falta dela permite ao artista poder trabalhar a sua obra de uma forma mais orgânica e livre, em sua essência realmente. Dá maior liberdade de criação ao artista e o coloca mais próximo de quem realmente aprecia a sua arte.”

“Muitos artistas sentem-se presos ou descaracterizados quando trabalham pressionados a seguir tendências que não condizem com suas convicções”, atenta Gottardo sobre a influência do mercado na produção musical.

Matheus Pereira também compartilha da mesma visão que Ivan: “De forma geral, a principal vantagem acaba sendo a liberdade do artista de lançar o álbum como deseja, desde composição até distribuição.”

O INDIE É MÚSICA ALTERNATIVA?
No início dos anos 90, o termo Indie passou por um processo de ressignificação: o que antes era música independente, com a intenção de quebrar paradigmas e romper com as grandes produtoras – mais relacionado com o modus-operandi do que com o gênero ou com a melodia –, acabou virando sinônimo de um gênero alternativo. O rock alternativo, o shoegaze, o britpop e a new wave, que fizeram muito sucesso no fim dos anos 80 e início dos anos 90, com bandas como My Bloody Valentine, The Smiths, The Stone Roses, Pixies e, principalmente, Nirvana e Pearl Jam, passaram a ser chamados de Indie.

Esta ressignificação do termo, majoritariamente utilizada pelos grandes mercados ocidentais, deu o caminho para o que podemos chamar de “generalização” (o ato de ser tornar um gênero) do Indie. Agora, a música independente passou a ter, mesmo que incorretamente, uma cara, uma figura ligada ao estilo alternativo e aos sons fortes e distorcidos das guitarras.

“O Indie acabou se tornando outra coisa. Digo, ali na década de 90, Nirvana e Pearl Jam por exemplo, passaram a chamar a atenção das gravadoras “major”, e a partir disso a música Indie não mais passava a ser conhecida como rompimento, música independente, mas sim, quase como um gênero musical. Com isso, estabeleceu-se, no senso comum, a divisão que perdura até hoje no “gênero” – entre música alternativa, associada a gravadoras, e música underground, independente”, afirma Matheus Pereira sobre as mudanças no Indie.

O primeiro álbum de Nirvana, “Bleach” (1989), foi feito na gravadora independente Sub Pop, de Seattle, e chegou a vender mais de um milhão de cópias nos Estados Unidos. Isso chamou a atenção das grandes gravadoras, sendo que a DGC, pertencente ao grupo Universal, contratou a banda para a gravação do segundo álbum, “Nevermind”, em 1991, que teve mais de 30 milhões de vendas mundiais.

Já Pearl Jam, formada em 1990, não chegou nem mesmo a gravar o seu primeiro álbum para chamar a atenção das grandes gravadoras. Foi com singles e pequenos shows que a Epic Records assinou com a banda e iniciou o trabalho para o lançamento de Ten, que vendeu quase 15 milhões de cópias no mundo.

A VOLTA COM FORÇA NA SEGUNDA METADE DOS ANOS 00
Depois de uma fase de um sucesso mais contido, o Indie voltou com tudo na segunda metade dos anos 00 e permanece até hoje como grande sucesso nas paradas mundiais. Além disso, as bandas que se denominam dentro do nicho têm participado de grandes festivais e levado públicos numerosos aos shows. Algo que, se comparado com a sua essência da década de 80 – de algo mais restrito a um público pequeno e fiel –, chega a causar certa estranheza tamanha a diferença.

Entretanto, novamente entra em cena a dúvida do que é o Indie, já que os sons que geralmente são colocados dentro do termo passaram a ser mais rápidos, com as batidas mais marcantes e com uma presença maior da voz do cantor/vocalista. E não só isso, o Indie passou a englobar vários ritmos, desde os sintéticos do eletro-indie ao uso de instrumentos como arpa, saxofone do indie-pop. É quando entra em cena as falas de que o Indie se estabeleceu como um gênero e que possui vários subgêneros – por isso as variações de instrumentos, batidas e ritmos dentro do nicho.

“Estabeleceu-se chamar as bandas que vieram dos anos 2000 de Indie, devido a bandas como Sonic Youth ou The Smiths terem ficado conhecidas por essa denominação. Mas se você parar para ver, por exemplo, dois dos grandes marcos do indie-rock anos 2000, que é o Is This It, do Strokes, e o Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, do Arctic Monkeys, são álbuns majoritariamente de garage rock. O Franz Ferdinand é post-punk revival, assim como o The National. LCD Soundsystem é dance-punk”, cita Matheus Pereira ao justificar que a denominação de Indie caiu em um senso comum e que, na verdade, grande parte das bandas fazem parte de gêneros já existentes.

Ele ainda completa: “Não existe um manual, um guia de gêneros dizendo o que é ou o que não é, mas o indie-rock e o indie-pop mais se estabeleceram como uma convenção popular do que majoritariamente como gênero, e acabou se espalhando como um gênero novo que acabava englobando várias subvertentes da música alternativa.”

Em contraponto, Ivan Gottardo concorda que o Indie se tornou um gênero: “Com certeza podemos dizer que o Indie hoje é um gênero musical, que assim como outros ao longo da história surgiu através de uma mistura de outros que existiam antes e o influenciaram até chegar ao modo como conhecemos hoje. O Rock, por exemplo, “não nasceu pedra”, foi se lapidando, se moldando com influências do blues, jazz, clássico e até do gospel. O Indie carrega também uma gama de elementos que o fizeram chegar ao ponto como o ouvimos hoje, tanto que se você pegar o dos anos 80 e os de atualmente, existem muitas diferenças entre eles.”

Atualmente, o Indie, na posição (ainda que popular) de gênero, passou a ganhar vários subgêneros: eletro-indie, indie-pop, indie-rock, folk, shoegaze, post-rock, indie-rock psicodélico e etc. Apesar de não ser este o objetivo principal do termo “indie”, os artistas destes “subgêneros” trabalham de forma muita alinhada, como se realmente estivessem inseridos em um subgênero – sendo que, em muitos casos, um acaba sendo derivado do outro (como o folk que é uma derivação do indie-pop e do indie-rock, porém em um ritmo mais lento e com uma presença mais marcante de instrumentais).

Estes subgêneros criaram seus cantores e bandas de sucesso, trabalhando de forma segmentada, ou seja, fazendo os seus sons de acordo com o “subgênero” inserido e sempre “revestida da capa” da música alternativa, que nasce para ser diferente do que já tem no mercado.

Ivan Gottardo considera que esta segmentação e este trabalho quase sempre alinhado dos artistas é uma ação natural do Indie enquanto gênero: “A partir da consolidação dele como um gênero é um processo natural acontecer isso. Fazendo outro paralelo com estilos, existem inúmeros “subgêneros” dentro do rock, do samba, do pop, etc. Faz parte dessa lapidação e da busca de cada artista por uma identidade própria.”

A opinião também é compartilhada pelo crítico Matheus Pereira, que considera um processo normal: “Acho que isso é inerente a qualquer movimento musical. Existem os artistas que vão se alinhar mais e existem os que vão sair fora da caixa. Tudo no mercado musical se baseia em influências que a banda teve, que podem ter sido dos mais variados artistas e gêneros, e isso, mesmo que inconscientemente, muda o resultado obtido no som. Lógico que não é muito bem visto aquelas bandas, por exemplo, que chupam o som da outra, fazendo uma cópia com outro nome, mas alinhamento e dissociação são presentes no indie, no punk, no emo, no jazz, etc.”

Mas afinal, o que verdadeiramente fez o Indie se popularizar tanto a ponto de quebrar as barreiras e hoje se tornar um gênero, um estilo ou um modo de ver a música tão difundido e sem qualquer limite? “Hoje em dia, as coisas mudaram, com a internet e a popularização mais rápida do que se é lançado”, afirma Matheus Pereira. Ele ainda atenta que o Indie já nasceu popular: “O indie já nasceu popular, né? Obviamente nos primórdios o underground imperava, mas Sonic Youth e Smiths, por exemplo, se tornaram bastante conhecidos conforme foram lançando seus álbuns. Eu não acho que seja uma onda, mas sim, que a música alternativa não deixa de ser um gênero que abrange uma variedade de gostos e diferentes formas de som. E é isso que enriquece ainda mais o mercado musical.”

Já Ivan Gottardo aponta a internet como uma das grandes responsáveis pela popularização do Indie: “Acho que o ponto responsável por essa popularização do estilo tem a ver com o fim das grandes gravadoras e a forma como a música é consumida hoje em dia, por meio de plataformas digitais, sem mais a necessidade do álbum físico, por exemplo, que era uma coisa totalmente dependente das gravadoras. Hoje, o artista pode gravar o seu álbum e colocar à disposição na internet com um alcance muito mais rápido e maior de pessoas e o que tiver realmente qualidade, vai se destacar.”

“Essa participação maior em festivais ou até mesmo algumas bandas podendo ser consideradas como gigantes da música, daquelas que lotam estádios, acaba sendo outro processo natural em todo o mundo, pois as pessoas estão mais perto desses artistas de uma certa forma. É uma relação mais íntima entre o artista e o público”, conclui Gottardo sobre a popularização das bandas Indie.

Redação

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