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As quermesses, além de grande tradição cultural brasileira, são valiosas formas de obter renda, e em Bauru a regra não é diferente

TEXTO DANIELE OLIMPIO E MATHEUS RODRIGO

Ano após ano, uma mesma agenda de eventos comemorativos é aguardada. Da mesma forma que, ao se aproximar de dezembro, é adequado iniciar os preparativos para o natal e o réveillon, a transição entre as estações outono – que vai do final de março ao final de junho – e inverno já é considerada um indicativo para uma das maiores festividades do Brasil. A recomendação é simples: coloque um agasalho, junte um dinheiro e aproveite, pois a temporada das quermesses chegou! Quentão, pastel, cachorro-quente, milho verde cozido e pamonha são apenas algumas das especiarias fundamentais da celebração. 

Por mais que, inicialmente, a imagem das quermesses remeta ao culto às divindades religiosas – em seu início, a festa era produzida, majoritariamente, por igrejas, como uma forma de obter lucro -, atualmente, o evento é realizado também por clubes, escolas e comunidades. E como é um arranjo econômico considerado promissor, a prática se tornou presença garantida na agenda econômica e cultural de diversos municípios, como Bauru. 

No contexto da cidade, um município com mais de 350 mil habitantes, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado em 2018, as quermesses são fenômenos populares. De acordo com um levantamento realizado pelo portal Social Bauru, apenas em junho de 2019, 17 celebrações ocorreram, variando entre diferentes entidades organizadoras como as tradicionais quermesses das paróquias de Santo Antônio e São João Batista e a festa junina do Bauru Tênis Clube, uma associação local.

Em ritmo de festa 

Pessoas sentadas em bancos, comendo as comidas típicas da quermesse de Santo Antônio, em um salão
Foto por Paróquia Santo Antônio

Situada no bairro Jardim Bela Vista, a Paróquia Santo Antônio é um local de tradição. O prédio que hoje a abriga foi construído na década de 1960, mais especificamente no ano de 1963. Talvez por conta dessa longevidade, as quermesses realizadas pelo espaço atraem um grande número de pessoas no dia do santo que dá origem ao nome da igreja, e são consideradas umas das mais famosas do município. Conforme informa o pároco da entidade Frei Ademir, em 2020 a festa completará  80 edições.

O número pode ser visto com entusiasmo e representa um contato próximo da entidade com a comunidade, inserida na organização dos eventos da Paróquia como voluntários. “É uma festa. As pessoas participam, doam seu tempo e se empenham”, afirma Frei. Outra aspecto digno de nota é a relação das quermesses com o público em geral. “Atendemos a um público que veio para festejar e que já tem aquele espírito participativo”, explica a secretária da Paróquia Carla Garcia – também voluntária nas quermesses. 

Realizada durante três finais de semana, a quermesse da Paróquia Santo Antônio conta, estimativamente, com 300 voluntários, que trabalham durante o dia, confeccionando os produtos,  para que, às 19hrs, quando começam os eventos, tudo esteja pronto. Por ser um número substancial, conta com pessoas de diferentes idades, por vezes, frequentadores ou amigos de frequentadores da igreja. “Em 2019 houve uma renovação com até mesmo a juventude trabalhando”, aponta o pároco.

Para a organização são delegadas algumas equipes, que se responsabilizam pelas ações de logística e negócios. Após os dez dias de evento (31/05, 01, 02, 07, 08, 09, 13, 14, 15 e 16/06), os ganhos são revertidos na manutenção da sede, isso é, para o pagamento de contas mensais e gastos administrativos da paróquia. Conforme informa Frei, no dia de Santo Antônio (13 de junho) deste ano estima-se que dez mil pessoas tenham passado pela quermesse; um número expressivo que faz jus a um estudo conduzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que aponta um crescimento de 3,7% nas vendas do setor em 2019.

Foto por Paróquia de São João Batista e Nossa Senhora de Lourdes

Em perspectiva semelhante, encontra-se a Paróquia São João Batista e Nossa Senhora de Lourdes. Fundada há 15 anos, a igreja tem uma forte tradição de culto à figura de santo católico João, o que, conforme diz a tesoureira Andreia Moraes, foi o que originou o desenvolvimento das festividades. Por mais que haja uma forte relação com divindades cristãs, a celebração não é, como ocorre com a Paróquia de Santo Antônio, restrita somente ao dia do padroeiro. Realizada em nove dias – 09,15, 16, 21, 22, 23, 24, 29 e 30 de junho -, as quermesses contam com doações de integrantes da igreja e de pessoas da comunidade. Apesar de não ser uma situação ideal, a verba conquistada é revertida para a manutenção da nova matriz da paróquia. 

Movimentando recursos e atraindo pessoas, as quermesses são, portanto, celebrações capazes de mobilizar comunidades, representar culturas e gerar ganhos econômicos. No caso da Paróquia São João Batista e Nossa Senhora de Lourdes , a criação da entidade deu-se por meio da união de comunidades religiosas na região do Jardim Bela Vista. Hoje, conforme expressa Andreia, essa comunidade se encontra engajada na promoção das festividades do mês de junho.

Um suporte estrutural

Apesar de iniciativas de ganho cultural e econômico, a realização de ambas as quermesses ocorrem de maneira interna, sem nenhum vínculo com entidades do poder público. Questionado a respeito de algum suporte proporcionado às quermesses da cidade, o diretor do Departamento de Ação Cultural da Secretaria da Cultura de Bauru Paulo Pereira salientou que enxerga a importância da realização da atividade em âmbito local. Entretanto, apontou que a administração é capaz de proporcionar apenas auxílio estrutural. “Ajudamos os eventos que requisitam apoio da Secretaria. Esse ano, 5 solicitaram nossa ajuda, que ocorre por meio do empréstimo de caminhão-palco, equipamentos de som e banheiros químicos”, explica.

Por serem atividades de mobilização popular, diversas quermesses já foram realizadas, patrocinadas ou divulgadas por administrações municipais como um meio de obter renda e incentivar a cultura local. Afinal, muitas vezes, uma quermesse pode ser um representante da culinária, arquitetura e história local. “Por volta de 8 anos atrás, Bauru realizava uma festa junina especial na cidade, que ocorria no Sambódromo”, relembra Paulo. Entretanto, ele indica que, no momento, não há projeção para eventos futuros dessa natureza e, caso venha a ocorrer, a medida depende de decisões da Administração da cidade e de instâncias superiores.

Em foco

Nesse contexto, apesar de serem métodos de obter recursos financeiros de uma maneira alternativa e, muitas vezes, criativa, para as entidades organizadoras, as quermesses permanecem sendo vistas como uma prática, muitas vezes, restrita à entidades religiosas, em geral de origem cristã. Dessa forma, por mais que, atualmente, tenha se disseminado de forma progressiva por outros ambientes como clubes e escolas, e tenha, conforme projeções da Associação Paulista de Supermercados (Apas) de 2016, presenciado um crescimento entre 10% e 15% nas vendas de alimentos e especiarias do setor, ainda ocorre pouco investimento e estudo nas potencialidades do evento.

Assim sendo, muitas vezes, casos como a Paróquia de Santo Antônio e a de São João Batista no município de Bauru fazem sucesso e se mantém em desenvolvimento nas comunidades locais. “Estou há quatro anos no controle da Paróquia. No primeiro ano, tivemos um bom resultado, no segundo melhor, no terceiro ainda mais produtivo e, esse ano, superior aos outros. Então, dá para perceber um avanço e a cada ano aumenta o número de pessoas, participação e empenho dos voluntários”, explica Frei Ademir. 

Apesar disso, todo esse avanço ocorre de forma ainda pouco significativa, não trazendo melhorias efetivas para as contas públicas da cidade, que poderiam se beneficiar de iniciativas alternativas como as quermesses. Questionado sobre a perspectiva de ao menos um estudo sobre o tema, o diretor do Departamento de Ação Cultural da Secretaria da Cultura de Bauru Paulo Pereira deu uma breve declaração. “A Secretária da Cultura não realiza esse tipo de estudo para observar a as condições econômicas de um evento”, apontou.

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Redação

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