Apesar de mostrar sinais de respiro, inconstâncias ainda permanecem no país como um todo
Por Taleessa Silva
Parte do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) efetivamente desde 2013 como um Estado Associado – ou seja, autorizado a participar de reuniões de órgãos que tratem temas de interesse comum e responsável por seguir algumas demandas do bloco, bem como o Chile, a Colômbia e o Peru -, o Equador pode ser considerado um coadjuvante nas atividades referente ao bloco econômico, mas analisando os detalhes do percurso até aqui, é possível identificar potencialidades que muitos não estão enxergando, bem como problemáticas praticamente certeiras.
Desde 2009 o Equador vinha negociando sua entrada efetiva no MERCOSUL juntamente com a Bolívia, e a postura adotada pelos dois países diz muito sobre suas intenções e prioridades. O principal obstáculo que segurou o Equador foi anunciado pelo presidente Rafael Correa em 2012, poucos meses antes de assinar o compromisso de adesão. Segundo ele, a problemática central se referia ao regime alfandegário ao qual o Equador teria que praticar, uma das propostas do MERCOSUL, caracterizado como uma união aduaneira. Isso significa que seu objetivo principal baseia-se no mercado e no comércio, bem como próprio nome revela, e na livre circulação de bens e serviços entre os países membros. Além disso, o MERCOSUL também apresenta uma Tarifa Externa Comum (TEC), estabelecendo a mesma taxa de transações comerciais com outros países, visando conceder mais igualdade e competitividade no comércio com o mercado internacional unindo as economias regionais, exigência feita aos Estados Membros. Isso refletiria diretamente no setor econômico pois, como Correa declarou na época, apesar de existirem “coincidências ideológicas” com os demais participantes do grupo, o Equador não possuía uma moeda nacional, precisando utilizar-se da política comercial para resolver potenciais problemas no setor externo, processo que seria limitado com a adesão ao bloco.
Na época decidiu-se que as mudanças não seriam tão significativas a ponto de ofuscar os benefícios de unir-se ao MERCOSUL, então o país juntou-se como Associado, sendo liberado para participar de reuniões e dar a voz, participando do livre comércio e adotando uma nova política para ingresso de latino-americanos oriundos de países integrantes do MERCOSUL, sem submeter-se ao TEC. Entretanto, a postura adotada pela Bolívia de assinar e comprometer-se imediatamente, sendo assim a sexta parte do bloco, mesmo que em processo de adesão, foi um passo importante e que se destacou quando comparada ao posicionamento do Equador.
Tal inconstância e receio acabou refletindo de outra forma na situação do país. Em 2018 mostrou-se uma das três piores economias da América Latina. Por mais que tenha crescido 3% em 2017, isso se deu somente ao aumento do consumo privado e do gasto público, financiado por meio de endividamentos, condição que preocupa analistas estrangeiros. Os investimentos caíram em 0,5%, um dos fatores que fizeram a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) projetar um crescimento de apenas 1,2% na economia do país em 2018, queda considerável. Segundo a Cepal, os motores que empurravam a economia em 2017 se debilitaram, o que influenciou na previsão. Um exemplo é que no Equador o petróleo é um dos carros chefes da economia, e a produção total teve uma queda de quase 3,4% em 2017. Esse fato, associado às incertezas de ajustes promovidos por Lenín Moreno, atual presidente, influenciou na redução das projeções.
Entretanto, o Equador conseguiu obter um crescimento de 1,4%, resultado oriundo de inúmeras novas medidas adotadas, consideradas duvidosas. Por apresentar uma economia dolarizada, ela é altamente sujeita aos vaivéns externos. Mas quando o dólar se valoriza, isso não convém ao Equador, pois perde competitividade. E com os EUA subindo taxas e mais taxas de juros, o país encontrou-se perante à grandes desafios. Medidas de austeridade foram tomadas para reduzir o imenso déficit e a dívida pública, visando aumentar a arrecadação. Essas decisões, no entanto, afastam-se ideologicamente das adotadas por Correa em seu governo, mas apontaram para boas recepções perante aos órgãos internacionais e aos investidores.
A conhecida Revolução Cidadã, iniciada com Rafael Correa, deu grandes passos na resolução de problemas sociais, como a redução da pobreza e da desigualdade, fornecendo oportunidades de crianças que estavam na rua de estudarem e, inclusive, aumentando significativamente a classe média equatoriana. Isso colaborou para que o país também atingisse estabilidade política e social após a grande crise bancária de 1998.
Mesmo com diversas críticas à integridade da medida cidadã, a preferência nas eleições de 2017 foi pela esquerda, contrariando uma forte tendência de vitória da direita em toda a América Latina. Lenin Moreno foi eleito, pelo próprio Correa, para dar continuidade ao que vinha sendo feito, mas divergências sobre o futuro do país começaram a surgir, tornando o atual e o ex presidente inimigos. Ele vinha como uma solução de centro, no entanto, aproximou-se de medidas de direita, que aproveitou-se de um momento resultante de conflitos após Correa para instituir cortes e promover uma maior aproximação e entendimento com as elites equatoriais. Certamente a decisão de Correa de não concorrer novamente, evitando assim uma certeira reeleição, apesar de mostrar-se democrática, acabou implicando em uma virada não esperada, mas fortemente apoiada pela mídia, elites e investidores.
O governo de Moreno aliou-se às forças políticas da direita para aprovar medidas de austeridade e liberalização, incluindo cortes de institutos federais, ministérios e aumentos nos preços de gasolina, o mais caro do mercado (cerca de 20%). Mudanças na política externa do país são percebidas como medidas para aproximar-se dos EUA e, possivelmente, obter vantagens econômicas disso. Moreno fica cada vez mais próximo da tendência neoliberal na América do Sul, mas a economia ainda respira por aparelho, sofrendo algumas falhas em certos momentos, mas mostrando-se em processo de recuperação em outros. É um futuro cheio de incertezas, principalmente quando analisa-se o histórico, igualmente na corda bamba.