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O crescimento do mercado de cervejas artesanais no Brasil

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O brasileiro explora cada vez mais esse novo mundo de cervejas.
Por Alexandre Wolf e Felipe Navarro

Cerveja é uma paixão nacional. Certamente você já ouviu algo parecido por aí, afinal de contas, não faltam argumentos que comprovem a força da bebida no Brasil. A maior cervejaria do mundo, por exemplo, é brasileira. A empresa popularmente conhecida como Ambev ,na verdade, Anheuser-Busch Inbev, após fusão em 2016, é responsável por mais de 20% do mercado internacional de cervejas.

Mesmo sendo donas de boa parte do mercado, entretanto, empresas como a Ambev têm enfrentado resultados negativos recentemente, geralmente atribuídos à crise econômica do Brasil e do mundo. Talvez esse não seja o único motivo da “crise” das grandes cervejarias, mas mesmo que a opinião sobre um mercado em crise seja divergente, vide afirmação do presidente da SABMiller, Jeffrey Hembrock, de que “o Brasil é um mercado impressionante. Em lucro para o setor, é o segundo maior mercado de cerveja do mundo”, é notável o surgimento e crescimento de outras cervejarias no país.

Afinal de contas, é cada vez mais comum encontrar uma infinidade de rótulos nas prateleiras dos grandes supermercados, um contraste com a mesma situação há alguns anos, quando as mesmas redes vendiam apenas marcas tradicionais. Em entrevista ao Nexo, o consultor e diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte de Blumenau (SC), Carlo Enrico Bressiani, afirma que esse movimento é antigo, começou na década de 1970 na Inglaterra e chegou no início dos anos 2000 ao Brasil.

A concorrência das pequenas cervejarias

As cervejarias menores enfrentam muitas dificuldades por aqui, a começar pelo gosto popular: tradicionalmente, as cervejas estilo Pilsen são mais consumidas no Brasil, o que causa certo receio com outros estilos. Mas, além disso, enfrentam uma resistência natural do mercado, dominado por quatro grandes cervejarias (Ambev, Grupo Petrópolis, Kirin Brasil e Heineken Brasil), que, juntas, dominam 99% do mercado nacional.

Os tipos de cerveja

"The very many varieties of beer". (Arte: Pop Chart Lab)

“The very many varieties of beer”. (Arte: Pop Chart Lab)

Vamos começar com o básico: existe uma diferença entre tipos e estilos de cerveja. Enquanto estilos são diversos, tipos são apenas dois: Lager e Ale. As Lagers são mais conhecidas do público brasileiro, pois a grande maioria das comercializadas por aqui são de estilo Pilsen, pertencentes ao tipo Lager. São produzidas a temperaturas mais baixas, e por aqui costumam ser mais leves e refrescantes, embora isso não seja regra ao redor do mundo.

As Ales são cervejas com fermentação alta, ao contrário das Lagers, e por isso são mais “complexas e frutadas”, possuindo uma gama de estilos muito maior. Isso faz com que esse tipo seja mais propício para a produção artesanal, também pelo fato de não serem muito populares no Brasil. “Quem conhece acaba comprando mais Ale, porque é diferente do que tem no supermercado”, explica Thiago Ferreira, dono de uma loja de cervejas especiais em Bauru, que garante que também existem Lagers artesanais que fazem sucesso.

O que são cervejas artesanais?

Mas, afinal, o que são cervejas artesanais? Não existe uma definição exata, mas podemos dizer que elas são cervejas especiais, ou seja, que fazem parte de um grupo diferente das marcas das grandes cervejarias. Essas cervejas especiais podem vir de cervejarias relativamente grandes (no sentido de que já estão consolidadas no mercado e geram lucro aos investidores), ou também de microcervejarias locais, quase caseiras.

Entretanto, podemos estabelecer uma diferença entre cervejas comerciais e caseiras. Para vender uma cerveja, é necessário que o produtor responsável e a empresa (o mestre cervejeiro) tenham registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,  MAPA. As cervejas que possuem cadastro no MAPA podem ser comercializadas livremente, enquanto as outras fazem parte do homebrew, que é quando um entusiasta decide fazer a própria cerveja na cozinha de casa.

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Prateleira com cervejas artesanais brasileiras. (Foto: Alexandre Wolf)

O por quê da popularização das cervejas especiais

A resposta para essa pergunta é relativamente simples: mais variedade. Podemos dizer que essa tendência começou com pessoas cansadas da mesmice do mercado brasileiro. Eram pessoas que viajaram para países com uma forte cultura cervejeira e que se decepcionaram com a situação quando voltaram para cá. A partir daí, passaram a se esforçar para disseminar essa cultura.

“A cerveja não precisa ser aquela dourada, refrescante e amarga, pode ser qualquer coisa”, afirma Thiago Ferreira. Ele afirma que as pessoas procuram as cervejas especiais justamente para provar coisas diferentes do que encontram no mercado, e que acabam se “fidelizando”. “Cada pessoa possui um gosto diferente, e elas desenvolvem esse gosto quando começam a experimentar cervejas especiais”, ele explica. A partir daí, tendem a experimentar mais daquele estilo de cerveja e conhecer mais a respeito.

Quem consome esse tipo de cerveja?

Que cervejas especiais podem ser totalmente diferente das tradicionais, já descobrimos. Mas isso levanta outras questões. “Produzir esse tipo de cerveja é barato? Todo mundo pode comprar?” são algumas delas. Thiago explica que, no geral, cervejas especiais são mais caras por razões simples. “Os processos de produção de cerveja são semelhantes, o que diferencia uma popular de uma especial é praticamente a qualidade dos ingredientes”, ele conta.

Entretanto, esse fator aumenta o preço final do produto, o que dificulta o acesso para as classes mais baixas da população, em especial de países em desenvolvimento, como o Brasil. A loja do Thiago, por exemplo, é voltada para o público A e B, que ainda é a maioria desse mercado. As classes C e D ainda são obrigadas a consumir marcas baratas das grandes cervejarias, ou seja: estas entram no jogo pela quantidade em detrimento da qualidade (o que diminui o preço), enquanto as menores entram pela qualidade. Claro que a relação não é tão simples, afinal, as grandes cervejarias possuem um leque enorme de opções, das mais simples às mais caras, mas a ideia geral é essa.

Prateleira de cervejas especiais em loja em Bauru. (Foto: Alexandre Wolf)

Prateleira de cervejas especiais em loja em Bauru. (Foto: Alexandre Wolf)

Espaço para todos os tipos

Mesmo assim, quem consome cervejas especiais, não o faz da mesma maneira que consome uma popular. “Ninguém vai levar uma cerveja especial num churrasco, por exemplo, porque uma garrafa custa 20, 30 reais”, diz Thiago Ferreira. Por isso, cada uma tem seu espaço. As mais populares são consumidas em quantidade, enquanto as especiais ainda estão restritas à degustação e ocasiões especiais. Inclusive, pode ser uma boa opção de presente para um amante de cerveja, mas é importante saber qual a preferência da pessoa antes.

As cervejas especiais podem ser usadas até mesmo para fidelizar seus clientes oferecendo um serviço especial e diferenciado, como é o caso da barbearia Sr. Raposo, que, com a colaboração da cervejaria No Limits, criou sua própria cerveja. Guilherme Monteiro, proprietário da barbearia conta: “o conceito de barbearia é um conceito masculino e o homem normalmente tem o costume de beber cerveja, com essa moda agora de cervejas artesanais veio a ideia de adquirir uma cerveja artesanal para a barbearia”.

“Hoje em dia todo mundo gosta de uma coisa de qualidade, cerveja sempre foi muito comum com poucas marcas, hoje em dia tem cerveja de pimenta, cerveja de abóbora, o legal é esse diferencial”. A Sr. Raposo oferece justamente isso, com duas opções para seus clientes, uma Pale Ale, com um amargor um pouco maior e uma segunda com um adicional de pimenta.

Cervejas da Barbearia Sr. Raposo. (Foto: Alexandre Wolf)

Cervejas da Barbearia Sr. Raposo. (Foto: Alexandre Wolf)

Cerveja e comida

Devido ao preço e qualidade do produto, as cervejas especiais acabaram por desenvolver um vínculo com a gastronomia. A cerveja parou de ser considerada uma bebida para “encher a cara” ou simplesmente se refrescar, e, graças a infinita variedade de tipos e estilos, elas começaram a ser harmonizadas com pratos específicos. “É um produto que não se consome em qualquer momento e com qualquer coisa”, conta Thiago.

Isso é, inclusive, pensado diretamente pelos produtores, que costumam informar no próprio rótulo quais são os pratos mais recomendados para consumir com aquela bebida. Essa relação ajudou a criar uma aura de “gourmetização” das cervejas especiais, fazendo com que elas fossem vistas com outros olhos, mais delicados e cuidadosos com o tipo de bebida consumido juntamente com certo alimento.

A cerveja como hobby

Com a grande variedade de marcas e o anseio de conhecer melhor seu paladar e as opções disponíveis no mercado é fácil de entender como as cervejas especiais podem acabar virando um hobby que vai além do consumo e entra na produção. O homebrewing é uma prática que tem ganhado muito força entre fãs de cerveja, afinal, se cerveja é tão bom, porque não fazer a própria?

Se apoiando na história milenar da cerveja é cada vez mais comum ver pessoas deixando de lado os processos industriais a favor de uma produção caseira, é o caso de Fernando Broetto, professor da UNESP Botucatu que não só produz sua própria cerveja mas também dá cursos ensinando seus processos de produção, para ele, o homebrewing é uma tendência mundial, já com muita força nos Estados Unidos e que começa a ter impacto no Brasil onde o número de micro cervejeiros ainda é muito pequeno em comparação.

Falando sobre aprender as técnicas de homebrewing Fernando afirma que “o conhecimento é de fácil acesso, mas depende de concentração e disciplina para seguir regras temporais e de assepsia. São conhecimentos relativamente simples mas exigem dedicação”. E de fato, existem muitas vias para aprender as técnicas mais básicas, fóruns e cursos especializados são cada vez mais comuns (inclusive o próprio Fernando oferece um destes cursos), com conceitos didáticos e fáceis de acompanhar é possível iniciar a sua primeira leva de cervejas com facilidade.

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Cervejas especiais importadas. (Foto: Alexandre Wolf)

E os processos são surpreendentemente acessíveis, com um investimento de pouco mais de 100 reais é possível comprar os ingredientes necessários para iniciar sua carreira de cervejeiro. “O cervejeiro precisa saber controlar temperaturas e tempos e precisa ter conhecimentos básicos de higiene. Acredito que qualquer cidadão que tenha nível médio de escolaridade é capaz de produzir cervejas, mas isso não é nenhuma regra.” afirma Fernando. Mas como todo bom hobby sempre existem oportunidades para expandir e investir, equipamentos para melhor controlar os processos de fermentação passam dos mil reais.

Quando falamos de homebrewing precisamos mais uma vez falar sobre os tipos de cerveja, as Lagers e as Ales. As diferenças de tempo e temperatura para a fabricação destas duas variedades acabam dificultando o processo para microcervejeiros. “Se voce quiser produzir as cervejas lager, terá que garantir temperaturas entre 11 e 13 graus, para a fermentação. Além disso, o tempo de fermentação é praticamente o dobro das cervejas Ale”, cita Fernando. Em comparação as cervejas Ale pedem uma temperatura de até 23 graus para sua fermentação,  muitas vezes podendo ser feita em temperatura ambiente.

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A prática do homebrewing tem ganhado adeptos no país. Foto: Alexandre Wolf

Mesmo com todas essas facilidades o mundo das cervejas artesanais e especiais ainda é muito restrito, os preços elevados prendem esse grupo de bebidas a uma classe de maior poder aquisitivo e mesmo com a acessibilidade relativamente baixa do homebrewing seus processos ainda exigem muita dedicação e um investimento considerável. Aos poucos, esse cenário deve se popularizar, com cervejas especiais atingindo as classes mais baixas, mas, por enquanto, consumir cervejas especiais ainda faz parte de um setor mais privilegiado da população brasileira.

 

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Redação

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