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SÃO PAULO FASHION WEEK: O LOGOS E O LOCUS DA MÍDIA, MODA E CULTURA BRASILEIRA

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Como a SPFW revolucionou a indústria da moda no território nacional

Por Ana Carolina M. Alves, José Miguel Toledo, Lenes Moreira e Thaís Fritoli
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São Paulo Fashion Week edição 43 – FOTOSITE


 
A história

Desde de sua criação no ano de 1996, ainda sob o nome de Morumbi Fashion Brasil, a SPFW teve como principal objetivo organizar e profissionalizar a cadeia industrial de moda no país. Ainda na década de 90 quando o então presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello implementou as primeiras medidas econômicas que abriram o mercado nacional para a entrada de grandes multinacionais de diversos setores da indústria, entre eles o têxtil, percebeu-se a imensa dificuldade que teriam para concorrer com produtos importados produzidos em larga escala e com preços inferiores aos nacionais.

Dessa competitividade surgiu a necessidade de criar um plano de ação que viabilizasse a produção, venda e consumo de moda no Brasil. A partir dessa ideia começaram a surgir as primeiras iniciativas que visavam criar um calendário unificado da moda brasileira que pudesse abarcar grandes marcas nacionais. Uma das primeiras iniciativas foi o Phytoervas Fashion, evento idealizado pelos empresários Cristiana Arcangeli e Paulo Borges entre 1994 e 1995, que seguia os moldes de semanas de moda já consagradas como Milão e Paris.

No evento nomes conhecidos da moda nacional como Ronaldo Fraga, Tufi Duek e Glória Coelho desfilavam lado-a-lado de nomes ainda pouco conhecidos como Alexandre Herchcovitch. Por divergências de seus idealizadores, o projeto durou apenas dois anos, mas serviu como modelo para outros eventos do mesmo gênero. Em 1996, Paulo Borges criou um evento independente nomeado de Morumbi Fashion Brasil, que foi o grande responsável por dar continuidade ao ideal de um modelo de negócios produtivo para a cadeia de moda brasileira.

Em 2001, com a expansão da indústria, viu-se a necessidade de se criar um forte conceito de identidade para a moda brasileira e visando tornar-se mais amplo e diversificado, o evento muda de nome e passa a ser conhecido como São Paulo Fashion Week. A necessidade de se pensar o modelo econômico da moda brasileira como um todo foi um fator primordial para que a SPFW se consolidasse e chegasse ao modelo atual. A produção dos estilistas na semana de moda se tornou o alicerce que sustenta toda a indústria produtiva brasileira, já que a partir das tendências apresentadas na semana de moda começaram a surgir diversos produtos na cadeia têxtil que ajudam a movimentar a economia brasileira.

Faz-se necessário destacar que a SPFW é muito mais que uma mera semana de moda. Nos últimos anos o evento vem passando por uma série de transformações para atender as necessidades do mercado produtivo e dos consumidores. A produção e criação de tendências a partir das roupas deixou de ser o foco central e passou a ser um dos alicerces que fomentam o evento. Acima de tudo, a semana de moda se tornou um espaço de fomento da economia criativa brasileira e de novos modelos de negócios sejam eles em âmbito regional ou nacional.

 

LAB SPFW – N42 Outubro / 2016 – FOTOSITE


 
O presente

As semanas de moda pelo mundo costumam ser engessadas em sua história e apresentaram poucas mudanças em suas estruturas gerais nos últimos anos, mas a SPFW, talvez por ser uma das mais recentes, vem se reinventando ano após ano.

A mudança no calendário talvez seja uma dessas maiores mudanças, implementando o que até o momento é apenas debate nas semanas internacionais. O que acontecia até esse ano era que as coleções de verão e inverno eram desfiladas em períodos contrários, mais de seis meses antes dessas coleções de fato chegarem às lojas e poderem ser consumidas. Em um momento da humanidade em que nada escapa das câmeras e que as redes sociais dominam a nossa sociedade, o que era desfilado como novidade e tendência é exibido pelos quatro cantos da internet, seja pelo perfil de alguma blogueira, editora de moda, das modelos ou até mesmo pelo perfil da própria marca e todo o frenesi causado pelas roupas naquele momento, não durava até a chegada delas nas lojas.

Por isso, com essa mudança no calendário, as marcas podem se aproveitar da onda “see now, buy now” (veja agora, compre agora) e garantir que os desfiles se transformem em vendas. “Hoje, as pessoas querem consumir o que está sendo desfilado: as coleções cápsula são um sinal desse movimento e as influencers que aparecem na sala de desfile com a roupa que vai ser apresentada também. Isso já começou e depois de falar com muita gente, notamos que era uma medida benéfica para todo o mercado”, falou Paulo Borges à Elle Brasil.

Desde 2000, os desfiles são exibidos ao vivo, pela internet e a presença de cada vez maior de influenciadores digitais faz com que o evento não fique fora das redes, o que não é um problema para a SPFW. A semana de moda paulistana abraça essa tecnologia para trazer mais pessoas para dentro de seu espectro e inclusive usa esse espaço para fomentar discussões.

Em sua última edição, surgiu o Projeto Estufa, como uma plataforma que promove encontros, discussões e palestras para despertar reflexões e experimentações em torno da sustentabilidade, tecnologia, design, responsabilidade social, consumo, comportamento e tantos outros assuntos que gravitam sobre o cenário de criação, produção e distribuição de moda. “Vivemos uma era disruptiva de mudanças constantes e desafios globais. O futuro já é agora. Tudo está em aberto, provocando novos olhares e experimentações”, disse Paulo Borges durante a apresentação do projeto no ano passado.

 

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Infográfico: Thaís Fritoli


 
O futuro

Após completar 20 anos de existência a São Paulo Fashion Week a começou a ter seus conceitos e ideias repensados não somente pela equipe responsável por sua realização, mas também por toda a cadeia têxtil nacional. Diversos profissionais como estilistas, jornalistas, editores, empresários perceberam a necessidade de se debater e elucidar pontos importantes afim de gerar ideias e conceitos que pudessem melhorar não somente a semana de moda em si, mas também a moda brasileira de modo geral.

A partir dessas discussões foram criados diversos projetos e propostas que abarcam diversas áreas da cadeia produtiva, uma das áreas que recebeu maior atenção é a da economia criativa que busca integrar produtores regionais a cadeia de moda nacional. Para Flávia Akemi Kataoka, jornalista de moda e colaboradora do site de Lilian Pacce, o ponto crucial desse modelo que está se desenhando para semana de moda e aproximar dois polos que durante muitos anos não tinha contato. Segundo ela: “O investimento na economia colaborativa, nos pequenos produtores e nos profissionais da área é de extrema importância”.

Flavia ainda levanta outros pontos que considera de grande valia: “Também é necessário que hajam políticas governamentais como incentivo fiscal e diminuição da carga tributária para que a indústria possa se fortalecer. Principalmente a indústria têxtil que é o segundo maior gerador de empregos do país, atrás apenas da construção civil, e por isso faz-se necessário pensar primeiro numa estrutura de mercado para depois se pensar em outros fatores como design e um conceito estético que possa traduzir o que realmente é a moda brasileira na sua essência”.

Outro ponto que é alvo de muitas discussões e debates é a dificuldade enfrentada pela moda brasileira rumo a internacionalização. O caminho a ser percorrido, o interesse de grandes grupos de alcance mundial em tornar a moda brasileira global são alguns dos pontos mais debatidos. Ao contrário dos grandes centros de produção de moda como Paris, Milão e Nova York que conseguiram criar uma estética e um ideal de moda bastante próprios e tornaram seus produtos objetos de desejo e consumo globais a moda nacional ainda não conseguiu cruzar a barreira da internacionalização.

Na visão de Flávia a maior dificuldade que a moda brasileira tem para se internacionalizar são os entraves que existem dentro do próprio país: “Nós temos no Brasil uma cadeia produtiva que não possui apoio da esfera governamental para que os produtos brasileiros possam ser produzidos em escala global”. Esse e diversos outros pontos são constantemente debatidos por profissionais da área quando se pensa no futuro não somente da São Paulo Fashion Week, mas também da moda brasileira como um todo.

Outro ponto que vem sendo constantemente debatido nos últimos anos é como criar a uma cadeia de produção e de consumo que esteja em sintonia com os ideias de sustentabilidade e consumo consciente, mesmo em um período em que a produção de moda nunca foi tão acelerada. É um consenso entre diversos profissionais que a moda passa por um momento de saturação e depuração causado pelo aceleramento e pelo aumento dos níveis de produção da indústria. Essa aceleração aconteceu principalmente com a expansão da internet e das redes sociais, que modificaram a maneira de se difundir a moda.

Antes restritos a um pequeno grupos de editores de revistas e varejistas os desfiles não possuíam uma relação próxima com o grande público. A partir da popularização da internet muitas marcas começaram transmitir seus desfiles para todo o planeta através da rede o que fez com que a grande massa tivesse acesso a moda de luxo pela primeira vez. Com um público cada vez maior as marcas perceberam a necessidade de se produzir cada vez mais coleções para saciar a vontade desse público. Todo esse processo gerou um grande aumento do consumo.

O aumento do consumo começou a gerar um desequilíbrio na cadeia produtiva e de matérias primas que acarretou em graves problemas não somente para a sustentabilidade econômica, mas também ambiental. E por isso hoje esse debate se faz tão importante e necessário pois é preciso pensar uma cadeia produtiva que gere lucro, mas que também respeite os limites e os tempos necessário para a renovação da moda. Frente a essa perspectiva, o diretor criativo Paulo Borges comentou em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo algumas das principais mudanças na SPFW para atingir novos nichos do mercado.

Ele pontua que “a partir de 2017, mudaremos as datas de desfiles para deixá-los bem próximos ou mesmo simultâneos aos lançamentos no varejo”. Outra grande mudança que promete marcar a história do evento é o fim das já tradicionais nomenclaturas de desfiles e coleções ligadas às estações do ano. Marcado para final de julho, o próximo desfile abre mão das antigas denominações. “A moda é global, o desejo é global. Não é a estação do ano que impulsiona a venda. E, no Brasil, faz sempre calor. Por isso, nós não vamos mais colocar na nomenclatura da SPFW nem Primavera/Verão nem Outono/Inverno”, conclui Paulo em sua entrevista para o Estadão. Para que a SPFW e a moda brasileira possam evoluir é necessário pensar e debater esses pontos de maneira profunda, dessa maneira será possível criar uma indústria muito mais sólida e lucrativa.

 

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O diretor da SPFW Paulo Borges – FOTOSITE


 
O criador

Paulo Borges não é estilista, nem formado em moda, nunca teve loja ou trabalhou na área de confecção ou varejo, mas foi responsável por criar e dirigir aquele que se tornaria o maior evento de moda não somente da América Latina, mas também de todo o Hemisfério Sul a São Paulo Fashion Week. Paulista de São José do Rio Preto, desembarcou na capital paulista no início da década de 80 com a missão de prestar vestibular para o curso de computação. Um amigo o chamou para ajudar a produzir um desfile da loja dele e Paulo ficou fascinado pelo trabalho.

De lá passou um curto período como assistente da diretora da revista Vogue na época, pouco antes de promover o Phytoervas Fashion,  em 1994, do qual foi líder até 1996. Mais tarde, fundou a Morumbi Fashion, que viria a se tornar a São Paulo Fashion Week, evento do qual é o diretor criativo até hoje. Além disso, o produtor também é presidente do Grupo Luminosidade, que atua em diversas áreas, como produção de conteúdo e marketing estratégico, com foco em moda e cultura.

 

Redação

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