As discussões políticas nas redes sociais começaram em 2014, nas eleições que nomearam Dilma Rousseff novamente como presidente da República. Desde então, as pessoas passaram a ter desentendimentos e, muitas vezes, se insultarem nos portais de notícias, nas páginas do Facebook, através de manifestações no Twitter e comentários no YouTube. A onda de posições ideológicas acabou separando amizades e causando intriga em diversas famílias. Quatro anos depois, a briga continua, somada a novos eventos: grupos de Whatsapp e compartilhamento de notícias falsas (chamadas de fake news). Resta saber: esse engajamento é consciente ou fruto de uma desinformação sobre a realidade do país?
Alguns séculos atrás, as discussões políticas eram feitas por meio de reuniões em estabelecimentos, divulgações de folhetins e outros meios de comunicações mais difíceis de abranger grandes multidões. Segundo o historiador Maximiliano Martin Vicente, hoje há uma socialização maior das informações e, com isso, as pessoas se preocupam mais. “Hoje, o acesso às informações permite que você tenha mais contato com todas essas notícias e obviamente as pessoas se manifestam muito mais. Nesse ponto, muito melhor hoje que antigamente. No entanto, o maior dilema das redes sociais é que a gente não tem controle de qualidade”, explica Vicente.
Fake news
Não é raro encontrar links compartilhados nas redes sociais – bem como em grupos de amigos e familiares no aplicativo de conversas online Whatsapp – notícias falsas que, ao invés de serem checadas cuidadosamente, seguem a corrente de divulgações após uma rápida leitura da manchete. Maximiliano aponta que desde o início do jornalismo as matérias falaciosas existem e “a ideia é sempre a mesma: atacar o outro, desmoralizar, difamar ou minar a imagem do outro candidato”.
Para não ampliar a divulgação das matérias errôneas, existem algumas dicas a serem seguidas. Primeiramente, desconfie se a notícia for muito estranha e não houver amplitude do assunto em outros meios de comunicação (como televisão, rádios, jornais e revistas), se a manchete traz letras garrafais (uma prática não usual no meio jornalístico), se há fontes duvidosas (como “anônima” ou “confiável”, mas não são citados os nomes). “São alguns cuidados que a gente sempre alerta, que são simples, qualquer um pode fazer e que ajuda a você não espalhar”, indica Maximiliano.
Ofensas pessoais
Um aspecto notório na maioria das discussões políticas é a pouca quantidade de dados e argumentações e muitos insultos a pessoa com quem se está conversando. É neste momento que o historiador esclarece que se perde a democracia: segundo Maximiliano, a tolerância e o respeito são fundamentais na sociedade. O debate não significa ignorar suas crenças e abandonar suas opiniões, mas é saudável que ambos indivíduos envolvidos argumentem suas visões de mundo e não “já chegar atacando, pois, nessa discussão, é o candidato que ganha repercussão, popularidade. Às vezes, são os candidatos que provocam, porque é interessante para eles estar na mídia”, aponta o historiador.
Por isso, a conversa saudável é baseada em fatos, notícias corretas, dados e argumentações. Thiago Nunes é um usuário da rede social Facebook que esteve em um debate recente nos comentários de uma notícia e, procurado pela reportagem, contou sua visão sobre uma discussão política saudável. “Embora a maioria se mostre irredutível em mudar de opinião sobre posicionamentos gerais na internet, discutir as motivações que levam cada um a optar por ser a favor ou contra certas ideologias políticas eu considero muito importante. Dá chances de ambos os lados repensarem seus posicionamentos, ouvirem o outro lado e fazer uma autocrítica”. O outro envolvido na conversa não se manifestou até o fechamento desta matéria.
Indivíduo ou nação?
Desenvolver uma discussão política saudável não é apenas pensar nas ideologias pessoais, mas, como os pensamentos divergentes podem interagir e trabalhar em conjunto para que o país se constitua em uma união, beneficiando todos os cidadãos. Contudo, a falta de informações e conhecimento sobre o funcionamento das eleições e do governo pode ser apontado como um agravante, uma vez que muitas pessoas pensam que as disputas na urna significam a extinção do outro partido, suas ideais e propostas. A realidade é que existe uma grande diversidade de pensamentos nos congressos, o que permite que a democracia seja possível, uma vez que a idealização de um partido único pode resultar em um poder totalitário.
Ou seja, as discussões saudáveis, para Maximiliano, são importantes para entender o processo político do país e questionar o funcionamento do modelo, uma vez que a essência do discurso é argumentar se o modelo representa a todos e prestar muita atenção em quem se vota. Para Thiago Nunes, “assim que os ânimos esfriarem, colocarmos nossas paixões e aversões de lado, e conseguirmos fazer de debates de ideias e conversas saudáveis sem precisarmos declarar guerra, daremos um passo importante para evoluirmos e aliarmos o que nossas opiniões têm de positivo com o que demais opiniões têm de positivo também”, declara.