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Precisamos falar das flores: a música como luta no Brasil

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Música, melodia, arte, dança, entretenimento, compreensão, luta

Por Beatriz Kuroki

1964, a ditadura militar é implantada no Brasil, comandada pelo general Camilo Castelo Branco. Com um cunho nacionalista, totalitário e autoritário, o regime não agradava boa parte da população, que não tinha participação dentro das decisões políticas do país. Pessoas foram às ruas, lutaram – ou tentaram – e se opuseram de inúmeras maneiras, mas acabaram detidas, exiladas, torturadas e mortas.  

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Elis Regina, um ícone do movimento artístico contra a ditadura (Foto: Wikimedia Commons).

Artistas da época, possuindo uma voz que seria ouvida por milhares de brasileiros descontentes, resolveram compor letras, diretas ou indiretas, indo contra o sistema, demonstrando seus sentimentos, frustrações e desejos. Antes mesmo da ditadura militar governar o Brasil, a música e outras formas de Arte possuíam seu lado ideológico, no entanto, ganharam força política nacionalmente a partir dos anos 1960.

“Quando chegar o momento, esse meu sofrimento, vou cobrar com juros. Juro! Todo esse amor reprimido, esse grito contido, esse samba no escuro…” (Chico Buarque)

Palavras de vingança enchiam o peito do cantor e compositor Chico Buarque na música “Apesar de você”. Outros artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Elis Regina, Renato Russo, aderiram as palavras como armas, impactando não somente o povo brasileiro, mas também os próprios políticos e líderes da época. O governo não aceitava e interpretava as músicas como desacato à nação,  tomando medidas extremas. Um dos episódios mais famosos, foi quando Gilberto Gil e Caetano Veloso foram presos – após já terem algumas canções censuradas – em 1968, soltos apenas no começo do ano seguinte, quando fizeram um show de despedida e partiram com suas respectivas esposas para a Inglaterra, onde ficaram exilados até 1972.

MARTA SUPLICY

Gilberto Gil ficou quase 3 anos exilado na Europa devido às suas canções censuradas pelo governo. (Foto: Wikimedia Commons).

Foi constantemente utilizado o serviço da Divisão de Censura de Diversões Pública (DCDP), criado por Getúlio Vargas em 1934, onde filmes, canções, shows, etc, passavam por uma análise antes de serem exibidos ao público, e caso os responsáveis notassem algum tipo de desrespeito político ou até mesmo não entendessem o objetivo principal dos artistas com suas obras, filmes eram exibidos com corte, ballets eram cancelados, da mesma forma que as músicas de Veloso e Gil foram repreendidas.


 

Descrição: “Mas é isso que é a juventude que quer tomar o poder? Vocês tem coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre matar o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada… Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos!”. (Discurso de Caetano Veloso durante um show performado junto com Os Mutantes, no Festival Internacional da Canção, 1968,ao receber vaia do público após cantar “É Proibido Proibir”).


Com o intuito de mudar a visão da população e motivar a luta, as letras buscavam resultados. Quanto à este assunto, para Mario Luis Grangeia, autor do livro “Brasil: Cazuza, Renato Russo e a transição democrática”, obra em que o especialista em Sociologia Política e Cultura analisou mais de 40 obras de Renato Russo e 30 composições de Cazuza, focando em temas como a fim da ditadura e desigualdade sociais, “o sucesso popular de muitas músicas evidencia o quanto eles se sintonizaram com visões e expectativas de brasileiros de tantas gerações – não só jovens como eles viram seus olhares bem representados no repertório deles. Já aos efeitos das músicas na política em si, não são tão evidentes assim, mas não se ignora que as abordagens originais de temas como corrupção, desigualdades e orientação sexual provocaram mudanças no debate público sobre eles” explica o autor.

Com os primeiros passos dados, movimentos contra o governo, através da música foram crescendo e se popularizando. Artistas se reuniam com uma motivação em comum: a militância sobre a situação política do Brasil.

O Tropicalismo, um dos movimentos mais conhecidos nacionalmente quando se trata de protesto, trouxe aos palcos letras e melodias inovadoras no fim dos anos 1960. Para as interpretações das obras apresentadas, era necessária uma certa bagagem cultural, indo além do óbvio, pois eles eram obrigados a lutar disfarçadamente devido a censura. Participantes do movimento eram conhecidos por suas roupas coloridas, o excesso na vestimenta e estilos chamativos, tudo isso com a intenção de protestar contra a música popular brasileira “bem comportada”.

https://www.youtube.com/watch?v=HHM5-PonsKM

Documentário produzido por alunos do curso de Comunicação Social com habilitação em Rádio, TV e Internet da FAPCOM – Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fonte: YouTube)

Na opinião tanto do autor Mario Luis Grangeia como do jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário, Rodrigo Casarin, o período da ditadura pode ser considerado um dos mais ricos para a história da música popular brasileira.

Ao relacionar tais crises políticas com o setor cultural, “é uma combinação que costuma resultar em um bom momento para a arte, me parece que os artistas ficam mais aguçados e provocativos quando há um ‘grande inimigo’ para combater” afirma Rodrigo. Dito isso, é visto que a criatividade do artista brilha e desperta quando há inúmeros problemas que ele quer resolver ou, pelo menos, demonstrar seu descontentamento, seja pela política, pelo social ou pela economia, alimentando a cultura através de criações artísticas. Mario Luis completou: “Às vezes, dramas íntimos e coletivos se entrelaçam e, quando isso acontece, a arte se torna um canal para extravazar ideias e emoções que crises como essas provocam”.

7 músicas de protesto:

Independente do momento político do nosso país, a música e a arte sempre estarão presentes para serem utilizados como forma de mobilização social!

Há soldados armados, amados ou não. Quase todos perdidos, de armas na mão, nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição: De morrer pela pátria e viver sem razão
(Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré)

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Redação

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