Após 53 anos do início do embargo econômico, os países avançam nas relações comerciais e diplomáticas
Conhecido como “el bloqueo”, o embargo dos Estados Unidos a Cuba foi uma medida tomada pelo governo norte-americano em 1962 com o objetivo de impedir relações econômicas, financeiras e comerciais entre os dois países. Passados 53 anos do rompimento, o presidente norte-americano Barack Obama e o cubano Raúl Castro anunciaram em dezembro de 2014 que os países retomariam as relações diplomáticas.
Entre as atitudes tomadas desde dezembro, estão o fim dos processos burocráticos para ida a Cuba e a soltura de três prisioneiros americanos, suspeitos de espionagem, que estavam na ilha. A mudança mais recente e, talvez a mais significativa até agora, foi a reabertura das embaixadas em Washington e Havana, que aconteceram no dia 20 de julho.
Para Alfredo Juan Guevara Martinez, doutorando do Programa de Relações Internacionais San Tiago Dantas (SP), a reabertura das embaixadas é o marco zero de um degelo das relações entre Cuba e os Estados Unidos. “Apesar de estarem ocorrendo transformações políticas leves em Cuba, isso só está acontecendo porque Fidel Castro e seu palanque político original estão muito envelhecidos. Mudanças eram inevitáveis, mas a curto prazo as transformações não vão ser radicais”, explica o pesquisador.
Edgar Bisset Alvarez, cubano e doutorando de Ciência da Informação na Unesp de Marília, alerta que a retomada das relações entre os países deve ser analisada com cuidado, uma vez que “o governo cubano não vai aceitar que interfiram na sua forma de governo e o governo americano só está procurando outra forma de promover mudanças políticas e sociais em Cuba, como foi dito pelo presidente dos EUA”.
O pesquisador cubano explica que havia muita resistência da oposição a abertura promovida pelo governo de Barack Obama. Segundo Edgar, um dos fatores por trás da resistência dos políticos, em sua maioria republicanos e descendentes de cubanos, estava o fato de que os conflitos dos EUA com Cuba sempre foram lucrativos para os americanos uma vez que “o governo estadunidense dedicava milhões de dólares para ações desestabilizadoras contra Cuba”.
À espera do fim do embargo
Mas apesar retomada diplomática, o embargo econômico ainda não chegou totalmente ao fim. Durante seu discurso, em dezembro de 2014, Barack Obama explicou que “o embargo que vem sendo imposto há décadas hoje está codificado na legislação. À medida que estas mudanças se concretizam, espero engajar o Congresso numa discussão franca e séria sobre a suspensão do embargo”. Como a decisão depende tanto do Congresso norte-americano como do governo cubano, as relações econômicas entre os dois países não serão reestabelecidas da noite para o dia. “Acredito que vai ser um processo lento, porém, mesmo que esse processo encontre muitos obstáculos na burocracia estadunidense pra evoluir para a normalização total, esse é um marco inicial histórico que não pode ser desconsiderado”, afirma Alfredo Juan.
A retomada de relações e o possível fim do embargo afetarão as vidas dos cidadãos cubanos de maneira positiva, tanto num contexto global como nacional. A recuperação econômica do país é iminente, mesmo que até o momento só o turismo tenha de fato sido influenciado pela mudança diplomática. “Do ponto de vista financeiro, o turismo nos últimos 50 anos tem sido uma das principais atividades econômicas que sustenta a economia cubana”, explica Alfredo Juan. O isolamento do país não influenciava apenas o aspecto financeiro, mas também o cultural. Segundo Alfredo, “num contexto global, essa atitude [retomada de relações] reapresenta a oportunidade da cultura cubana se inserir na modernidade da globalização e voltar a interagir com o ambiente internacional de forma mais íntima”.
Edgar Alvarez acredita que o acesso a novos recursos e tecnologias, juntamente com a mão de obra qualificada de Cuba, irá possibilitar o avanço da sociedade do país, que hoje sofre com as carências de diversos produtos. “Faltam produtos de higiene pessoal, a alimentação é um desafio do dia a dia, o desenvolvimento tecnológico é muito precário, o transporte, o acesso à internet, ente muitas outras coisas. Todas essas carências fazem com que o cubano todo dia tenha que se reinventar”, conta o doutorando.
Os Estados Unidos também se beneficiarão economicamente com o encerramento do embargo. A iniciativa Engage Cuba estimou que a mudança vai resultar num incremento de mais de 4 bilhões de dólares por ano nas exportações dos EUA para Cuba. Hoje, o comércio entre os países ocorre apenas no contexto da ajuda humanitária e chega apenas aos 300 milhões de dólares.
Parabéns pelo texto. Sério, informativo e contendo dados que nos ajudam a tentar entender esta parte da história entre os dois países.
Você errou na bandeira colocada na imagem essa é a de Puerto Rico a de Cuba é parecida mas os cores mudam.
Obrigada Edgar, vamos corrigir. Agradecemos a participação e auxílio.