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O mercado de turismo no Brasil não está imune à crise econômica que assola o país – e a previsões não são das mais otimistas.
Por Pedro Cardoso
A crise no mercado interno não é recente e tem atingido diretamente o PIB nacional; o setor de turismo, que durante anos apresentou um superávit comercial e constantemente esteve imune ao abalo na economia, viu nos últimos tempos o desempenho econômico no setor despencar consideravelmente e, de acordo com os especialistas, a colisão do setor no mercado parece ser, além de inevitável, iminente.
É com um tom de acentuado pessimismo que a dona de uma agência de turismo na cidade de Sorocaba, Juliana Prado Souza, avalia o impacto da atual crise econômica no setor. “Nós somos uma das linhas de frente do mercado. Quando algo começa a dar errado, os primeiros a serem afetados somos nós”, pondera. Segundo a empresária, as agências de turismo da região tiveram uma queda média de 30% a 40% nas vendas na comparação do segundo semestre do ano passado com o mesmo período do ano de 2014.
“Em 2014, já sentimos um pouco da crise. Foi um susto e tanto, mas este ano fugiu do controle. Setembro, por exemplo, tive uma queda violenta de 50% nas vendas, na comparação com o mesmo mês do ano passado”, relata Juliana, que garante que as baixas não são exclusivas das agências de viagens. “Operadoras, rede hoteleiras, companhias aéreas, todas foram afetadas pela crise”, diz. “Esse clima de preocupação faz com que as pessoas comecem a cortar gastos e adiem suas viagens” completa.
Apesar da crise geral, os destinos nacionais foram menos afetados do que os internacionais por não serem comercializados em dólar. Fernando de Noronha (foto) é um dos destinos mais procurados pelos turistas. (créditos: divulgação).
Brasil
O panorama nacional é semelhante, conforme dados estatísticos do Instituto de Pesquisas, Estudos e Capacitação em Turismo (Ipeturis) para o Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (SindeturSP) aponta que 82,1% das agências vêm sofrendo com a crise.
Entre as empresas que indicaram influência negativa na movimentação, a queda superior a 20% foi apontada tanto nas vendas para pessoas físicas (71,6% das empresas consultadas), quanto nas vendas para público corporativo privado (45,1% das empresas).
A alta cambial e instabilidade do dólar (41%), a instabilidade econômica (19,9%) e o receio na compra de viagens (7,3%) são as principais justificativas para esta diminuição da movimentação de viagens na Temporada de Verão 2015-2016.
Menos afetado
Diferentemente da agência de Juliana Souza, o economista e gerente de outra agência na cidade de Sorocaba, João Soares, acredita que o setor de turismo é o menos afetado, quando comparado com outros segmentos do varejo.
“Não podemos reclamar da crise. O maior problema que enfrentamos foi a crise da Nascimento Turismo. Isso nos afetou mais do que a crise em si. Tivemos uma queda de 20% na comparação dos semestres, mas boa parte em função disso”, explica.
Considerada a segunda maior operadora de viagens no Brasil, a Nascimento Turismo entrou, em maio, com pedido de recuperação judicial, que é quando uma empresa está enfrentando uma crise econômica e precisa de tempo para se reestruturar. A empresa existe há 50 anos e tem nove unidades em três estados. A maior parte do que vende é para agências de viagem – são mais de mil em todo o país
A medida, que pegou clientes e agências de turismo de surpresa ,serviu para “mostrar a importância de comprar pacotes nessas lojas”, avalia o economista. “Todas agências honraram seus compromissos. Comprando com a agência, o cliente não fica na mão nunca”, pondera Soares.
A nova aposta das agencias de turismo são os pacotes de minicruzeiros, com duração de até 4 dias. (créditos: divulgação).
Sem demissões
Apesar do mantra de que, em tempos de crise, é necessário enxugar gastos e, com isso, demitir funcionários, não é isso que está acontecendo. Trabalhando com equipes enxutas, as agências afirmam que não precisaram desligar funcionários, mesmo com a baixa nas vendas. “Trabalhamos com uma equipe pequena. Somos apenas três pessoas aqui”, aponta João Soares.
Com 11 funcionários em suas duas lojas, a agência de Juliana Souza também manteve o quadro de colaboradores inalterado. “Para reduzir custos não posso pensar em demitir. Existem outras formas. Preciso das pessoas motivadas ao meu lado para vencer o momento”, explica a empresária.
Para Juliana, a crise no setor de turismo ainda irá continuar a medida em que a crise econômica perdure. Para ela, só irá sobreviver à crise quem tiver sabedoria e tino comercial. “Não se pode vender hoje para pagar amanhã. O caso da Nascimento Turismo abalou o mercado, mas a maioria das agências honrou os compromissos”.
De nada adianta realizar previsões, já que no mercado econômico, o que reina é a imprevisibilidade. Nesses períodos de turbulência, não há outro jeito senão apertar, firmemente, os cintos.
