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MANUTENÇÃO DO MEIO AMBIENTE E INCLUSÃO SOCIAL

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Conheça o projeto Pimp My Carroça e a importância ambiental no trabalho dos carroceiros

Por Naiara Teixeira e Isabel Silva

Os catadores de resíduos recicláveis prestam um trabalho de utilidade pública para a sociedade, através da prática da coleta de materiais recicláveis, os quais, muitas vezes, são descartados pela população de forma irregular, gerando consequências para a limpeza urbana e para a população do local, como enchentes.

Ainda, contribuindo para a limpeza pública tais profissionais cooperam diretamente com a economia dos gastos públicos, sistema de logística reversa e preservação de recursos naturais.  Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, em 2015, o mercado de serviços de limpeza da região Sudeste movimentou cerca de R$15 bilhões, com crescimento de 2,5% em relação ao ano anterior. Foram aplicados cerca de R$13,00 mensais em coleta de resíduos sólidos urbanos pelas prefeituras dos municípios da região.

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O projeto Pimp My Carroça é uma iniciativa do grafiteiro Mundano que busca transformar a realidade dos carroceiros de São Paulo e ao redor do mundo.

Ao observar a necessidade das metrópoles em limpar as vias públicas e o trabalho dos catadores de recicláveis, os organizadores do projeto notaram a importância ambiental desse trabalho.

Entretanto, o trabalho realizado pelos catadores é desvalorizado pela sociedade e mal remunerado levando a condições desumanas e colocando estes trabalhadores em posição marginal de extrema pobreza.

Uma grande metrópole gera uma quantidade exarcerbada de lixo diário, esses resíduos sólidos por vezes entulha e obstruem as vias públicas. Segundo a pesquisa nacional de saneamento básico de 2008, um em cada três municípios brasileiros passou por situações de enchente, entre 2004 e 2008. O fato ainda mais preocupante é que desses , 30,7% das prefeituras consideram que os resíduos em ruas, vias e córregos são os responsáveis pelas enchentes.

São poucas as iniciativas públicas no trabalho dos catadores e ainda menores as cooperativas organizadas pelo país, como observa-se no mapa abaixo:

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Segundo o Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis (MNCR), na cidade de São Paulo há entre 20 mil e 25 mil catadores de materiais recicláveis, que são explorados pela dinâmica social, sofrem ataques tanto da população quanto dos próprios órgãos governamentais, e tem sua cidadania menosprezada. Muitos chegam a ter suas ferramentas de trabalho (a carroça) apreendidas por ações do governo.

De acordo com o último Relatório de Situação Social das Catadoras e dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável, realizado em 2013, a renda média dos catadores em 2010, segundo os próprios trabalhadores, era de aproximadamente um salário mínimo (em 2010 o valor do salario mínimo era R$510,00). No Estado de São Paulo, o valor da remuneração chegava a R$646,19, sendo ainda acima da média nacional.

Seu Edgar, catador que trabalha a região da Vila Madalena, conta que algumas pessoas ainda colaboram com o trabalho, separando os materiais para ser recolhido por ele, mas essa atitude, infelizmente, não parte de todos. “A catação ainda é um trabalho não reconhecido”, afirma. Seu rendimento ao final do dia depende muito da carga recolhida, que varia entre 26 quilos e 30 quilos, quando se trata de papelão, e pode chegar a 100 quilos, quando consegue materiais mais pesados como alumínio e peças de motor. Porém, geralmente, ele consegue apenas papelão.

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Segundo a cotação dos materiais recicláveis praticados por programas de coleta seletiva, realizada pela Associação Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) em Novembro/Dezembro de 2016, o valor de venda do papelão na cidade de São Paulo é de R$0,58/kg. Já o preço da lata de alumínio está cotado em R$3,50/kg. Porém, muitos depósitos pagam aos catadores valores abaixo dessa média. Em um dos depósitos que a reportagem visitou, o preço pago pelo quilo da lata de alumínio, em novembro de 2016, era de R$2,80/kg e R$0,10/kg do papelão.

Para ter uma noção de volume, por exemplo, para ter um quilo do alumínio é necessário juntar cerca de 60 latas de bebida. Logo, para conseguir 100 quilos ao final de um dia de trabalho, seu Edgar precisa juntar 6000 latas para obter um lucro de R$16,80.

            PANORAMA DE RECICLAGEM

Os dados mais recentes do Panorama de Resíduos Sólidos apontam o Brasil na liderança do ranking mundial de reciclagem de latas de alumínio para envase de bebidas. Em 2014 foram contabilizadas 261 mil toneladas de latas de alumínio recicladas, um índice de 98% das atividades de reciclagem do segmento. Em segunda e terceira posição encontram-se, respectivamente, Japão com 87,4% e Estados Unidos com 66,5%. Já em relação à reciclagem de papel, em 2015, o Brasil registrou um índice de recuperação de 63,4%, obtendo um aumento de 4% em relação a 2014.

Marcel Yssama, representante do Pimp My Carroça, ressalta a importância dos catadores como agentes ambientais para o Brasil atingir tais posições de destaque em relação à reciclagem no cenário mundial, e, ainda assim, a população possui uma percepção pejorativa do trabalho realizado por esses agentes. “Muitas vezes as pessoas pensam que eles [catadores] são marginais, bandidos que estão sujando a cidade. Mas na verdade é muito o contrário, eles estão prestando um serviço público, estão limpando a cidade. Um serviço que eles não são remunerados nem pelo Estado, nem pela sociedade. Eles sobrevivem apenas pela venda do material que são a preços míseros”, afirma.

O Diagnóstico sobre Catadores de Resíduos Sólidos, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2012, estima que 90% de todo o material reciclado no Brasil seja coletado por catadores, estes que constituem a base da cadeia produtiva da reciclagem.

Os dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2015 apontam que o Sudeste brasileiro possui 97,4% dos seus municípios cobertos pela coleta de resíduos urbanos, totalizando 1.450 municípios com iniciativas de coleta seletiva. Entretanto, o panorama também ressalta que a coleta seletiva não abrange a totalidade da área urbana de muitos municípios.

 A Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb) aponta que só em São Paulo, uma cidade que gera em média 1,4 quilos de resíduos por cidadão diariamente, foram recolhidas, aproximadamente, 24 mil toneladas de resíduos recicláveis em abril de 2016, sendo 809,5 toneladas por dia.

 De acordo com o Manifesto “Do Lixo, Vivo” realizado pelo Projeto Pimp My Carroça, São Paulo necessita de um plano de Cidade Sustentável que inclua a participação efetiva e regularizada dos catadores. “Não acreditamos que a carroça e a tração humana sejam formas adequadas para a coleta seletiva, e muito menos a única solução. Mas não podemos ignorar a sua existência e o importante serviço que os catadores prestam à prefeitura, indústrias e toda sociedade”, aponta o manifesto.

CATADORES ORGANIZADOS

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Seu Edgar, catador . (Foto: Isabel Silva/Naiara Teixeira)

Ainda existem muitos catadores que trabalham de forma independente, mas encontramos em São Paulo, também, muitas organizações formadas por esses agentes ambientais. As organizações de catadores permitem a união da classe em volta de suas reinvindicações trabalhistas e o fortalecimento do grupo. De acordo com o site lixo.com, um portal on-line cuja função é a troca de informações sobre práticas sustentáveis, dentre os catadores organizados existem as seguintes formas de coletivos:

  • Grupos em organização – grupos de trabalhadores independentes que possuem pouco ou nenhuma infra-estrutura.
  • Catadores organizados autogestionários: trabalham em cooperação, possuem uma estrutura de organização democrática, na qual os rendimentos são de domínio de todos. Não há hierarquia de cargos, logo não possui liderança na figura de uma única pessoa. Todos os associados são proprietários do empreendimento.
  • Redes de cooperativas autogestionárias: grupos que se organizam em redes, as quais se relacionam a fim de obter melhores resultados quantitativos e qualitativos para a categoria, além de decidirem medidas para aprimoramento do trabalho como otimizações nas dinâmicas de coleta de determinados materiais.

Ainda, existem organizações de estruturas hierárquicas que não trazem benefícios para os catadores, são essas:

  • Coopergatos: grupos não autogestionários, ou seja, possuem a estrutura de empresas privadas com um proprietário que gerencia o trabalho dos demais. Entretanto, os associados não possuem benefícios trabalhistas como nas empresas privadas.
  • Cooperativas de sucateiros: São organizações de sucateiros registradas como cooperativas, se aproveitando de políticas públicas de regularização legal de cooperativas. Muitas vezes lucram com o trabalho dos catadores de forma exploratória.
  • Cooperativas de apoiadores: organizações de catadores lideradas por pessoas que não estão ligadas ao processo de catação, exercendo uma posição de poder sobre o trabalho dos catadores.

O PROJETO

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Foto: Naiara Teixeira/Isabel Silva

O Pimp my Carroça se divide em sete formas diferentes de atuação dentro do projeto. São elas : Edições Pimp My Carroça, Cooperativa, Ecoponto, Pimpex, Desafio Pimp, artivismo e exposições.

As Edições são eventos organizados através de financiamento coletivo e doações, nos quais os catadores encontram diversão, cuidados pessoais através de corte de cabelo e assistência cidadã da mais variada. Além disso, as carroças são reformadas, grafitadas com mensagens impactantes e sociais, também são entregues aos catadores materiais de proteção pessoal no trânsito e recomendações sobre qualidade de vida no trabalho.

São serviços desde funilaria, borracharia, instalação de kits de segurança e pinturas de renomadas grafiteiros,  em paralelo a um vasto atendimento social de diferentes serviços (médicos, massagistas, cabeleireiros, psicólogos) aos catadores.

No site oficial (pimpmycarroça.com) o projeto estabelece sua meta: “Os objetivos fins almejam melhores condições de trabalho e inclusão social desses agentes, que em sua maioria se encontram marginalizados, inclusive de reconhecimento enquanto prestadores de serviços coletivos vitais à saúde ambiental e social de nossas cidades.”

Os eventos são percorreram São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba ajudando centenas de catadores e mobilizando a população local na valorização desse trabalho ambiental.

Não só com as carroças atuam os multirões do projeto, a frente “Pimp Nossa Cooperativa” realiza reformas nas sedes cooperativas de catadores pelo país. Organizam-se eventos para toda a comunidade.

Como o projeto se desdobra paralelamente entre papel social e ambiental, também existem os Ecopontos , lugares preparados para coleta e seleção dos materiais corretamente. Além de um grande trabalho com educação ambiental.

O Pimpex é a segunda frente de atuação dos eventos. Diante da impossibilidade de percorrer todo o país com as edições e multirões de reforma, o projeto desenvolveu uma cartilha e um kit básico para que outros agentes e cidadãos da comunidade possam montar os eventos em suas cidades e regiões. O financiamento é sobretudo, coletivo.

Ainda na frente social do projeto existe o Desafio Pimp, onde um grupo de voluntários e grafiteiros, dividem-se em equipes e organizam pequenas competições de reforma e auxílio aos catadores, mobilizando mais pessoas para a causa.

Já as ações artivistas e exposições partem do uso do grafite como ferramenta política, com intervenções artísticas ao longo da cidade e manifestos urbanos de tinta e spray.

 

O GRAFITE COMO ARTE

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Foto: Naiara Teixeira/Isabel Silva

“O Pimp ele tem o grafite como DNA do projeto. É a arte como ferramenta de transformação” – Marcel Yssamo, organizador do projeto.

Entrevistamos um dos organizadores do projeto, o grafiteiro e publicitário Marcel Yssamo (Buda) que ressaltou a importância da arte urbana nas mudanças sociais efetivas como o Pimp.

“O Pimp My Carroça surgiu em 2008 com o Mundano quando estava grafitando muros pela cidade e se deparou com vários catadores. Em uma dessas conversas, ele pintou a carroça de um dos catadores e notou uma mudança na autoestima e no trato externo com o trabalhador. É importante lembrar que grafite tem um impacto com os catadores, ao transformar a imagem deles, mas também com a sociedade e com as pessoas na rua ao tirar da invisibilidade diária esses trabalhadores.” Reflete Marcel.

Em 2014 o grupo trabalhou com uma intervenção nas placas da cidade, colocando placas nas ruas com nomes de catadores que faziam aquela rota. A homenagem é uma forma de mostrar reconhecimento e confronto à margem cultural que os mesmo se encontram. Em uma das placas havia os seguintes dizeres “‘Rua Rafael dos Santos – Carinhosamente apelidado de Bahia, Rafael dos Santos é mais um trabalhador que veio tentar a sorte em São Paulo, e a encontrou como catador. Mas sortudos mesmo somos nós, pois há 20 anos contamos com ele para cuidar da cidade”.

Marcel ao falar dos efeitos positivos do projeto cita um relato de um dos catadores beneficiados. “Temos por exemplo o  Seu Sebastião, que é um catador do centro. Ele trouxe o relato que antes do projeto Pimp coletava os materiais na calçada, pelas ruas mesmo e depois da reforma começou a ter confiança das pessoas e comércios. Hoje em dia ele criou uma rota de coleta de materiais pela cidade. Existe uma clientela fixa a semana toda para coleta. Ele que era morador de rua, hoje consegue uma renda fixa e já financia um apartamento popular que daqui um ano será dele.” Enaltece Marcel.

LINKS DE APOIO:

http://www.pimpmycarroca.com/portfolio-item/acoes-artivistas/
http://cempre.org.br/cempre-informa/id/86/preco-do-material-reciclavel
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/120911_relatorio_catadores_residuos.pdf
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/situacao_social/130910_relatorio_situacaosocial_mat_reciclavel_regiaosudeste.pdf
http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2015.pdf
http://www.lixo.com.br/content/view/133/240/
http://pimpmycarroca.com/o-manifesto-de-sp/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142011000100010

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