Como as últimas ações do grupo extremista podem conduzir medidas das potências internacionais em relação ao assunto.
Por Matteus Corti
O Estado Islâmico, também chamado de EI, é uma organização islâmica que atua principalmente no Oriente Médio, mais especificamente nas regiões da Síria e do Iraque. O EI é dirigido por um líder político e religioso denominado califa, que governa de acordo com a lei islâmica, a sharia. O califado do Estado Islâmico é atualmente governado por Abu Bakr al-Baghdadi.
Os membros do EI são jihadistas, ou seja, segmento radical da vertente sunita do islamismo que faz uma interpretação extrema da Suna e acreditam ser os únicos reais fiéis seguidores de Maomé. Veem o resto do mundo como infiéis que querem destruir sua religião e, portanto, entendem que sua missão é resgatar a humanidade da ocidentalização e instituir o chamado “islamismo puro” através da Jihad, a difusão da religião pelo mundo.
Confira um breve histórico da formação do Estado Islâmico na linha do tempo abaixo.
Arte: Matteus Corti/ Dados: UOL, Wikipedia
A coordenadora do curso de Relações Internacionais da UniCEUB, Renata de Melo Rosa, diz que a formação do Estado Islâmico representa inúmeras ameaças para a ordem democrática mundial. “Desconstrói todo o arcabouço jurídico e político ocidental de formação dos Estados, com extremo desrespeito aos direitos humanos e humanitário que as Nações Unidas lutam por consolidar em todo o mundo.”, completa.
O Estado Islâmico é conhecido, desta maneira, por atacar indivíduos e países ao redor do mundo que não se submetem às suas definições de cumprir à risca as regras do Corão e não aceitam o islamismo sunita radical como religião oficial.
O EI e a política internacional
Os atos políticos do Estado Islâmico envolvem, geralmente, violência e atrocidades e tem como principais objetivos a conquista de territórios, o reconhecimento e legitimação como Estado e a instauração de um governo completamente baseado na lei islâmica.
Para os jihadistas, a sociedade mundial está dividida entre o “reino do islã”, ou seja, os locais que permanecem sob a lei muçulmana e o “reino da guerra”, locais onde o Islamismo não é a base sociopolítica. Nos locais onde não há uma definição que garanta que o Islã seja a base de pensamentos, a guerra para sua instauração é permitida.
O ocidente, por não ter uma tradição islâmica forte é um dos principais focos de ataque do Estado Islâmico, que frequentemente e por tradições de lutas históricas, personifica essa luta contra os Estados Unidos. Para esse segmento do islamismo, os EUA ocuparam o que pra eles é o lugar sagrado, a península da Arábia.
Para combater o que é tido como “ocidentalização”, os membros do Estado Islâmico geralmente se utilizam de técnicas e ações denominadas “terroristas”, que tem por objetivo causar medo e pânico a determinado grupo, governo ou população.
Lannes explica que o Estado Islâmico atua conquistando territórios e pautam pela formação de um Estado tradicional. “Nos últimos anos essa organização obteve a aquisição de vastas somas de território, mexendo nos desenhos territoriais construídos por séculos de guerra.”, completa.
De acordo com ela, isso intensifica as tensões internacionais à medida que o Estado Islâmico torna-se cada vez mais uma ameaça à ordem democrática. “Em momentos de permanente tensão, os países tendem a recorrer a um aumento do armamento, o que pode ser evidenciado pela proposta da OTAN em garantir que os países membros da coalizão aumentem o investimento em armamento para 2% do Produto Interno Bruto (PIB).”. Lannes afirma que esse comportamento faz com que as arenas democráticas percam espaço para movimentos mais autoritários.
As dificuldades internacionais frente às ações modernas do EI
As ações do Estado Islâmico tem se intensificado no ocidente nos últimos anos. Os últimos ataques que chocaram o mundo aconteceram no Reino Unido, com destaque especial para o ocorrido durante o show da cantora norte-americana Ariana Grande em Manchester. Foram 22 mortes e mais de 50 feridos em decorrência da explosão.
Tais ações voltaram a levantar o debate, principalmente entre as potências mundiais, sobre quais medidas devem ser tomadas contra o Estado Islâmico para que os ataques sejam evitados e sofram retaliações. O papel de organizações internacionais como a ONU, a OTAN e outras em relação ao assunto também tem sido colocado em debate.
As últimas ações conjuntas internacionais de potências do ocidente para barrar os avanços do Estado Islâmico foram em 2015. Em 2016 alguns países como Reino Unido e França enviaram tropas para ações indiretas ou de inteligência, mas tais movimentos são considerados pontuais.
Apesar da pressão, a coordenadora do curso de Relações Internacionais da UniCEUB Renata de Melo Rosa, afirma que trata-se de um combate muito arriscado por conta do risco de vida que milhares de civis podem sofrer. “No caso da ONU, a pressão de diversos especialistas é que ela não se torne uma máquina de guerra no combate ao terrorismo. A aposta da ONU continuará sendo a de levar os criminosos do Estado Islâmicos ao Tribunal Penal Internacional e reforçar os governos locais em sua autoridade de controlar o monopólio da violência.”, explica.
Gif: Matteus Corti
Em locais onde o EI possui uma base territorial de ocupação, como é o caso da Síria e do Iraque, forças russas, curdas originárias da Turquia e norte-americanas, promovem ataques severos na tentativa de conter as atividades do Estado Islâmico. A atuação da OTAN nesse sentido torna-se inviável haja vista que o órgão não considera plausível agir isoladamente e uma aproximação com a Rússia ser improvável por conta de uma bipolaridade de pensamentos, inclusive no que tange à guerra na Síria e à intervenção da OTAN no Leste Europeu.
Outro aspecto importante a ser levado em conta é o caráter fluido de sua origem: por tratar-se de uma rede terrorista, as suas células do EI se espalham rapidamente em diversos locais do mundo, como Mali, algumas partes da Nigéria, Somália e Indonésia. Também é muito comum o surgimento de simpatizantes ao redor do mundo que executam ataques em cidades, geralmente capitais, como Londres, Paris e Berlim.
“O mais difícil de visualizar é a rede e o seu alcance, além de ser praticamente impossível prever o momento e a forma dos ataques em países ocidentais. Não é um exército fardado com insígnias nacionais, mas cidadãos aparentemente comuns que se radicalizam silenciosamente e parecem estar prontos para ataques quando a oportunidade de fazê-lo se apresenta.”, afirma Rosa.
Outro desafio enfrentado pelas potências internacionais é o interesse estatal dos países envolvidos na crise e na guerra contra o Estado Islâmico. Lannes explica que por trás do EI existem Estados, empresas e organizações que os financiam e ajudam a manter seu poder. “A Guerra da Síria, principal evento em que o Estado Islâmico está participando atualmente, congrega forças díspares que dificultam definir, claramente, os interesses e forças envolvidos.”, completa.
A falta de consenso internacional para a tomada de ações contra o EI também abrange, atualmente, as diferenças ideológicas, mesmo que sutis, entre os dois grandes representantes da civilização ocidental: a União Europeia e os Estados Unidos. Enquanto o último acredita numa política externa um pouco mais embativa, a União Europeia, encabeçada pela Alemanha de Angela Merkel e pela França de Emmanuel Macron, adota uma postura levemente mais pacifista com investimento em mais ações de inteligência para evitar que os jovens de seus países simpatizem com a causa do EI.
Rosa conta que a União Europeia tem como principal característica a aposta na inclusão como elemento para a construção da paz. “A União Europeia (Talvez com exceção de Hungria, Polônia e Eslováquia) aposta em prudência, evita discursos de ódio racial ou islamofóbicos e não acredita que ataques diretos às posições do Estado Islâmico será a solução do problemas.”, explica.
Em se tratando não apenas dos países ocidentais, mas também de potências mundiais, Rosa explica que ao contrário da União Europeia, a Rússia acredita em ações diretas através de bombardeios, “nem que para isso toda a Síria seja destruída”, afirma. Segundo ela, Estados Unidos e Reino Unido também são simpáticos a esta ideia, embora invistam menos poder ofensivo na Síria e no Iraque.
Lannes explica que as ações e visões de políticas externas é tomada por uma elite administrativa que perpassa governos, o que explica o antiterrorismo criado na era Bush, permanecendo com Obama e com Trump. “As variações da política não apresentam soluções, de fato, alternativas, mas sim pequenas nuances, principalmente no que tange a um discurso mais humanista.”, afirma.
Apesar das diferenças sutis em sua forma de atuação, Estados Unidos e União Europeia firmaram um acordo de parceria para ações nas regiões de dominação do EI. A reunião entre a alta representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini, e o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, aconteceu no dia 3 de julho e teve como objetivo debater visões sobre como aprofundar e reforçar a cooperação antiterrorista, com foco no EI.