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Entre um pão de mel e um caminhão de mudança

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Por Ana Luisa Hernandez e Thuany Gibertini
A história de uma garota corajosa que aprendeu a cuidar de si mesma para viver em Bauru
A porta de um pequeno apartamento se abre e lá está Bárbara, uma garota de 22 anos, magra, de baixa estatura, vinda de São José do Rio Preto, com um largo sorriso no rosto e com grande receptividade nos pede para entrar. Sentamos na mesa e ela fala sobre vários assuntos muito animada. Ela sempre teve muitas dúvidas sobre o futuro e para conseguir ter sua própria vida e realizar sua graduação no ensino superior, teve um caminho longo até aqui.
Quase em seguida, se levanta e vai fazer pão de mel, dos que costumava fazer para vender e ajudar na sua renda. Na cozinha, enquanto pega os ingredientes para o bolo conta:
Bauru nunca esteve na minha cabeça. No vestibular eu tinha bolsa em um colégio particular voltado para isso. Antes de entrar eu já pensava em fazer algo lá mesmo. Eu curtia bastante o ritmo de lá, estudava bastante. Na época queria fazer ITA e na minha escola, se suas notas fossem boas você poderia escolher 3º ano normal ou 3º ano tipo cursinho.
E lá se foram três xícaras de trigo na vasilha.
Fiquei quase meio ano nesse do cursinho, uns 3 meses mais ou menos. Na época eu namorava e o relacionamento já era bem abusivo desde aquela época e começaram a surgir umas brigas por eu não dar atenção para ele por que eu estava estudando muito.
Uma xícara de açúcar.
No ITA era majoritariamente homem, o cursinho era predominantemente de homens. Meu namorado era da mesma escola mas tava no 3º ano normal e eu estava muito desgastada com isso e também com meus pais que cobravam muito de mim. Mudei pro 3°ano normal mas precisava de uma desculpa muito boa para os meus pais por que eles não iam aceitar de jeito nenhum.
Meia xícara de chocolate caía na receita enquanto as palavras continuam saindo da boca de Bárbara.
Eu não queria, mas falei que queria fazer química pra falar que o cursinho ITA não atendia às demandas de estudo para a química.
Uma colherzinha de bicarbonato de sódio que, neste momento, é uma substância muito usada nas mãos da estudante de química para experimentos, e cai no pote apenas para adoçar bocas.
Demorou muito tempo, um mês todo para eles entenderem essa mudança e aceitarem os outros vestibulares e eu falei química porque a única coisa que me chamava atenção naquela época além da engenharia aeronáutica. – Ela faz uma pausa, esfrega o rosto com a parte de trás da mão e segue rindo – Graças a deus não fui.
Mais uma colherzinha de cravo em pó vai para a vasilha.
Na época eu não sabia que era relacionamento abusivo.
E lá se vai mas uma pequena colher de canela em pó.
Eu gostava muito de perícia, tanto que se eu tiver que atuar em bacharel eu quero atuar nessa área.
Bárbara pega uma panela, coloca uma xícara e meia de leite dentro e põe no fogão para aquecer, e enquanto espera, conta mais um pouco de sua história:
Eu consegui voltar pro 3º ano normal sem prejuízo e terminei. Namorava fazia um ano e meio, e eu ainda tinha problemas no namoro e com a família. Aí aconteceu algo péssimo na prova do UNICAMP mas eu já sabia que ia passar em alguma. Na prova da UNICAMP saímos 1h antes de casa e meu pai passou no posto abastecer e a bomba estava quebrada. Quando saímos eu perdi o horário da prova e meus pais me xingaram falando que a culpa era minha. De outubro até janeiro era só revisão na escola e o castigo dos meus pais, que sempre me cobraram nota, era que eu não ia mais no colégio; a gente brigava muito por que eu só queria ir estudar. Era o castigo deles por que eu gostava de estudar. Eles falavam muito sobre eu ter perdido a prova. Na prova da USP eu entreguei em branco e fui embora. Nas provas de 2° fase, fui para a próxima fase da UNESP mas estava revoltada ainda com tudo e fui fazer o caderno que eu menos sabia que era o de português. O caderno de matemática eu fiz uma questão para não zerar e… estou aqui agora. Eu tinha ido bem na 1° fase. Passei também na UFRJ e na UFSCAR pelo ENEM.
Ela conta tudo rindo, como se fosse muito cômica a história toda. Agora retira o leite morno do fogão, acrescenta na tigela com os outros ingredientes. Enquanto vai pegar o mel continua:
Quando eu passei, falei as opções para os meus pais e eles falavam que eu não ia sair de casa, falaram que eu não ia fazer faculdade, ia arrumar um emprego lá na São José mesmo e fiquei revoltada.
Acrescenta meia xícara de mel à vasilha.
Ninguém da minha família tinha feito faculdade antes então pra eles era absurdo eu sair de casa. Meu namorado na época tinha passado em Bauru na UNESP e na UFRJ em educa [educação física] e eu tinha duas opções, sabendo que ele viria junto comigo e na época fazia sentido vir com alguém. Aí meus pais não deixavam eu ir pra lugar nenhum. Eu fui pra casa do Gabriel e ele falou que os pais dele iam se mudar com ele, vender a casa lá e ir embora aí eu falei que ia junto. Arrumei minhas coisas e falei pros meus pais que eu estava indo com eles. Demorou um tempo para eles aceitarem.
Bárbara mexe tudo com as próprias mãos com muita facilidade, provando que já fez a mesma receita várias vezes.
Depois disso eu brigava bastante com meus pais, ameaçaram falando que não iam me ajudar. Eles não aceitavam meu namoro e eu e meu namorado só brigávamos então estava tudo uma merda. Mas eu pensava que seria melhor fora de casa.
Ao terminar de mexer ela pega várias forminhas e começa a untar uma a uma com manteiga colocando nas assadeiras enquanto continua contando sua história.
No fim isso deu bom porque o meu relacionamento com meus pais é maravilhoso hoje em dia mas levou um tempo. Eu vim para cá e meus pais me mandavam R$300 todo mês e os pais do Gabriel não me cobraram nada para ficar na casa deles aqui. No começo a mãe dele me levava e buscava da UNESP e eu me sentia desconfortável, não me dava bem com ela, mas vim junto porque era uma brecha. Eles compravam tudo no mercado e eu tinha que comer as coisas deles. No primeiro mês foi aceitável e depois ficou muito ruim. No carro ela ficava me falando coisas para mudar a cabeça dele e eu dizia que não ia falar e deixava o meu relacionamento ruim. Agradeci a ajuda dela e falei que ia de ônibus para a faculdade. A gente morava no bairro Jardim América e eu pegava dois ônibus por trajeto.
Segue untando as forminhas.
No primeiro semestre as aulas acabavam cedo; no segundo semestre acabavam mais tarde e eu chegava meia noite e meia e minha sogra começou a surtar falando quem eu era para chegar na casa dela aquela hora, que eu devia estar traindo o Gabriel. Em casa, ela chorava no quarto gritando e falava que a Bárbara não gostava de estar lá com eles, que eu não gostava dela, que eu era ingrata. O Gabriel falava pra mim ‘o que você fez para minha mãe?’.
Para um pouco, suspirou e volta a untar as forminhas.
Como eles não cobravam nada por eu estar ali quando a gente se mudou, eu falei que limpava a casa para eles e não pagava nada por ficar ali. Aí eu estava limpando e sabe quando ninguém liga? Eles me atrapalhavam, então eu chegava da faculdade, jantava e limpava o resto da casa de madrugada porque aí ninguém me incomodava. No dia seguinte, o Gabriel via que eu fazia tudo isso e a mãe dele falava que eu não fazia nada, e ele não falava nada, eu não tinha coragem de falar nada. O Gabriel ficou um mês na faculdade e a mãe dele não queria que ele fizesse Educação Física. Se eu falasse alguma coisa eu que seria a absurda, que estaria colocando ele contra a mãe. Aí ele desistiu do curso e ficava em casa só e os pais também, eles eram aposentados então ficavam os três em casa. Os pais dele brigavam muito, a mãe armou para eles morarem em um apartamento, era absurdo. O pai dele sempre me tratou bem mas ele ficava no escritório então ele não se metia no que acontecia em casa.
E lá se foram 30 forminhas para a assadeira. Ela liga o forno para pré-aquecer a 200°.
Aí eu comecei a surtar e ia pro centro da cidade de manhã só para andar e não ficar em casa e depois ia para a faculdade a noite ou passava o dia todo na unesp. Eu já não conversava mais direito com eles. Foi no começo de setembro. Eu pensava em terminar o namoro, sabia que não tesava dando certo mas se eu terminasse eu não saberia o que fazer, para onde eu ia e como iria me sustentar. Sem contar que eu pensava que as pessoas mudam. Eu guardava muito para mim, eu contei só quando não dava mais por que eu não tinha amigos, não falava com o pessoal da faculdade. Eu não tinha amigos por que quando eu estava no ensino médio eu perdi minhas amizades por conta de ciúmes do Gabriel, a gente sempre brigava quando eu falava com outras pessoas e acabei me afastando, virando anti-social. Na faculdade eu já estava exausta e resolvi ficar na minha sem falar com ninguém.
Seu semblante muda um pouco para continuar nessa parte do relato:
Nessa época eu comecei a passar mal, era o mês de maio do segundo ano, eu desmaiava no ônibus e começou a aparecer roxos no corpo todo e se eu ficava nervosa começava a vomitar. Era estranho mas dava para viver. Eu virei uma pessoa que eu não queria ser, eu discutia. Esse mal estar fazia parte da depressão.
Bárbara põe a assadeira no forno e nos convida para sentarmos na mesa da sala, já que a sua cozinha é um pequeno corredor, enquanto esperamos os pães de mel ficarem prontos.
Eu coloquei na minha cabeça que se eu fosse uma pessoa melhor tudo melhoraria. Fazia o café, falava bom dia e ninguém entendia. Eu fiquei um mês nisso mas não aguentei, aí desisti. Eu voltava umas vezes no ano pra minha casa em São José do Rio Preto. A última vez que eu voltei nessa época eu trouxe coisas de lá e eu guardei minhas comidas no armário do meu quarto. Eles questionaram se eu não gostava das coisas deles. Até que um dia o Gabriel veio falar que eu estava roubando as coisas da casa dele. Nessa época ele nem me beijava mais, a gente não fazia nada e comecei a ficar neurótica. Vi no Whatsapp dele que ele falava coisas ruins de mim, que não gostava mais de mim. Eu me sentia mal por ter feito isso escondido e sabia que em um momento próximo tudo iria acabar.

Bárbara expondo iniciação científica

Bárbara expondo seu painel iniciação científica na UNESP de Bauru


Sentada na mesa ela passa o dedo no plástico que cobre a toalha de mesa com força olhando pra baixo.
Ele descobriu que eu via as mensagens, brigamos e falei pros meus pais que estava muito ruim e minha mãe me ligava falando para eu procurar ajuda ou voltar para casa. Eu não cogitava voltar mesmo estando ruim porque eu sabia que o relacionamento com meus pais que eu estava melhorando ia piorar. Chegou em novembro, o Gabriel virou pra mim e falou que eu tinha quinze dias para sair da casa deles e procurar outro lugar. Eles já estavam pensando em voltar para São José. Eu não sabia o que fazer, não conhecia ninguém. Andei os bairros para ver se alguma coisa dava no valor que eu tinha. Liguei para minha mãe e ela disse para eu achar o lugar mais barato para levar minhas coisas, aí eu achei a kitnet, eu só pagava a energia a mais. Deixei tudo encaixotado lá e fui embora para São José.
Nestes momentos mais tensos da sua história, dava pra ouvir o barulho que fazia seu dedo indicador da mão direita raspando o plástico da mesa. Bárbara reveza entre olhar para nós e para mesa.
Já estava bem doente e já tinha passado por avaliação no CPA [Centro de Psicologia Aplicada da UNESP de Bauru, fizeram uma avaliação pessoal comigo e comecei a ir lá. Fiquei uns 2 meses vegetando, meus pais não aceitavam que eu tava doente, eles me ameaçavam falando que eu não voltaria para Bauru, que não iria voltar para a faculdade. Tinha emagrecido 10 kg, pesava 39 kg e não comia, não me mexia direito. Dois dias depois que saí da casa dos pais do Gabriel, ele terminou comigo. – Lembra-se acrescentando – Lá em casa eu tinha que fingir para os meus pais que eu estava bem. Voltei na segunda semana de aula e eles me ajudavam com um pouco mais de dinheiro e fiquei um mês sozinha na kit. Eu estava gostando do curso, eu gostava da UNESP não queria abandonar o curso. Minha mãe me ensinou a fazer pão de mel e eu procurava gente para morar em casa. Consegui uma bixete do curso de química para morar comigo.
Bárbara pede licença para tirar os pães de mel do forno e nos convida para ir até a cozinha para ela fazer a cobertura. Chegando na cozinha ela retira a forma do forno, coloca na pia, pega uma vasilha, corta em vários pedaços a barra de chocolate e coloca os pedaços na vasilha que vai ao microondas, entre 1 minuto no microondas e várias mexidas o chocolate derrete. Voltamos para mesa da sala agora com a assadeira e a cobertura. Bárbara vai tirando os pães de mel das forminhas e colando em outra assadeira.
A kitnet era pequena. Eu não conhecia a menina, não estava numa fase muito boa, estava muito triste e ela era de um temperamento muito forte, era muito grossa, neurótica com limpeza. Eu ficava nervosa e eu já tinha passado por muita coisa ruim não aceitava mais tanto. Eu pegava minhas coisas e ficava na UNESP, tinha falado que não estava legal. Eu consegui iniciação científica naquele ano e ficava no laboratório, dormia lá, passava o dia no laboratório. Comecei a fazer yoga e ir na psicóloga pelo CPA, estava me ajudando. Eu ainda tinha problemas mas tinha algum ponto de apoio.
A partir desse ponto Bárbara conta a história com mais leveza, rindo das situações, mesmo dos infortúnios, como se tudo fosse muito engraçado realmente agora.
Eu briguei um dia com a menina porque ela estava falando que eu tinha manchado a meia dela, ela surtou e eu fui dormir no laboratório. Eu estava com R$200 para fazer mercado e levei todas as minhas coisas e fui pra UNESP, tranquei minhas coisas no armário do Departamento de Educação Física e quando voltei tinham furtado minhas coisas inclusive o dinheiro. A UNESP não fez nada, fiz boletim de ocorrência mas aí eu já estava de saco cheio e tomei a decisão de falar pra ela ir embora. Ela disse que ia se mudar, que tinha arrumado outro lugar e eu fiquei um mês quase sozinha. Entrou uma menina da minha sala que eu tinha feito duas amizades com o pessoal do curso e a Letícia se mudou pra casa, ela era maravilhosa. O preço estava bacana, ela acabou virando muito amiga minha e me fazia companhia. Passaram uns 5 meses assim, eu ainda vendia doces, eu vendia pão de mel, bolo de pote e brigadeiro, o pessoal da sala comprava bastante então ajudava. Eu conseguia voltar pra casa três vezes no ano, aí no final do ano a Lê disse que ia sair de Bauru que pediu transferência e eu fiquei sozinha de novo, fiquei muito triste, foi a primeira pessoa aqui que me fez bem.
Mais um suspiro e o chocolate derretido começou a banhar todos aqueles pães de mel. Ela confere se está bonitinho, tudo coberto e coloca para secar em cima do papel manteiga em outra assadeira. Enquanto a cobertura secava na geladeira, ela leva a louça suja para a cozinha e volta com uma jarra de água gelada e um copo, o qual encheu e deu um gole.
O curso já estava ficando exaustivo, eu desmaiava muito nas provas, ficava nervosa e tive que fazer prova substitutiva e cheguei a reprovar em uma matéria porque o professor alterou o horário da prova substitutiva. Comecei a desanimar muito com o curso. Naquela época a kitnet aumentou o preço e ficaria muito caro e com o dinheiro que eu ganhava dos doces e que meus pais mandavam eu não conseguia. Aí eu procurei um apartamento em qualquer lugar, meus pais não aceitavam que eu morasse em república.
Mais um gole d’água.
Eu fui morar em um apartamento na frente do condomínio Camélias com uma moça e depois veio uma outra menina. A casa nunca era limpa, morei 3 meses lá e limpei uma vez, não havia comunicação. Eu conheci o Pipe [atual namorado] no fim do período da kitnet, a gente se via todas as festas, eu estava numa fase ruim e fiquei com ele depois. Ele sempre foi muito tranquilo, respeitoso. A gente começou a se ver mais e ele me tratava super bem, a gente se envolveu e comecei a gostar bastante dele. Quando me mudei no apartamento ele ia lá e ninguém falava nada, eu achava muito esquisito. Meus pais não iam me deixar sair de lá. A Paçoca [amiga] falou que tinha um pessoal montando rep [república universitária], depois de 3 meses eu fui pra rep e meus pais descobriram um tempinho depois. A rep me fez muito bem, tinha muita companhia e sempre me trataram bem. Meus pais viram que eu tava feliz, melhor do meu problema, então eles acabaram não criando tanto caso por eu estar lá. Me mudei no dia do meu aniversário e foi o primeiro que eu comemorei aqui em Bauru. E mesmo sem me conhecer direito foram super receptivas comigo.
Bárbara e as colegas de república

Bárbara e as colegas de república


Ela fala agora com um sorriso no rosto, toma mais um pouco de água, o copo já está quase vazio. Ela enche novamente o copo.
Eu vou no CPA até hoje. Eu já me sentia melhor. 2015 foi o pior ano emocional, em 2016 eu fiquei muito assustada com tudo, qualquer barulho me assustava, tinha medo de andar sozinha então eu surtei, não conseguia falar com as pessoas direito. Em 2017 eu melhorei um pouco, as companhias me ajudaram a melhorar muito. Eu ainda tenho recaídas, crises, mas são momentos específicos. Depois que comecei a tomar remédio melhorou bastante. O Pipe foi uma ajuda gigantesca, nunca escondi nada que tinha me acontecido e falei que não ia aceitar nada parecido e ele sempre me ajudou ao máximo. Eu só saí da rep porque o preço estava subindo e arrumei pessoas para entrar no meu lugar. Deixei minhas coisas na rep do Pipe para as férias de fim de ano. Depois quando voltei apareceu o apartamento e um amigo meu de São José passou aqui em Bauru e ele veio para morar comigo aqui.E foi bom, não tive problema com meu amigo, eu tinha me afastado dele na época do Gabriel. Moramos junto e foi tranquilo, ele me fazia bem e era uma pessoa do meu passado. Aí recentemente ele teve problemas com a política de cotas raciais da UNESP, ele tinha declarado ser pardo no vestibular e acabou sendo chamado para apuração, perdeu a matrícula porque disseram que estavam deixando pessoas visivelmente mais escuras permanecer na universidade e ele teve de voltar para São José. Ele me ajudou a pagar o mês seguinte [agosto] e eu estava divulgando a vaga do apartamento. O Pipe tinha falado de vir morar comigo ano que vem mas que eu ia colocar alguém aqui agora. Aí ele decidiu vir morar em casa.
Ela volta na cozinha para buscar os pães de mel agora com a cobertura endurecida e começa a cortar um a um para recheá-los.
A família do Pipe é super acolhedora, eles já vieram aqui no apartamento, eu sempre vou pra casa deles em Ribeirão Preto, ele vai para São José comigo. Meus pais adoram ele. Vai fazer um ano e sete meses que a gente está junto namorando. Nossos pais se dão super bem. Meus pais vieram recentemente e encontramos os pais do Pipe, foi muito feliz.
Toma mais água.
Esse ano eu fiz uma entrevista em um lugar de recreação indicado pelo Pipe. Começaram a chamar ele para trabalhar com freelancer. Ai um tempo depois me chamaram como freelancer então eu ia conforme foi aparecendo e eu amei, mexer com criança, eu descobri a vocação da minha vida.
Outra pausa com um suspiro diferente dessa vez, ele veio com um sorriso.
Eu já dei aula antes em um projeto voluntário de uma escola, eu amei muito na época dar aula para criança. Eu fui vendo que eu gostava de criança, mas quando eu comecei a fazer o freelancer eu comecei a curtir muito. Os donos começaram a gostar do nosso trabalho e falaram para nós ficarmos fixos pagando um salário, três vezes por semana. Eu aceitei e o Pipe não, mas eu to lá já faz um mês e tá sendo bem bacana.
Ela foi busca os recheios na geladeira para colocar no pão de mel e vai passando, mesclando entre doce de leite, prestígio e brigadeiro, continuava falando:
Não me vejo não fazendo a licenciatura depois, foi bom ter feito bacharel antes. A pior parte são os professores ruins, a cobrança. Eu espero que até terminar a faculdade, e que eu trabalhe com recreação porque eu me encontrei muito lá. Eu gostaria de atuar na área da química, para ver se é ruim como parece. Penso em ficar no apartamento, não me mudar. Assim, que formar eu queria muito sair de Bauru, mas não sei, queria descobrir um lugar novo, com pessoas novas, começar do zero. Não quero ir para São José. Eu e o Pipe pensamos em ficar juntos e abrir algo de recreação.
Brigadeiro.
A ideia da UNESP de auxílio para quem precisa até que é boa, tem alguns amparos, mas quando você vem acha que está totalmente amparado. É muita burocracia. A gente vê que muitas pessoas que precisam de bolsa não tem, abre duas vezes no ano só, praticamente é uma então ficamos muito refém disso. A UNESP fala que tem muita coisa mas não tem. A iniciação científica com bolsa me salvou mas não tinha muita coisa disponível, não são todos os professores que conseguem. Tem muita falta de informação e eles deveriam reformular.
Doce de leite.
Eu consegui a bolsa auxílio em um ano só quando morei na kitnet e quando acabou mandaram e-mail com um prazo e eu não vi o e-mail e não teve muita divulgação para a renovação então eu descobri um dia depois do fim do prazo, não dava nem para tentar mais, depois disso só no ano seguinte. Meu pai estava desempregado na época, a gente estava sem renda achei que daria certo. E não sei por que não consegui, achei absurdo que não consegui.
Prestígio.
No CPA eu só consegui porque tava grave o caso e eles me colocaram lá dentro mas às vezes é complicado ir, você não está bem ou tem compromissos. É complicado, às vezes a gente fingia que não estava acontecendo nada para as pessoas não ficarem perguntando, elas ficam te olhando com uma cara como se você tivesse se vitimizando. E não ter alimentação da UNESP foi difícil, gasta muito dinheiro. Eu tirei um bom dinheiro com os doces, me ajudava muito.
Bárbara tinha terminado de rechear os pães de mel, derreteu mais chocolate voltou e finalizou a cobertura, colocou na geladeira para esfriar. A receita daquele doce que tanto ajudou ela, tinha terminado assim como uma etapa difícil na história guerreira de sua vida.

Redação

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