Presente em várias universidades brasileiras, as empresas juniores oferecem serviços de alta qualidade e uma promissora porta de entrada para empreender
Preços baixos e qualidade de serviço igual ou maior que de empresas seniores. Esse é o principal eixo que norteia o desenvolvimento das empresas juniores no Brasil. No país, tal modelo de empreendimento vem crescendo e está presente em vários setores da economia.
Contando com mais de 20 mil membros, as EJs se destacam por serem geridas por jovens universitários dentro da própria universidade. Seus serviços são oferecidos a micro e pequenos empresários, que encontram nesses empreendimentos uma oportunidade de otimizar algum processo necessário dentro de seu negócio por um preço mais acessível. O resultado disso é uma via de mão dupla.
“Tanto o empresário, quanto os estudantes ganham fazendo os serviços das EJs”, observa Luis Felipe Silva, graduando de Jornalismo na Unesp em Bauru. O estudante fez parte da empresa júnior de seu curso durante dois anos e, após esse período, ingressou como diretor no Núcleo Bauru – que gere todas as EJs na cidade.
Como surgiu?
França, 1967. Sentindo a necessidade de estarem mais próximos com as ferramentas mercadológicas, alguns estudantes da Escola Superior de Ciências Econômicas e Comerciais (ESSEC – L’École Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales) resolveram criar a Junior ESSEC Conseil. O objetivo era trazer para dentro dos muros da universidade uma experiência real acerca do mercado de trabalho.
A ideia de aplicar conhecimentos teóricos em habilidades práticas sem, necessariamente, sair do ambiente acadêmico foi um sucesso e difundiu-se por todo o mundo. Aqui no Brasil, o projeto chegou em 1988 na Fundação Getúlio Vargas (FGV), na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
O conceito de empresa júnior é, basicamente, ser uma associação civil sem fins lucrativos, atrelada obrigatoriamente a uma instituição de ensino superior e que aproxime o graduando do mercado. Sob a orientação de um professor e compreendendo uma ou várias áreas de atuação, os alunos desenvolvem atividades para uma determinada carteira de clientes. Os custos cobrados pelo serviço retornam como investimento no escopo da própria empresa e seus participantes – a exemplo de treinamentos, workshops, infraestrutura etc.
E é exatamente no baixo valor agregado que está o maior atrativo na contratação de uma empresa júnior. No entanto, para além disso, o contratante auxilia quando se trata do impacto na própria economia.
“Tínhamos projetos que auxiliaram desde pessoas de baixa renda, com a regularização de seus imóveis, até pequenos e médios empresários que buscavam projetos a um preço acessível e com potencial de execução”, relata Thiago Ibanhes, estudante de Engenharia Mecânica. Ainda, segundo ele, a EJ onde trabalhou era responsável por projetos que foram negados por outras grandes empresas por incapacidade de realização.
Os números das EJs
O boom do novo modelo de empreendedorismo foi tamanho que órgãos reguladores passaram a existir, não só para amparar e regulamentar as ações das EJs, como também para reunir dados e estudos sobre o tema daquelas que estão associadas. Daí então, surgiu o Movimento Empresa Júnior – MEJ, que no país é coordenado pela Brasil Júnior, entidade de nível federal.
De acordo com o Censo realizado pelo Movimento Empresa Júnior – MEJ, em 2015 eram 171 EJs no Brasil confederadas, ou seja, que fazem parte do órgão federal do segmento. Dentro delas, a soma dos projetos feitos naquele ano foi de 2.772, o que representou mais de R$ 7.700.000,00 em faturamento no total.
Outros dados, reunidos e analisados pelo mesmo órgão em no Censo de 2016, dividiu o faturamento dos negócios e os dividiu em clusters – agrupamento feito com base em algum indicador. O resultado dessa pesquisa mostrou que os estudantes conseguiram nadar contra a maré de retração econômica daquele ano, considerada a pior da história brasileira: o PIB Júnior fechou em mais de R$ 11.000.000,00. Na época, mesmo com a baixa de investimento e recessão em todos os setores da economia que o país passava, o segmento júnior conseguiu aumentar para 4.865 a sua quantidade de projetos, o que representa mais serviços oferecidos ao micro e pequeno empresário convencional.
O fenômeno empreendedor
Esses números representam uma tendência que vêm aumentando nos últimos anos. Desde 2010, o empreendedorismo jovem é uma linha crescente, conforme a pesquisa GEM, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 2017.
O órgão constatou que 57% das pessoas empreendedoras iniciantes têm entre 18 e 34 anos. Neste cenário, o empreendedorismo digital se destaca, pois é uma modalidade que não exige muitos custos.
Outro levantamento, também realizado pelo Sebrae, mostrou que, atualmente, grande parte dos jovens que empreendem, além de tomarem tal decisão com bastante antecedência, já entram no mercado previamente capacitados. Neste quesito, as empresas juniores entram como propulsoras para os estudantes. “Além de você dar toda essa experiência para o jovem universitário, quando ele chega ao mercado de trabalho, já tem uma vivência, por mais que não seja sênior”, complementa Luis Felipe.
Entretanto, há um contraponto dentro deste fenômeno. Por que, mesmo com altos faturamentos, existem projetos não realizados pelas empresas juniores? Arthur Finatti, jornalista, afirma que logística e portfólio foram algumas das dificuldades que encontrou na sua gestão. “Dependendo da localização do cliente não conseguíamos chegar até ele. Além disso, haviam outros que pediam demandas que não competiam a nós, como estudantes do curso de jornalismo”, relata.
De acordo com o Censo de 2016 do Movimento Empresa Júnior, falta de habilidades, por estas estarem fora do conhecimento técnico dos funcionários, foi o segundo maior motivo pelo qual 63% das EJs recusaram determinados trabalhos. Outro apontamento que figurou a pesquisa está a falta de apoio dos professores.
Diante de tais resultados negativos, é preciso levantar algumas questões. As universidades estão preparadas para comportar esses modelos? Segundo Luis Felipe Silva, não. “O que eu acho é que precisa haver uma mudança de mentalidade em relação à atuação das EJs, possibilitando que elas tenham acesso aos recursos (pessoais e físicos), para poderem desenvolver projetos benéficos, tanto pra comunidade, quanto para os próprios alunos”, pontua.
Luis detalha que, quando a universidade não fornece condições suficientes para o progresso desses empreendimentos, como materiais e amparo, eles ficam reféns de preços que não condizem com o serviço. “Nós vendíamos planos de comunicação por R$220,00, quando, na verdade, eles valiam R$1.300,00”, complementa. A falta de infraestrutura também era um fator limitante para o conhecimento de mercado da região. “Sem material necessário, não há como realizar uma pesquisa de mercado, e sem conhecer a economia local, não há como fortalecê-la”, finaliza Luis Felipe.
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