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Turnê Metallica By Request é símbolo da renovação do maior ícone do thrash metal

Ana Luiza Martins

Em abril de 2000, o Metallica descobriu que a fita demo da música “I disappear”, faixa presente na trilha sonora do blockbuster Missão Impossível II, havia vazado e a canção já estava tocando nas rádios. Compartilhamento online de músicas não finalizadas pode ser absolutamente normal para artistas e fãs hoje, 14 anos depois. Porém, quando o Metallica viu uma de suas músicas disponível para o público antes do lançamento oficial da banda, graças a um programa chamado Napster, o baterista Lars Ulrich encabeçou uma batalha judicial por direitos autorais que é símbolo da falência do modelo de negócios antigo promovido pela indústria fonográfica. O programa criado por dois adolescentes permitia o compartilhamento de músicas em formato MP3 pela internet. A falta de controle sobre suas criações assustou muitos artistas, que se sentiam ameaçados perante o que eles chamavam de violação de direitos autorais. O Metallica, na figura de Lars Ulrich, se tornou a imagem dessa briga perdida não só pelos outros artistas que demonizavam o Napster como principalmente pelas grandes gravadoras. Os embates entre Lars e Shawn Fanning, um dos criadores do Napster, são um capítulo importante no documentário “Some Kind of Monster|”, que retrata a banda em uma de suas fases mais críticas. Para Lars, esse capítulo da história do Metallica já ficou para trás, e o baterista afirma que a mídia e os fãs acabaram dando mais importância ao fato do que a própria banda.

A verdade é que o embate entre Metallica e o compartilhamento de conteúdo online de fato é página virada. E não só pelo fato de recentemente Lars ter tido um encontro amigável com Sean Parker, outro criador do Napster. Após cada show da banda, os fãs cadastrados no site oficial do Metallica recebem um e-mail disponibilizando um link para download do concerto recém-realizado. Cada faixa tocada ao vivo está em formato MP3 e pode ser adquirida por cerca de um dólar. Outro link direciona para um catálogo de shows antigos começando pelo ano de 1982. A diferença é que esse acervo pode ser baixado gratuitamente. No Youtube, o canal MetallicaTV disponibiliza vídeos em alta qualidade de vários momentos da banda, tanto no backstage quanto no palco.

O episódio com o Napster e seus desdobramentos ilustra como James Hetfield e companhia foram capazes de se adequar aos novos moldes da indústria fonográfica. Mas as renovações da maior banda de thrash metal do mundo não param por aí. Depois de mais de 30 anos de estrada e muitas histórias para contar, em 2014 o Metallica decidiu que ia permitir que os fãs participassem diretamente da decisão mais importante a ser tomada em relação a um show ao vivo: o setlist.

O conceito da atual turnê do Metallica é simples: os fãs, ao adquirirem ingressos, são convidados a votar em 17 de todas as músicas já lançadas pela banda.  O convite só vale para quem compra o ingresso online. Com acesso à votação, o fã basicamente se vê desesperado tentando definir quais músicas merecem ou não serem executadas ao vivo.

Dados da Billboard sobre o faturamento da By Request, em milhões de dólares. (Arte: Ana Luiza Martins)

Dados da Billboard sobre o faturamento da By Request, em milhões de dólares. (Arte: Ana Luiza Martins)

Como tudo que o Metallica faz a By Request também gerou suas polêmicas, o que é natural quando se colocam milhares de fãs para duelar virtualmente em defesa de suas canções favoritas. Após o anúncio, em dezembro de 2013, de que a turnê passaria por São Paulo em 22 de março de 2014, fãs clubes se uniram para incluir músicas esquecidas pela banda em seu repertório, como a nunca tocada na íntegra “The Frayed ends of Sanity”, do álbum “… And Justice for All”. Porém, as primeiras parciais mostravam que as pessoas queriam ouvir os mesmos hits já tocados aqui em 2010, na World Magnetic Tour, e em 2011 e 2013, anos em que a banda se apresentou no Rock in Rio. “Master of Puppets”, carro – chefe do álbum homônimo lançado em 1986 é primeiro lugar absoluto em todos os setlists executados no braço sul americano da turnê By Request. Aliás, o mega hit também não foi destronado em nenhuma das votações nos demais países em que a banda ainda vai se apresentar. Então é possível que a ideia de participar da escolha do setlist tenha sido arruinada pelos próprios fãs? Afinal, além da estreia de “Lords of Summer”, música que debutou no primeiro show da turnê, a única novidade no Brasil foi a execução da enérgica “Whiskey in the Jar”, que nunca tinha sido tocada por aqui.

Durante o show, fãs podiam votar e incluir mais uma música no setlist. (Créditos: Divulgação)

Durante o show, fãs podiam votar e incluir mais uma música no setlist. (Créditos: Divulgação)

Para o engenheiro de computação Douglas Umaki Morita, administrador do site Metallica Remains, a turnê By Request foi positiva para a banda. “O Metallica By Request gerou um grande marketing para o grupo, fez com que a banda aparecesse em diversas mídias distintas, gerasse inúmeras discussões, e ainda deixou boa parte dos fãs felizes com a escolha do repertório. Como Lars mesmo disse em uma entrevista passada, a turnê By Request tirou dele o peso de escolher a setlist, e qualquer insatisfação das músicas escolhidas agora cai em cima dos fãs e não mais dele”, pontua Douglas.

Daniel Barboza, fã que marcou presença nos últimos cinco shows do Metallica no Brasil, acredita que o constante destaque dado pela mídia à fase clássica do Metallica, que compreende os primeiros álbuns lançados pela banda, acaba gerando desvalorização das produções recentes e de discos como Load e Reload. Comparando o primeiro show que viu, em 2010, com o quinto em 2014, Daniel percebe que a banda está cada vez mais entrosada e ainda é capaz de surpreender, tendo como exemplo a recém-lançada “Lords of Summer”.

A resposta dada pelo público durante os shows já realizados pela turnê By Request mostram que mesmo com “Sad But True” e “Nothing Else Matters” marcando presença nos setlists, ainda assim cada turnê do Metallica tem seus detalhes que fazem a diferença. Em algumas ocasiões os fãs desfrutam do snake pit, palco especial que marcou época na turnê do “Black Album” e vinte anos depois reapareceu em alguns shows para celebrar o aniversário do disco. Outros tiveram a sorte de acompanhar, no Canadá, as gravações do show apresentado no filme “Through the Never”, lançado pelo Metallica no fim de 2013.

Com a turnê By Request não foi diferente. A votação, cujo resultado previa um show sem grandes novidades, estendeu a relação entre fãs e bandas para o palco. Literalmente. Membros do MetClub, o fã cube oficial do Metallica, podem participar de sorteios que garantem aos vencedores acesso ao Meet and Greet da banda. Mas em uma turnê com shows montados pelo público as coisas deveriam ser mais especiais, e o Metallica proporcionou a um grupo de fãs o privilégio de acompanhar a apresentação do palco.

Estádio do Morumbi afora, as mais de 60 mil pessoas que compareceram a 14º apresentação da banda no Brasil incluíam jovens senhores que provavelmente estiveram presentes em grades de inúmeros shows de metal da década de 1980. Dessa vez, vários estavam instalados confortavelmente nas cadeiras cobertas do estádio com seus filhos, em uma demonstração de que a música do Metallica também se trata de herança e legado. Uma chuva insistente também compareceu ao Morumbi na noite de 22 de março, mas fãs e banda a ignoraram. A pirotecnia característica das apresentações da banda ficou comprometida, mas pouco se ouviu sobre possíveis efeitos negativos da ausência de fogos de artifício no concerto.

Sobre o Metallica ter virado figurinha carimbada no circuito de shows internacionais que passam por aqui, Douglas comenta que mesmo com as diversas apresentações da banda nos últimos anos, o show de março ainda era o primeiro que muitas pessoas iriam assistir. “E vale lembrar que antes dos shows de 2010, a última apresentação do Metallica em terras brasileiras tinha sido em 1999. Então, melhor excesso de shows do que a falta deles”.

O engenheiro também tem considerações sobre a estrutura dos shows por aqui e a seleção de músicas escolhidas pelos fãs. “Infelizmente a estrutura dos shows tem sido basicamente a mesma em todas as últimas apresentações do Metallica no Brasil. Particularmente, nesses shows do By Request, eu esperava uma setlist mais variada e com algumas raridades, o que infelizmente não aconteceu. Pela votação que tivemos nos shows desta turnê, é possível ver que, por bem  ou por mal, essa estrutura é aquela que a grande maioria dos fãs quer ver.”

O fato é que a fiel legião de fãs aliada a uma sólida discografia é o segredo da longevidade da banda. A razão para continuar lotando estádios por aí? Segundo Daniel, a resposta é simples e não abre margens para discussões: “Metallica é Metallica”!

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Redação

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