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Renovação política: as formas de envolvimento dos jovens no ambiente partidário

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O interesse e a participação política da juventude está em evidência, mas ainda encontra empecilhos para se firmar no cenário atual
 

A movimentação jovem no ambiente político é uma realidade – e a conquista do espaço partidário por aqueles que possuem de 18 a 35 anos tem ganhado destaque e pode ser aposta para as próximas eleições. De acordo com os dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cerca de 20% dos candidatos que disputavam a corrida eleitoral em 2016 eram jovens. O número, um quinto da quantidade geral de candidaturas, parece significativo e com potencial de crescimento quando comparado aos 15% das eleições em 2014, mas ainda não se apresenta de maneira consolidada.

“Mauro Iasi, professor da UFRJ e candidato a presidência da república em 2014, descreveu em um de seus discursos as três formas de ser um socialista: pelo estômago, isso é, pela necessidade material de superar a miséria; pelo coração, ou seja, pela solidariedade aos mais necessitados e por fim, pelo cérebro, através da leitura da teoria marxista e o entendimento da necessidade do socialismo” conta Célio Peliciari, 23 anos, candidato a prefeito de Araraquara pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) nas eleições de 2016. No seu caso, o coração e o cérebro foram fatores determinantes para o envolvimento político – e assim também o foi para muitos outros jovens, não necessariamente seguindo a mesma ideologia. A insatisfação com o cenário social e econômico impulsiona o desejo por mudança e consequentemente o ingresso nos meios de debate desses temas.

Muitas vezes o primeiro contato com discussões organizadas e movimentações políticas acontece no espaço universitário, em centros acadêmicos e outras organizações estudantis. Foi o caso de Sâmia Bonfim, 27 anos, hoje vereadora eleita pelo PSOL na cidade de São Paulo. “Eu já estava há uns 2 ou 3 anos no movimento e senti a necessidade de avançar, me organizar, discutir os temas para além do movimento estudantil, para além da universidade”, explica a jovem. Outras organizações que se propõem a ser um ambiente de pensamento político conjunto e que atraem cada vez mais a juventude são os movimentos sociais e os coletivos, que refletem sobre situações das minorias e lutam por direitos, como por exemplo das mulheres, dos negros e da população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgênero (LGBT).

“Se indignar é o primeiro passo para buscar a solução do que está errado e é através da política que conseguimos as grandes mudanças”, acredita João Matheus Bolito, cientista social que já foi o vereador mais jovem do estado de São Paulo, eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT) com apenas 18 anos na cidade de Rincão. Para ele, a juventude tem pautas correlatas com a sociedade, no que diz respeito a eficiência das políticas públicas e dos serviços, mas também possui muitas pautas específicas. “Diante de uma drástica conjuntura econômica e política, eles clamam por oportunidades, seja no mercado de trabalho ou até mesmo na especialização profissional. Outro tema que sempre é trazido por jovens são os eventos, sejam os culturais ou esportivos” completa.

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Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Infográfico por Bárbara Paro Giovani.

O jovem como chave para a renovação 

Pautar temas que não costumam ser tratados no processo eleitoral e, assim, apresentar novidade. A vereadora de Bauru pelo Partido Social Cristão (PSC), Yasmin Nascimento, 26 anos, procura defender pautas que envolvem públicos específicos. “Estou elaborando vários projetos na Câmara Municipal sobre a causa animal, para jovens e idosos, quem considero meu maior eleitorado” afirma. Ela acredita que os jovens “precisam lutar por seus ideais e manter a cabeça no lugar”.

São pautas como as citadas por Bolito e Nascimento – relacionadas a problemas enfrentados diretamente pela juventude e que abrangem temas com os quais eles se sensibilizam – que alavancam a participação jovem em debates sobre o sistema governamental atual. Para Bonfim, a sociedade brasileira vive hoje num cenário de retirada de direitos, o que torna a organização e unificação jovem uma possibilidade de barrar essa conjuntura de retrocessos. É com essa opinião disseminada que surge a ideia de que a juventude pode ser a renovação que a política precisa no Brasil. “Por não ter nenhuma amarra com o velho sistema político e por ser muito conectado com as novas tecnologias, pensar de uma forma diferente, o jovem pode renovar a forma como a política se organiza no país”, afirma a vereadora.

A oportunidade surge também em um momento de crise. Para Peliciari, após as mudanças profundas que ocorreram no modelo de trabalho nas décadas de 1970 e 1980, o padrão empregatício mais horizontalizado e flexível deu origem a partidos também menos hierarquizados. Junto a isso se fortaleceu também um colapso à chamada democracia representativa, o que é consenso entre os cientistas políticos atualmente. “Esses dois fenômenos têm dado força para que novos atores entrem no cenário da política institucional, como resposta dos partidos, dos sindicatos, dos movimentos sociais e da própria sociedade” completa o jovem.

É nesse contexto que o papel da juventude ganha destaque: muitos partidos apostam e lançam candidaturas para que o eleitorado juvenil se identifique e, assim, o grupo conquiste mais votos. Essa foi uma proposta da REDE Sustentabilidade, partido que evidenciou em suas campanhas nas mídias os candidatos Lucas Oliveira, 18 anos, que concorreu a vereador, Kayo Amado, 25 anos, e Carlos Gomes, 27 anos, que concorreram a prefeito. No entanto, o processo de participação partidária pode comprometer os ideais de inovação nos governos.

Para a socióloga Grasiela Lima, a renovação política está relacionada diretamente à renovação de ideias e posturas. “Somente o ato de eleger os jovens não garante essa renovação. Se o político eleito for jovem e assumir no seu discurso e nas suas ações a ‘velha política’, propugnar um pensamento conservador e manter os mesmos hábitos e vícios da politicagem, não se trata de renovação e sim de reprodução do status quo” explica.

Sobre o surgimento de novos exemplos de líderes políticos no ambiente jovem, como a própria Sâmia Bonfim e o vereador pelo partido Democratas, Fernando Holiday, também coordenador do Movimento Brasil Livre, a socióloga acredita que são figuras de destaque que expressam a heterogeneidade da participação desta faixa etária no segmento. No entanto, se atenta para a reprodução de discursos que talvez atinja o eleitorado. Para ela, a juventude atual está mais informada, tendo em vista a velocidade que as informações são disseminadas, mas ainda há uma parcela que, assim como a população de um modo geral, não se aprofunda nas questões, não busca as fontes e nem se preocupa com a sua veracidade. “Dessa forma, esses jovens ficam mais vulneráveis às manipulações do jogo político e aderem sem questionamentos às visões preconceituosas, maniqueístas, simplistas e reducionistas relacionadas aos fatos da realidade social e política”, afirma.

O jovem como um incômodo ao jogo político

Com 38,6% do eleitorado entre 18 e 34 anos, nas eleições de 2016 a juventude prometia fazer a diferença. Ainda assim, apenas 11.185 candidatos dessa faixa etária foram realmente eleitos – cerca de apenas 11% de todos os jovens que concorreram a cargos públicos, o que demonstra que o eleitorado não levou em conta o discurso da renovação a partir da eleição de jovens. Tal fato levanta discussões a respeito da subrepresentação  e as dificuldades de se adentrar de maneira efetiva no sistema político.

“O processo eleitoral é completamente desigual, lapidador de qualquer possibilidade de profundas transformações”, afirma o candidato do PSOL Célio Peliciari. Tomando como exemplo sua própria campanha, o jovem conta que gastou aproximadamente R$ 3 mil, enquanto a campanha do candidato eleito Edinho Silva, do PT, teve gastos de mais de R$ 350 mil. Quando comparado o tempo de propaganda eleitoral, Célio teve 15 segundos  na televisão, enquanto Edinho tinha algo próximo a 3 minutos. “Esses números criam um abismo entre o novo e o velho. Entre o transformador e o conservador. A tendência geral, em todas as eleições no Brasil, é que os representantes dos mesmos grupos, as elites, se mantenham no cenário político institucional” acredita.  Ainda assim, o jovem considera o processo válido uma vez que traz um saldo positivo na questão do diálogo e das propostas com a população.

Quando conseguem ser eleitos, outros desafios esperam dentro do governo: pautar os debates e conseguir aprovação de propostas pode ser complicado. Prefeito mais jovem do estado do Paraná, com apenas 25 anos, o gestor de Ribeirão do Pinhal, Wagner Martins, do Partido Humanista da Solidariedade (PHS), acredita que “a juventude às vezes traz um pouco de descrédito e geralmente quando as pessoas mais velhas vêm tratar assuntos relacionados a administração, elas sentem que têm mais conhecimento e experiência que eu. Isso me obriga a ter trabalho dobrado de convencê-los da minha capacidade como gestor do município” comenta.

No entanto, a própria mobilização da juventude engajada politicamente é uma influência dentro dos gabinetes: os movimentos de fora fortalecem pautas recorrentes na sociedade atual e isso força o debate delas dentro da Câmara. Sâmia Bonfim contou que, dessa forma, conseguiu aprovação do debate acerca de temas importantes como a violência da mulher.

É nesse aspecto que a discussão sobre a representatividade jovem ganha visões divergentes. Para Grasiela, a presença política – não necessariamente de cunho partidário – pode ser uma renovação levando em conta as novas formas de participação, o que provavelmente é a maior tendência do momento. “Entendo que parcela dos jovens que hoje está nos movimentos sociais, nos coletivos e nas diferentes organizações sociais apresentam diferentes visões sobre a questão da representatividade. Eles buscam a mobilização a partir de causas específicas – gênero, raça/etnia, cultura de periferia, meio ambiente, entre outros – e  colocam o protagonismo juvenil como pilar das ações que buscam o enfrentamento à ordem estabelecida” explica.

Contudo, para a socióloga, como o campo político é bastante dinâmico, as formas mais clássicas ou tradicionais de participação podem ser assumidas como estratégia de luta para a conquista de novas formas de atuação. Sendo assim, os grupos que defendem a participação político-partidária e, consequentemente, a conquista de cargos eletivos, podem tornar-se hegemônicos e assumirem essa bandeira de luta como forma de renovação política.

Diante do Congresso Nacional mais conservador desde 1964, segundo afirmação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), a participação jovem na política e a renovação de ideias e propostas se mostra cada vez mais necessária. A articulação de movimentos por fora dos partidos, como manifestações, coletivos e movimentos sociais, combinadas à mobilização de novos rostos dentro da política partidária pode ser a saída para garantir que assuntos sejam pautados e que novos posicionamentos surjam nas próximas eleições.

 

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Redação

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