Quando uma mulher e um homem cisgênero (indivíduo que se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu) desempregados se deparam com a taxa de desocupação de 12,4% do trimestre fechado em fevereiro, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), eles se veem nestes números e sabem, ao menos, o básico para continuar tentando sair do grupo de 13,1 milhões da população desocupada. Mas como é esta busca para mulheres e homens trans que estão desempregados?
Cézar e Kadu. Duas pessoas com vidas diferentes, que encaram a luta pela sobrevivência e buscam ultrapassar a expectativa de vida de um transgênero – que é hoje, em média, 35 anos. Mais do que simplesmente sobreviver, levar a sua vida de forma digna e com oportunidades iguais às de qualquer um. Kadu Henrique Furtado tem 29 anos e trabalha como agente de relacionamento de Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). Ele estudou três anos de medicina veterinária, mas trancou o curso por não poder ser quem realmente era. “A maioria das vagas são indicadas por alguém que respeita o trans. Poucas empresas permitem um plano de carreira com igualdade como deve ser. Transexuais que já estão em transição ou já obtiveram mudanças físicas conseguem com uma maior facilidade, pois fica mais fácil para as organizações”, conta o rapaz. Cézar Sant Anna tem uma opinião parecida. Segundo ele, a maior dificuldade de inclusão das pessoas trans é as empresas não possuírem políticas reais para tal finalidade. “Não acho que somos um país inclusivo. Desde a formulação do currículo, há um receio sobre qual nome devemos colocar: o nome social ou o que consta nos documentos. Seja qual for a escolha, seremos questionados sobre nossa ‘condição’ em algum momento. É difícil encontrar um RH que esteja capacitado para lidar com essas questões”, ele afirma.
Por incrível que pareça não há acompanhamento de dados de empregabilidade desta parcela da população. As organizações sociais e redes de acolhimento realizam monitoramentos e produzem relatórios, mas continuam cobrando do Estado uma posição mais efetiva. A procura por trabalho anda de mãos dadas com a luta por sobrevivência no país onde mais se mata transexuais.
Segundo a ONG Transgender Europe (TGEU), 167 transexuais foram mortos no Brasil entre 1º de outubro de 2017 e 1º de outubro de 2018, mantendo o país no primeiro lugar no ranking de 72 países. A pesquisa, que é divulgada anualmente, evidenciou o México em segundo lugar com 72 vítimas, seguido dos Estados Unidos com 28. Já de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 179 pessoas trans e travestis foram assassinadas no país em 2017 e 70% destas vítimas eram profissionais do sexo. Ainda segundo a Antra, 90% da população trans brasileira tem na prostituição a fonte única de renda.
Ninguém aguenta mais as situações que os transexuais são expostos, até quando os direitos cívicos e sociais serão definidos pela escolha do seu próprio sexo? Será que estes dados, enfim, serão levados a sério para serem estudados e registrados de forma correta?
Texto: Aline Campanha e Luisa Volpe.