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Os avanços da Ciência e o corpo feminino

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Quebrando o tabu: menstruação, coletor menstrual, métodos contraceptivos e saúde. 

Por Catherine Paixão, Flávia Gândara e Izabella Pietro

*Homens transgêneros também menstruam e, com isso, podem engravidar.

Durante boa parte da vida de uma mulher cisgênero (que nasceu com corpo feminino e se reconhece nele) e de um homem transgênero (que nasceu com corpo feminino, mas não se reconhece nele), haverá fluxo menstrual, desde a menarca (primeira menstruação), que acontece entre os 10 e os 15 anos, até a menopausa, que acontece entre os 45 e os 50 anos. Em média, a menstruação se dá durante 30 anos, uma vez por mês, se o ciclo for regular e de 28 dias, do contrário, essa conta já aumenta, resultando em 360 menstruações ao longo da vida, um número bem alto para não saber detalhadamente o que acontece com seu corpo.

Embora seja um acontecimento comum e praticamente sem escapatória, muitas mulheres* não sabem de forma aprofundada o que acontece com seus corpos durante esse período. Em enquete realizada pela equipe de reportagem, de 2.720 mulheres* entrevistadas com variadas idades e classes sociais, 50,7% delas têm dúvidas sobre o funcionamento do seu ciclo menstrual. 

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Muitas pessoas não sabem as doenças que envolvem a menstruação e as formas de lidar com isso, por causa do tabu estabelecido neste assunto. Crédito: Izabella Pietro

Decifrando o ciclo menstrual e a menstruação

A ginecologista Eliane Freitas explica que os ciclos menstruais são controlados por uma sequência de hormônios e costumam durar em média 28 dias: “Tem início no primeiro dia menstruação, que pode durar até sete dias, e ao seu término, a pré-ovulação se inicia, que costuma durar do 8º até o 13º dia do ciclo. Nessa fase, o ovário produz hormônios e o óvulo amadurece”. A ovulação, portanto, acontece a partir do 14º dia, começando o período fértil. Na pós-ovulação, entre o 16º e o 28º dia, se o óvulo não for fecundado, será expelido pela menstruação. Se o ciclo durar 28 dias, a mulher* estará fértil entre o 10º e o 19º dia do ciclo.

A menstruação, portanto, ocorre quando o óvulo que está no útero não é fecundado, levando seu organismo a expelir esse óvulo, levando junto a parede do endométrio (camada que reveste o útero).

Nenhum óvulo novo é produzido no corpo da mulher*, o que elas possuem são aqueles que foram fabricados enquanto estavam na barriga de suas mães, por isso conforme a idade, menor as chances de engravidar, pois os óvulos também envelhecem.

Mitos e tabus

A menstruação é um assunto velado, que só existe entre pessoas que temem expor suas dúvidas e pensamentos, já que o sangue menstrual sempre foi considerado “nojento”, e estar menstruada era motivo para desmerecer opiniões e sentimentos. Na enquete realizada, foi questionado se ainda existe tabu sobre esse assunto e abaixo é possível visualizar a resposta:

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Pesquisa feita em janeiro 2016 pela equipe de reportagem. Crédito: Izabella Pietro

A própria Bíblia reforça esses mitos e preconceitos no Levítico 19, que diz: “Quando uma mulher tiver fluxo de sangue que sai do corpo, a impureza da sua menstruação durará sete dias, e quem nela tocar ficará impuro até à tarde”. Com isso, é considerada impura, suja e deve esconder esse momento. Essa citação bíblica apenas fortalece a misoginia que a mulher sofre por esse, e tantos outros motivos. Outro mito traz que se a relação sexual entrar em contato com esse sangue, só resultarão em filhas do sexo feminino; outro diz para evitar a cozinha, pois a massa do bolo não dará certo durante esse período.

Com tantos mitos e tabus sobre o assunto, é difícil para as pessoas saberem o que é melhor para elas e seus corpos. A menstruação em si já é um processo naturalmente difícil e desgastante, mas a sociedade não para de causar ainda mais desconforto. Elas são diariamente instruídas a usarem medicamento x para cólicas, contraceptivo y, marca de absorvente z, sem saber se realmente aquela é a decisão mais adequada.

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As pílulas são muito recomendadas para controlar a TPM. Crédito: Pixabay

É preciso que haja esclarecimento sobre os prós e contras de cada escolha, pois elas irão refletir no corpo de cada mulher* de forma diferente. Atualmente, existem inúmeras alternativas para o absorvente comum, para os anticoncepcionais, para os remédios que aliviam a cólica e a enxaqueca. Por isso, as informações e as novidades precisam ser divulgadas, para que cada vez mais a menstruação não seja um momento de dor e vergonha, mas sim um período natural, que pode acontecer de forma mais tranquila.

E é a partir da premissa de que toda mulher*  menstrua, e de que este ciclo é algo natural do corpo humano, que o assunto “menstruação” entrou em alta nos debates atuais, trazido de forma mais incisiva pelo movimento feminista, que aborda esse tema desde seu levante no fim da década de 1960.

A vontade da mulher* de conhecer o próprio corpo e o direito intrínseco dela a este ato, que sempre lhe foi inibido por uma ideia imposta, como dito anteriormente, está ganhando forma na sociedade atual. 

Há dois anos, um vídeo da ativista e youtuber feminista conhecida como Jout Jout Prazer fez sucesso nas redes sociais, e o título era: VAI DE COPINHO.

Foram mais de 1 milhão e 300 mil acessos.

Mas que raios é este copinho?

Copinho é o apelido dado carinhosamente pelas mulheres* ao coletor menstrual, que é uma opção de substituição para os absorventes internos e externos normalmente vendidos nas farmácias. Ele é um objeto feito de silicone cirúrgico, colocado abaixo do colo do útero, que coleta o sangue menstrual e permite que o descarte este sangue, reutilizando o copinho após higienização adequada.

A ginecologista e sexóloga Dra. Cristina Sá Oliveira acredita que esta é uma boa opção, principalmente para quem tem alergia aos absorventes descartáveis: “Para as mulheres* que têm alergia ao absorvente tradicional de calcinha, este método pode ser uma ótima alternativa”, pois não se utiliza dos componentes químicos inseridos nos descartáveis.

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Existem diversas marcas que comercializam o coletor menstrual, como Inciclo, HollyCup, Korui e Fleurity. Crédito: Wikimedia Commons

E essa inovação causou euforia no debate nacional porque, através do copinho, é possível a opção de se relacionar de forma mais próxima com seu corpo. E apesar de esse ainda ser um grande tabu na sociedade atual – se relacionar de forma mais próxima com o próprio corpo – o coletor chega ao mercado apostando na via contrária: “Culturalmente, as mulheres* têm dificuldade e preconceito para manipular a própria vagina, gerando medo e aflição para tentar introduzir e, principalmente, retirar o coletor (têm medo que fique “perdido” lá dentro)”, afirma Cristina e, justamente por isso, o feminismo é um grande aliado do coletor, por ele aproximar a mulher* do próprio corpo, estimulando o toque e o conhecimento do canal vaginal.

No entanto, assim como os absorventes descartáveis, o copinho merece alguns cuidados, senão pode gerar desconfortos, como a candidíase: “Caso não haja uma higienização adequada do coletor (lavar sempre com água e sabão neutro a cada retirada e reintrodução vaginal num mesmo ciclo menstrual, e sempre ser fervido no fim de cada ciclo, para ser guardado em recipiente limpo e longe da exposição ao sol) ou das mãos durante a sua manipulação, o coletor pode, sim, causar infecções vaginais”, complementa Cristina.

E com este assunto tão em alta, resolvemos recolher alguns depoimentos de mulheres que usam o copinho para mostrar o quanto essa medida tem agradado. É só dar o play!

Edição de vídeo: Flávia Gândara Simão

Outro fator importante que colabora para o coletor menstrual se tornar muito querido é o benefício econômico e ecológico que ele proporciona: reduz de forma significativa o descarte de materiais inorgânicos e de difícil decomposição na natureza – que são os absorventes externos e internos – além de ter longa duração, em torno de cinco a dez anos.

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Durante o período de comum de vida fértil de uma mulher, ela economiza em torno de 5000 reais ao escolher o coletor, ao invés dos absorventes descartáveis. Foto: Nathalie Portela/Crédito: Catherine Paixão

E assim como a relação próxima de conhecimento com o próprio corpo tem que existir, os cuidados com ele também devem fazer parte do dia-a-dia de cada pessoa.

Métodos contraceptivos e a saúde da mulher

Nos dias de hoje, 64% das mulheres em relações estáveis utilizam algum anticoncepcional para evitar a gravidez, segundo a ONU. Com o crescimento da procura, diversos métodos contraceptivos foram aprimorados.

A falta de informação é preocupante, porque assim muitas mulheres* buscam o contraceptivo mais conhecido, a pílula anticoncepcional, mesmo sem conhecer outros métodos e os efeitos colaterais do medicamento. No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE, 61,6% das pessoas que menstruam utilizam a pílula para evitar a gravidez, já a camisinha é utilizada por 36,6%. Outros métodos como anticoncepcionais injetáveis, DIU, camisinha feminina e diafragma possuem apenas, respectivamente, 10,1%, 3%, 1% e 0,3% de adesão respectivamente. A laqueadura tubária é utilizada por 29% das mulheres*, segundo um artigo da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Lembrando que, existem diversas delas que utilizam mais de um método contraceptivo, chamado de contracepção combinada, que aumenta a segurança e o número de eficácia do método.

A falta de informação e de diálogo com os profissionais de saúde gera pouco conhecimento dos diversos métodos existente e sobre a melhor escolha para o próprio corpo: “Tenho a impressão que a conversa sobre o que a mulher* quer e sobre seus antecedentes são defasadas ou não levadas em consideração, nem mesmo por ela. Talvez, essa conversa nos serviços de atenção à saúde devia ser ampliada”, explica Giordana Braga, ginecologista e obstetra. Ela acrescenta: “o problema é que esse diálogo não acontece com frequência. Nem a mulher* traz suas necessidades e nem o médico expõe os prós e contras dos métodos. Assim, ninguém fica satisfeito”.

Cada método contraceptivo tem uma taxa de eficácia e efeitos no corpo, alguns podem interagir com medicamentos e doenças, por isso, é necessário o  conhecimento sobre o próprio corpo e o diálogo entre paciente e médico. Braga explica que é importante o profissional de saúde e paciente criarem um perfil de características para seguirem, e assim decidirem qual método melhor se encaixa com as necessidades indicadas. “Quando isso é feito e contextualizado com as características de vida da mulher, a escolha é mais fácil, e tem mais chance a mulher ficar satisfeita com o método contraceptivo”, acrescenta a médica.

Quais são os métodos contraceptivos?

  • DIU de Cobre

O DIU é um pequeno objeto em forma de T, inserido no útero, impedindo a fecundação do ovário. Ele é um método contraceptivo hormonal. “Reduz risco de câncer de colo do útero e de endométrio e reduz mortalidade materna. Pode dar cólicas e aumentar o fluxo menstrual em algumas mulheres*”, explica Braga. Para utilizar este método é necessário ir ao ginecologista, pois é o médico que coloca o dispositivo no útero.

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“O DIU é um método de baixo custo quando comparado à pílula, e não depende de administração diária”, explica Thais Mesquita.  Crédito: Catherine Paixão

**Uso perfeito: método usado de maneira perfeita, seguindo todas as orientações e com frequência

***Uso típico: método não é sempre usado ou é usado de maneira inadequada

  • DIU Hormonal

É um método parecido com o DIU de Cobre. Ele também é inserido no útero, no entanto, utiliza de hormônios para impedir a gravidez. Pode diminuir as cólicas e o fluxo mensal, mas também, desregularizar o ciclo, gerar acne e aumentar a oleosidade da pele. Possui duração de 5 anos e também é necessário ir ao médico para utilizá-lo.

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Caroline Devidé explica os benefícios: “me sinto mais disposta, minha libido melhorou muito, meus rins funcionam melhor, eu não incho mais e não tenho TPM”. Crédito: Catherine Paixão

  • Diafragma

O diafragma é uma forma de prevenção de barreira móvel e precisa ser inserido na vagina da mulher* duas horas antes da relação sexual para impedir a fecundação do espermatozoide. Ele possui diversas tamanhos, por isso, antes de comprá-lo é necessário consultar algum especialista.

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Caso a mulher mude de peso ou engravide, é necessário trocar o tamanho do diafragma. Crédito: Catherine Paixão

  • Método Sintotermal

É o método natural de contracepção, no qual o período de ovulação é identificado a partir da temperatura corporal, medindo-a todos os dias pela manhã e anotando os dados e variações. No período fértil, a temperatura do corpo aumenta e é possível identificá-lo.

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O natural cycles é um exemplo de aplicativo que utiliza o método sintotermal. A eficácia é de 99,6%. Crédito: Izabella Pietro

  • Método de Ovulação Billings

Este método também é natural, mas baseia-se no muco vaginal – secreção natural do colo do útero – que se altera no período de ovulação. Para utilizar este método, é preciso sentir o muco diariamente. Em períodos férteis, ele torna-se denso e é produzido em maior quantidade.

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O método de ovulação billings é utilizado em conjunto com o método sintotermal para maior eficácia. Crédito: Catherine Paixão

  • Anticoncepcionais injetáveis e Anel Vaginal

Estes métodos possuem os mesmos hormônios da pílula anticoncepcional. A única diferença é que a  mulher* não precisa lembrar todo dia de tomar o medicamento, pois existe um intervalo de aplicação. Os anticoncepcionais injetáveis possuem uma taxa de eficácia de 99,8% para o uso perfeito e 94% típico. Eles custam aproximadamente R$40,00 e duram um mês.

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Anel vaginal não interfere nas relações sexuais e permanece no corpo por 21 dias. Crédito: Catherine Paixão

  • Vasectomia e Laqueadura

Cirurgias, masculina e feminina respectivamente, que impedem a fecundação do espermatozoide no ovário.

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A Vasectomia impede os canais de levarem o espermatozóide ao testículo. A Laqueadura, fecha as tubas uterinas, impedindo a gravidez. Crédito: Catherine Paixão

  • Camisinha

A camisinha é o único método contraceptivo que previne a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. Age como uma função de barreira, impedindo que o espermatozoide chegue ao óvulo. É necessário utilizar a camisinha em todas as relações sexuais.

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“Optamos (eu e meu marido) pela camisinha por ser um método não hormonal, sem efeitos colaterais e com um índice e possibilidade menor de falha”, explica Camila Canholato. Crédito: Catherine Paixão

  • Pílula Anticoncepcional

O método mais utilizado no Brasil precisa ser ingerido diariamente, preferencialmente no mesmo horário, podendo ter uma pausa entre os ciclos ou não. A eficiência dela diminui quando a mulher* esquece o comprimido algum dia ou  não o ingere no mesmo horário.

Alessandra Khede, estudante de Engenharia Ambiental, conta que antes de tomar a pílula não sentia tanta cólica e que começou e ficar muito estressada no período menstrual após o uso do método contraceptivo. No entanto, ela conta que não para de utilizar por ser o método em que mais confia. Caroline Devidé, jornalista, tomou pílula por 11 anos, primeiramente, para regular o ciclo e depois como método contraceptivo. “Sempre tive problemas hormonais e inchava muito. No ano passado, comecei a ficar muito mais inchada que o normal e já vinha percebendo a falta de líbido”, conta a ela.

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A pílula possui a eficácia de 99,7% com o uso perfeito. No entanto, a maioria da população não utiliza ela perfeitamente, o que a diminui para 91% (uso típico). Crédito: Nathalie Portela 

Segundo o Ministério da Saúde, o melhor método contraceptivo para uma pessoa usar é aquele que a deixa confortável e que melhor se adapta ao seu modo de vida e à sua condição de saúde. Por isso, é necessário informação e conhecimento para escolher o contraceptivo que deseja utilizar. O acesso a todos os tipos de contraceptivos modernos não é universal e nem gratuito. Muitas mulheres* acabam utilizando os métodos mais conhecidos, que muitas vezes não são mais baratos e nem mais eficazes.

Foto de capa: Nathalie Portela

 

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Redação

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