Escreva para pesquisar

O que você sabe sobre o São João?

Compartilhe

Entenda a origem das festas, crenças e tradições deste período, marcado por muita alegria, comidas típicas e devoção
 
Camila Gabrielle
 
O mês de junho representa o início do inverno no Brasil, mas também aquece o coração de muitos brasileiros. São os festejos juninos, que marcam o país com uma tradição que se reflete em danças, comidas típicas, celebrações e muita fé, reforçando a cultura local.
 
As celebrações começam de acordo com a comemoração aos santos. A primeira, no dia 13 de junho (Dia de Santo Antônio), 24 de junho (Dia de São João) e por fim, 29 de junho (Dia de São Pedro).
 
Segundo a professora-adjunta de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Edna Maria, as festas juninas são um período marcado por muitas ações  culturais específicas de cada região.
 
“ As simpatias para santo Antônio, para arrumar namorado, a decoração das casas e dos espaços públicos que remetem ao mundo rural nordestino, balões e bandeirolas pendurados nos tetos e janelas, a culinária muito específica com alimentos de época e a festa em comemoração a São João com a tradicional fogueira na porta de casa, regadas a muita comida derivada do milho, amendoim e forró para dançar e ouvir”, explica.
 
A professora também ressalta que a noite de São João é muito animada, “com fogos de artifício e reunião da família e amigos em torno das fogueiras. Em Sergipe, São Pedro tem uma festa muito específica que mistura religiosidade com devoção popular: a festa do Mastro na cidade de Capela.”

À esquerda, Santo Antônio,  São João e São Pedro. Os santos marcam a abertura dos festejos juninos/ Crédito: reprodução
 
Origem
 
A origem dos festejos juninos apresenta algumas controvérsias. A primeira explicação acerca de seu surgimento, diz que as festas surgiram em homenagens aos santos: São João, São Pedro e Santo Antônio.
 
Já a outra versão, diz que a festa veio da Europa, que é majoritariamente católica, e se instalou no Brasil por influência portuguesa. No período colonial, Portugal colonizou o Brasil. No começo, a festa se chamava: Joanina, em homenagem a São João, apenas, e celebra o nascimento do santo São João, que preparou a vinda de Jesus Cristo.
 
Edna explica que “a origem das festas juninas no Brasil relaciona-se aos festejos de devoção aos santos populares do mês de junho em Portugal e foram trazidas com o colonizador que, católico, adaptou alguns elementos e continuou a festejá-los. Era essencialmente um costume de comunidades rurais. A questão maior sempre envolveu o fato de na Europa ser uma tradição pagã, anterior ao cristianismo e apropriada pelo Catolicismo na Idade Média em que as comunidades festejam a mudança de estação.”
 
Principalmente para os nordestinos, as festas juninas se referem à terra e sua fertilidade, já que nos meses de junho e julho é comum chover na região. Ou seja, existe o louvor à terra. E junto com ele, muita fé, religiosidade, comidas típicas, danças entre outros.
 
De acordo com a professora de História, os festejos são importantes pois ajudam a fortalecer a cultura local na medida em que “seus agentes se percebem como portadores de especificidades culturais da região, na qual há um jeito muito particular de festejar e pela percepção da diferença de que é uma festa que não possui a mesma dinâmica ou dimensão nas demais regiões. O modo de festejar é repassado de geração à geração, está presente no sistema educacional e é vivenciado por todas as classes sociais.”
quadrilha.png
As quadrilhas enchem os festejos juninos de muita cor e beleza /crédito: reprodução
 
Os santos
-Santo Antônio
O santo também é conhecido como “António de Pádua”, nasceu em Lisboa em 15 de agosto de uma data não muito definida. Supõe-se que entre 1191-1195. Morreu novo, em 1231.
Existem muitas tradições que envolvem o santo, principalmente no nordeste. As festas em homenagem ao santo, duram muitos dias e atraem milhares de devotos. Entre eles, mulheres solteiras que querem encontrar um par. Existe uma tradição que diz que as mulheres que tocam o pau da bandeira em homenagem ao santo, casarão em um ano.
 
-São João
São João nasceu em Israel. Seu pai Zacarias era sacerdote do templo em Jerusalém. Sua mãe Isabel, já era de idade avançada e prima de Maria, Mãe de Jesus. O nascimento de João foi um milagre e o santo serviu para preparar o caminho de Cristo.
João quando adulto, pregou sobre conversão e batizava as pessoas que buscavam serem limpas de seus pecados. Ficou conhecido como João Batista, o que batiza.
 
-São Pedro
Pedro foi um dos discípulos de Jesus e se tornou seu apóstolo após a ressurreição de Cristo. Pedro significa “rocha” e é considerado o primeiro bispo da igreja católica, em Roma, sendo também seu primeiro Papa.
 
 
O São João e os países
Os festejos apresentam influências externas desde sua origem. Para Otavio Barduzzi, antropólogo, doutorando em Ciências sociais e especialista em manifestações religiosas do Brasil, este período representa uma síntese cultural da história dos povos que formaram o país.
 
“ É importante pois demonstra a permanência de costumes muito antigos. Os portugueses festejavam os seus santos nessa época bem como os índios festejavam a colheita e assim se juntavam as festas. Cada festa era um elemento agregador de bairros e paróquias onde o povo se juntava para comemorar e trazer a fartura num país em que o povo sempre esteve com fome”, explica.
 
Cada região do Brasil traz consigo sua peculiaridade e influência. O antropólogo explica que “ está naquilo que chamamos do que é ser caipira, que vem da palavra Tupi Caaipora, ou morador da mata – Caa: mata/pora: o que habita – sendo que o Brasil teve uma história rural. Festejar era fundamental.  As principais tradições são as comidas típicas como milho, quentão e pipoca, bem como sempre havia festejos de casamento, até hoje nas quadrilhas há a figura do casamento. ”
 
Porém, Otávio ressalta que algumas tradições foram se perdendo ao longo do tempo.  “Na festa cada um contribuía e todos comiam. Hoje tem que se pagar pelos alimentos, sendo encapada pelo capitalismo moderno, assim como o sertanejo já não é o raiz, está encampado pela indústria cultural através do sertanejo universitário. Por exemplo, a festa original era no que Darcy Ribeiro chamava de Paulistânia ou região caipira (São Paulo, norte do PR, Sul de minas, RJ e sul do MS)”.
 
Tradições
São inúmeras neste período e cada região tem a sua. Muitos países contribuíram para a formação das festas que conhecemos hoje. Por exemplo, é provável que a França tenha influenciado o que conhecemos como quadrilha.
 
tradição
Neste período é muito comum comprar fitinhas, bombinhas, bandeirinhas, imagem dos santinhos e muita decoração para casa/ crédito: reprodução
 
A tradição de soltar fogos de artifício é chinesa e a dança de fitas, de Portugal e Espanha. Isto se misturou a tradições indígenas, africanas e em cada região do país (com suas características particulares).
Comidas Típicas
 
Junho é o mês da colheita do milho e boa parte das comidas típicas de São João envolvem este alimento. As comidas representam umas das melhores partes dos festejos juninos que são bem recheados de milho cozido, cuscuz, bolo de milho, pamonha, mungunzá, canjica.
Além disso tem cocada, paçoca, pipoca, bolo de macaxeira, pé-de-moleque, arroz-doce, entre tantas outras receitas. O cravo, canela, leite e açúcar são muito utilizados nesse período, reforçando as delícias das comidas de São João.
Tadeu Nonato, é chef de cozinha em Salvador, na Bahia e conhece bem a diversidade de pratos típicos deste período. Segundo ele, apesar de o modelo de festa junina no Nordeste ter sua base na cultura Europeia, os costumes de alimentos e música foram influenciados pelos negros e indígenas.
Acerca da utilização tão marcante do milho neste período, ele explica que “o milho por ser tão antigo era utilizado por várias civilizações, inclusive, os povos indígenas brasileiros. No Nordeste, o seu plantio era de subsistência assim como a mandioca.”
 
comida tipica
Os festejos juninos são marcados, principalmente, por delícias do milho/ crédito: Reprodução
 
Além disso, ele comenta que esta comida milenar pode ser utilizada de várias formas. “Pode ser utilizado cru, ralado, cozido, assado, fermentado e até mesmo como pipoca”.
 
Tadeu também orienta sobre receitas para este período. “O abarem é uma receita feita a base de milho sendo que ele pode ser doce ou salgado. No doce é adicionado Mel, no milho verde ralado. Depois, é colocado dentro da folha de banana para cozinhar. Já o salgado, adiciona camarão seco e segue o mesmo cozimento”.  Confira uma receita deliciosa de pamonha, ensinada pelo chef.
pamonha
Infográfico: Camila Gabrielle
 
Danças
 
No Nordeste, é muito comum a formação de grupos festeiros para dançar forró, principalmente o pé-de-serra. Ainda se existe a tradição, principalmente em interiores, dos grupos saírem pelas ruas dançando e irem cumprimentando aos moradores.
 
Os principais instrumentos tocados são triângulo, pandeiro, zabumba e sanfona. É muito comum então a formação de Arraias, espaços que serão coloridos por bandeirinhas, balões e palhas de coqueiro, por exemplo.  Todo o evento conta também com muita música. Tem quadrilha, arrasta pé, concursos de rainha do milho, casamentos caipiras. É tradição que não acaba mais.
 
Crenças
São inúmeras e cada região tem a sua. Neste período é muito comum rezar para santo Antônio, o santo casamenteiro. Tem gente que coloca o santo de cabeça para baixo, embaixo da cama e faz algumas preces pedindo um par.
 
E as crenças ligadas ao casamento são inúmeras. Em Sergipe, por exemplo, tem-se as seguintes tradições:
 
 

  • O ato de enfiar a faca nova e virgem, numa bananeira, mostra no dia seguinte o nome da pessoa que você vai casar.

 

  • Colocar um cravo num copo com água na véspera de São João, às 6 horas da noite, no outro dia, se o cravo estiver viçoso é sinal de casamento. Se estiver murcho indica que a pessoa não vai encontrar um par.

 
 

  • Na noite de São João ou de Santo Antônio, colocar água num prato e acender uma vela que nunca foi usada anteriormente. Reze uma “salve rainha”. Quando terminar, os pingos de vela indicarão o nome da pessoa com quem você vai casar.

 
 
Além das crenças nos santos, o forró é muito forte, principalmente no Nordeste, onde os festejos duram mais de um mês. Otávio Barduzi destaca que “na cidade de Estância, em Sergipe, tem brincadeiras com o “Barco de Fogo”, e Capela, no mesmo município, com a “Festa do Mastro”. No Norte tem muito doce típico e no Sudeste destacam-se os seguintes doces: abóbora, goiabada, paçoca – que é indígena em sua origem. Na região Belém/Parintins/Manaus, no lugar da quadrilha, ouve-se a toada do boi-bumbá, que por si é uma tradição que não remete só a colheita, mas a pecuária. No Centro-Oeste há a lavagem dos santos e no Sul é permeado de músicas gaúchas como o bailado, e pratos típicos daquela região” reforçando que cada local tem sua cultura e formas de festejar específicas.”
 
 
Fogueira
A fogueira é um dos ícones mais simbólicos neste período de São João. A lenda diz que isto acontece porque Maria, mãe de jesus e prima de Isabel, mãe de João, se encontraram antes do nascimento de João Batista. Maria combinou com José, seu noivo, que quando João nascesse, acenderia uma fogueira em frente da casa para que ele fosse buscá-la. É por isso, que em forma de louvor ao santo se acendem fogueiras neste período.
 
Apesar da importância religiosa e da fogueira ser um ícone neste período, é muito importante tomar cuidado e ter atenção, pois neste período muitas queimaduras são registradas nos hospitais. Não apenas pelo uso incorreto de se acender uma fogueira, mas também pelo uso de bombas e fogos de artifício.
 
fogueira.png
Crédito: Reprodução
 
Nordeste
A região Nordeste é uma das mais fortes a comemorar o São João. A professora Edna acredita que esta região é a mais influenciada por este festejo. Ela explica que “em razão do lento processo de urbanização que permitiu que a modernidade não destruísse por completo as manifestações de origem rural, podendo se atualizar e, assim, continuar a ser festejada. O enraizamento da cultura portuguesa e africana nessa região, mais denso e menos permeável a influência de outras culturas que chegaram ao Brasil resultante de processos imigratórios também pode ser associado.”
Ainda de acordo com a professora, estes festejos contribuem para o processo de formação identitária, porque “muitos aspectos estéticos (temas e cores), na música – um estilo típico da região cujas letras abordam aspectos da vida do nordestino e seus modos (s) de falar –, de dançar (com o forró, xaxado, etc) são evidenciados e valorizados como marcadores de uma identidade cultural, um jeito próprio de ser”.
E além de todas as tradições e crenças, existem festas comuns neste período, na região. Algumas das mais comuns são: São João de Campina Grande, na Paraíba (que é considerada a maior festa de São João do mundo), São João de Caruaru, em Pernambuco  e o Bumba-meu-boi, em São Luís.
 
Religiosidade
Otávio destaca que não há fortalecimento religioso e sim, laços sociais. “Se por exemplo alguém católico conhece alguém não católico pode haver uma conversão, mas isso acontece muito mais em nível pessoal do que social. Um fato que observei em minhas pesquisas foi a diferente roupagem que outras religiões dão a festa, por exemplo em São Paulo no Bairro da liberdade, japoneses incluem pratos e dança típica de tradição japonesa na festa e não adoram os santos, assim como em várias igrejas evangélicas surgem as ”festas de invernos” que tem todos elementos de uma festa junina menos a dedicação aos santos. Portanto a festa dura, a social dura, já o religioso muda, entra em crise. ”
 
igreja.png
Igreja em Caruaru, devoção e comemoração/ crédito: Reprodução
 
O antropólogo destaca que é importante ter o respeito e não apenas festejar, mas conservar as tradições porque isto contribui para que as pessoas identifiquem suas raízes estando ao mesmo tempo, abertos ao novo. “O melhor da festa junina é agregar, quem sabe se as pessoas aprenderem possam fazer festas onde todos, do mais pobre ao mais rico serem tratados como iguais e todos possam comer com fartura pela força da cooperação e não do comércio”.
 

Redação

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Nam quis venenatis ligula, a venenatis ex. In ut ante vel eros rhoncus sollicitudin. Quisque tristique odio ipsum, id accumsan nisi faucibus at. Suspendisse fermentum, felis sed suscipit aliquet, quam massa aliquam nibh, vitae cursus magna metus a odio. Vestibulum convallis cursus leo, non dictum ipsum condimentum et. Duis rutrum felis nec faucibus feugiat. Nam dapibus quam magna, vel blandit purus dapibus in. Donec consequat eleifend porta. Etiam suscipit dolor non leo ullamcorper elementum. Orci varius natoque penatibus et magnis dis parturient montes, nascetur ridiculus mus. Mauris imperdiet arcu lacus, sit amet congue enim finibus eu. Morbi pharetra sodales maximus. Integer vitae risus vitae arcu mattis varius. Pellentesque massa nisl, blandit non leo eu, molestie auctor sapien.

    1

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *