Descontrução de padrões, feminismo e conscientização são as novas palavras de ordem na moda!
Por Michelle Albuquerque
Nos últimos anos a moda se reinventou e ganhou um novo olhar. Muitos questionamentos foram levantados, em especial nos quesitos de sustentabilidade, nos modos de consumir a moda e a quebra dos valores estabelecidos. A moda é um mundo infindável de possibilidades, no qual cada um encontra um nicho em que se encaixa melhor. Mas é capaz também de reduzir o indivíduo a um mero manequim do produto que consome.
Apesar de já terem acontecido muitas mudanças, os estereótipos permanecem. É preciso a compreensão que o modo de vestir é sobretudo um espelho do eu interior para a sociedade. A nova geração está aprendendo a lidar com os preceitos feministas de alguns anos para cá. Com isso estão assumindo uma postura e posições mais fortes perante ao outro. E, por esses motivos, existe a discussão sobre o papel que cada um exerce ao mostrar ‘sua moda’ ao mundo e pensar em questões sociais e sustentáveis.
Magá Moura é Relações Públicas especializada em Moda e Cool Hunter (pesquisadora de tendências. | FOTO: Divulgação/ Instagram @magavilhas
Magá Moura, 28 anos, é cool hunter (pesquisadora de tendências) e acredita que as mulheres estão cada vez mais livres, não só em relação a moda, mas para todas as escolhas. Se vestir bem, estar antenada com os trends do momento e ser livre para usar a peça que quiser. Esses são os desejos das mulheres contemporâneas atuais. Mas, sabemos que essa liberdade de escolha ainda é difícil de ser colocada em prática.
Inúmeros fatores ditam padrões, como os relacionados a peso e diferentes nichos sociais. Magá conta um pouco sobre a sua relação com a moda: “Meu relacionamento com a moda é super natural e muito livre. As pessoas podem ver isso na forma que me visto, não me amarro aos padrões e aos olhares curiosos e até de estranheza, não me importo com o que a sociedade vai pensar, gosto de mim, do meu jeito, de inspirar e fazer as pessoas serem livres também.”
Para o time de blogueiras do MaGGnígificas, Carolina Caran, 35 anos, Marcella Abboud, 26 anos e Marina Sena, 26 anos, o conceito de liberdade irrestrita na moda, em qualquer contexto social, ainda é uma ilusão. No caso da moda plus size um dos objetivos principais é o bem estar pessoal: “Isso significa que vamos usar tudo aquilo que nos faça sentir bem e confortável, o que não significa que consigamos – apesar de desejar – nos livrar totalmente daquilo que é estabelecido como roupa de trabalho ou roupa de festa.”
A moda ideal deveria ter como objetivo o bem estar pessoal, onde fosse possível usar tudo o que nos faça sentir bem e confortável. Porém, a realidade não é favorável a esse pensamento. Não conseguimos – apesar de desejar – nos livrar totalmente do que é pré-estabelecido. Essa imposição de medidas espelhando em corpos de modelos de passarela, é um dos pontos a ser repensado.
A crença de que mulheres devem utilizar até o tamanho 40, afeta diretamente a maioria das mulheres com padronagem e corpos normais ou acima do peso. Entre as maiores superações vivenciadas é poder “usar tendências independente se elas ‘valorizam’ nosso tipo de corpo” destacam as blogueiras do MaGGníficas.
Para o trio do MaGGníficas, suas influências na moda são mulheres girl power, empoderadas, que tudo tem a ver com o feminismo: “Folake (Style Pantry), Gabi Fresh, Nicolette Mason, Stéphanie Zwicky (Le Blog de Big Beauty), Nadia Aboulhosn e Lilian Lemos. Sobre moda sustentável tem a Ana Soares (Hoje Vou Assim Off).” Já Magá Moura tem uma resposta inusitada sobre o que a inspira: “Me influencio na minha verdade. Com muita modéstia, sou a minha maior influência. Sigo minhas vontades, o meu olhar faz as minhas inspirações, o meu gosto sobre as coisas, sou muito eu em todos os sentidos.”
Marcella Abboud, 26 anos
As cores e estampas de Marina! | FOTO: Reprodução/ Instagram @sena_marina
Marina Sena, 26 anos
Magá Moura, 28 anos
O feminismo, vem tomando proporções em esferas importantes da vida da mulher, dentre elas a moda. O movimento político, filosófico e social que defende a igualdade de direitos e respeito das mulheres na sociedade, tem um papel importante nessa (des)construção de padrões. O cenário da moda está vendo iniciativas e campanhas que buscam quebrar estigmas e conscientizar a sociedade para lutas importantes.
A moda conscientizada preza por produções que não envolvam mão de obra escrava, e criações de produtos que não utilizem os recursos naturais de forma predatória, prejudicando assim nosso ecossistema. As blogueiras do MaGGníficas acreditam que: “Essa seja uma nova perspectiva para o mundo da moda por ser um mercado em ascensão, que vem se destacando gradativamente mas que ainda não é acessível para todos, com poucas iniciativas nesse sentido. Isso desperta nosso interesse por valorizarmos esses conceitos, e por isso buscamos uma adaptação para nosso armário, mas ainda não aplicamos de forma total.”
Para a cool hunter a moda sustentável é uma pauta ligada à luta e movimentação das mulheres em busca de diminuir cada vez mais o consumismo desenfreado. “Eu nunca compro roupa, pelo meu trabalho ganho bastante coisa. Mas meu guarda roupa está em constante mudança, sempre tiro muitas peças para doar ou vender baratinho pras amigas” conta Magá.
Sustentabilidade é a palavra de ordem!
Segundo o estudo “Sustentabilidade e Competitividade na Cadeia da Moda” da Uniethos, o questionamento que tem surgido em âmbito internacional também possui iniciativas no Brasil. Apresenta posicionamentos contra a produção em massa e ditadura imposta pela moda de uma parte da sociedade. Entre as medidas, estão o ator de reutilizar, restaurar, reduzir e reciclar.
“Vale dizer que a estes dois R’s (reutilização e restauração) devem ser adicionados mais dois que dependem de mudanças não só na postura do consumidor, mas na indústria de moda: reduzir (a quantidade do que é produzido/ consumido e adicionar qualidade, de modo a ampliar a vida útil dos produtos) e reciclar (recuperar as fibras de tecidos existentes com métodos mecânicos e químicos para convertê-las em novos produtos).” ressalta o estudo.
Nas passarelas, os estilistas buscam inserir a sustentabilidade de diversos modos. Tem os que levantam bandeiras sociais e ambientais, investindo em novos materiais naturais e recursos renováveis para suas peças. Uma grande exemplo é Stella Mccartney, filha do ex-beatle Paul McCartney e estilista desde 1997. Vegetariana, ela não utiliza matérias-primas de origem animal em suas coleções. Sua marca foi uma primeiras e ainda é uma das únicas que pensam de forma responsável pela ética e meio ambiente.
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O estudo apresenta o fato do Brasil ainda dar pouco espaço em desfiles e publicações para o assunto, em contrapartida a outros países. Mas, diversos debates e eventos, estão ganhando cada vez mais espaço, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. As relações entre sustentabilidade e moda vêm se estreitando cada vez mais, mas ainda há muito o que evoluir no setor.
“A aposta é de que nos próximos anos possamos ver a sustentabilidade não como uma segmentação da indústria de moda, mas como parte integrante de todo e qualquer processo, produto, estratégia ou decisão. Ainda que tal cenário se apresente como um desafio, em função dos inúmeros dilemas atuais, é o que tem o maior potencial de produzir avanços tecnológicos, estimular a inovação e permitir que a engrenagem da moda, consciente de seus impactos, possa ser uma importante agente de transformação.” aponto o estudo da Uniethos