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O “projeto” K-pop: como o estilo musical do Oriente cresce no mundo e fatura milhões

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O Korean Pop , ou “ K-pop”, como ficou conhecido, se expande para o mundo todo a partir da globalização e da Internet, criando milhões de fãs espalhados pelo globo

Por Danilo Comenda e Lucas Avila

O grupo de K-pop feminino “Red Velvet”, em show de 2015

O ano é 2012. A música “Gangnam Style”, do rapper coreano “ Psy” é lançada e divulgada através do Youtube, maior canal de vídeos da Internet. Rapidamente, a música atinge os 200 milhões de visualizações, hoje são mais de 3 bilhões de views, e as coreografias protagonizadas pelo artista são reproduzidas por jovens no mundo inteiro. 

A música se mantém no topo das paradas da tradicional revista americana “Bilboard” , e Psy ainda emplaca mais outras três canções no Top 100 daquele ano ( “Gentleman”, “Hangover” e “Daddy”) sendo inclusive capa de uma edição da revista.

A trajetória meteórica do cantor é um dos exemplos mais claros da Corean Wave (onda coreana em tradução literal para o português), ou Hanliu, como é conhecido o movimento de popularização da cultura coreana, que começou nos anos 1990. Após a crise econômica dos Tigres Asiáticos, o governo sul- coreano iniciou um projeto para revitalizar a economia a partir de produtos culturais voltados para o mercado internacional. 

Com isso, a música coreana começou a receber influências de outras culturas, a fim de ser preparada para consumo não apenas nacional, mas também para atacar mercados como a China, que tinha dificuldades em produzir uma cultura própria.

Nos anos 2000, com o crescimento da Internet e, consequentemente, da globalização, o K-pop se torna o principal produto cultural coreano para a exportações, superando os dramas coreanos que fizeram muito sucesso no início da Corean Wave. 

A formação de novos grupos, como TVXQ, Seven, BIGBANG, entre outros, são cada vez mais comuns, além de artistas solos, como o próprio Psy, que surge em 2001. As músicas recebem frases em inglês, para que mais pessoas entendam as letras das músicas. Tudo visando o crescimento do K-pop na indústria musical mundial.

Para Beatriz Silva, uma das administradoras da comunidade “K-pop Brasil”, que possui mais de 40 mil de seguidores em suas redes sociais, a Internet é fundamental para se entender o crescimento do estilo no mundo. 

“O kpop era pouco evoluído na Ásia em si, e poucas pessoas conheciam o estilo.Hoje em dia a Internet ajuda bastante a conhecer mais esse estilo, não só em torno de músicas, mas também em notícias, fotos e muitas outras coisas que são do interesse dos fãs. Antigamente eram poucas pessoas que conheciam, porém graças às plataformas de vídeo, as pessoas acabam conhecendo mais e mais o kpop, e quem não conhece, pode ser apresentado a ele à qualquer momento”, diz ela.

Essa influência atingiu fortemente o Brasil. Grupos como MBLAQ (primeiro de K-pop a vir ao país, em 2011), B2ST, 4MINUTE, SuperJunior, BTS, entre outros, estiveram em turnê no país, sempre com shows lotados. Para quem vê um show desses grupos, diz que o momento é inesquecível: 

“O show foi extremamente incrível, foi realmente uma realização, já que vê-los ao vivo parece algo muito distante para a gente”, diz Caroline,18, que é fã do estilo desde os 12 e se emocionou ao ver o BTS ao vivo, seu grupo preferido e um dos que mais fazem sucesso no mundo. 

Dessa forma, é possível perceber que essa distância entre Coréia e Brasil parece diminuir cada vez mais. Além de diversos ídolos internacionais estarem marcando presença no país com shows, crescem também os grupos brasileiros de K-pop. Com características singulares, existe um crescente número de brasileiros adeptos ao jeito de fazer música coreana, com destaque para os grupos WIBE e Justfly.

Quem também possui grande relevância nesse cenário é o grupo Highhill, que se destaca por ser um dos primeiros grupos do estilo feminino no Brasil e que busca unir o Pop coreano com o brasileiro, fazendo uso de temas como empoderamento das mulheres e feminismo.

Fábrica de ídolos e de milhões 

O crescimento do K-pop não se deu por acaso, e seu projeto de expansão é, de fato, um sucesso. A indústria da música é uma das que mais cresce a partir de serviços de streaming e de anúncios, e o estilo coreano está inserido nisso, cada vez ganhando mais fãs. 

Amauri Domingos, estudioso do fenômeno da “corean wave” e autor de um artigo na Intercom de 2016 em conjunto com Mara Vidal de Souza sobre o tema, conta como o estilo de música coreano ganhou força no cenário internacional: 

“ O K-Pop foi o principal produto de exportação cultural. Foi ele que abriu as portas para que a Coréia do Sul fosse notada, reconhecida e colocada no mapa de “lugares para visitar na Ásia”. Quando a gente tinha nossos 10 anos de idade nosso sonho era viajar pro Japão e conhecer os Power Rangers, Pokemons, Digimons. Hoje nossa geração quer viajar para Coreia do Sul e não somente conhecer seus ídolos do k-pop, mas aprender a falar coreano, estudar, trabalhar, viver na Coréia do Sul. Eles não querem somente viver uma parte do sonho, eles querem toda a experiência”, explicou Amauri. 

Para se ter uma ideia, somente em 2017 essa “onda coreana” foi responsável por gerar cerca de US$ 18 bilhões de dólares para a economia sul-coreana, o que representa em torno de 18 trilhões de wons, moeda local. Quem puxa essa grande lucratividade do k-pop é o famoso grupo BTS, segundo dados do centro de estudos local, Instituto Hyundai. 

O levantamento realizado pela instituição revelou que o grupo tem gerado cerca de US$ 3,6 bilhões para o seu país por ano, o que pode ser comparado ao lucro de 26 empresas médias. Dessa forma, o instituto Hyundai classificou os sete integrantes do grupo como alguns dos itens mais valiosos e lucrativos para exportação mundial que o país apresenta.

Mas, saiba você que todo esse sucesso não surgiu na noite para o dia e foi preciso até mesmo apoio estatal. Como dito anteriormente, somente após uma crise na década de 1990 que a cultura passou a ser valorizada e receber investimentos na Coreia do Sul. O grande marco dessa grande mudança foi a criação de um setor totalmente dedicado a cultura popular em 1998, carinhosamente chamado de “departamento de k-pop”.

No ano seguinte, o estado sul-coreano também determinou que 1% do orçamento da união fosse dedicado à cultura, dando ainda mais força para o desenvolvimento e fortalecimento do k-pop. Em 2019, esse valor investido em cultura vai chegar a casa 1,89 trilhão de wons ou aproximadamente R$ 6,4 bilhões. Enquanto isso, no Brasil esse valor será de R$ 1,9 bilhão, quantia prevista no final da gestão de Michel Temer, antes da extinção do Ministério da Cultura no atual governo.

Mas, o auxílio estatal sul-coreano não parou apenas nesse repasse do Ministério da Cultura. Em 2005, foi criado um fundo de US$ 1 bilhão voltado exclusivamente ao k-pop, com o objetivo de encontrar cada vez mais artistas e grupos de k-pop, fazendo aumentar ainda mais o lucro gerado por todo o movimento. 

Após todo esse investimento, a Coreia do Sul saltou da da 30º posição para o 6º maior mercado de música do mundo de 2007 a 2017, superando até mesmo Brasil. Além disso, também segundo dados do Instituto Hyundai, o turismo mais do que triplicou no país nos últimos 15 anos, onde 1 a cada 13 turistas que visitam o país afirmam que o BTS foi o motivo principal da viagem foi o grupo BTS. 

Mas, o k-pop não é o único caso de sucesso que existe atualmente no país asiático. Desde 2000 a Coreia do Sul triplicou o seu Produto Interno Bruto, pulando de US$ 500 bilhões no começo do século para a impressionante marca de 1,5 trilhão em 2018. Com isso, é possível compreender que a música e a cultura do K-pop estão inseridos dentro de um cenário de grande inovação e uso de tecnologia.

Para Amauri, essa valorização da própria cultura pode ser uma lição a ser aprendida por nós, brasileiros. 

“Acho que podemos tirar disso essa questão da  valorização da nação. Quando a Coréia do Sul decide enlatar sua cultura e vender ela não quer só que a gente consuma como a cultura enlatada norte americana, ela quer que os sul coreanos voltem a consumir sua própria cultura, sintam orgulho e fortaleçam esse movimento econômico.” afirmou ele. 

Dessa forma, seria o K-pop capaz de se equiparar ou até mesmo superar a supremacia do pop do Ocidente nesse momento de globalização? Resta esperar.

Do que podemos ter certeza é que já existe uma legião de kpopers no mundo inteiro, fiéis à seus artistas e, cada vez mais, incorporando a cultura coreana ao seu estilo de vida.


Redação

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