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Sem cupom pra fast-foda

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Saiba como a pandemia do novo coronavírus afetou a vida sexual e o uso de apps de pegação por homens gays

Por Leandro Gonçalves

Sábado à noite, bateu aquela vontade. Você pega o celular, abre o aplicativo e dá uma olhada no catálogo. Alguns scrolls depois, escolhe a opção que mais te agradou no menu. Com um ou dois cliques, faz o pedido e… voilá! Em pouco tempo, você mata a fome sem sair de casa. 

Mas, pera lá. Não estamos falando de iFood, Uber Eats ou qualquer outro do tipo. Na real, trata-se dos aplicativos de relacionamento — ou, se preferir, de pegação sem compromisso.  São vários no mercado… desde o Tinder, o mais popular, a outros tantos, mais específicos. 

Dentre esses apps, há alguns segmentados para públicos específicos. Para o público gay, por exemplo, não faltam opções. Tem Grindr, Hornet, Scruff… e por aí vai. Esses apps em particular possuem algumas singularidades interessantes. Basta abrií-los para se deparar com uma espécie de atendimento à la carte!

No feed, onde ficam os perfis, há uma salada mista de corpos masculinos, pacotes e muita, mas muita, pele à mostra. Tudo pra facilitar na hora da escolha. Afinal, quem tem fome tem pressa de comer. Assim, esses apps funcionam como verdadeiros serviços de fast-foda — clicou, chamou, gozou.

Porém, tanta praticidade foi por água abaixo durante a pandemia de Ccovid-19. Com todo mundo preso em casa, ficou difícil sair pra dar aquela rapidinha. Pelo menos, pra quem cumpriu a quarentena. Assim, muitos tiveram que dar seu jeito  com as próprias mãos e, talvez, com a ajuda de outras coisinhas.

Dessa forma, o isolamento social não só ajudou a retardar o contágio, como também influenciou comportamentos mais íntimos. No caso dos usuários dos apps de relacionamento homoafetivo, por exemplo, a quarentena minou os encontros casuais pra sexo sem compromisso, intermediados por essas ferramentas.

Toca uma pros gays!

Nas mídias sociais, fomos em busca de entender quais efeitos a pandemia causou na vida sexual e no uso de apps por homens gays solteiros. Para isso, criamos um formulário e disponibilizamos em grupos LGBTQIA+ no Facebook. Ao todo, a enquete recebeu 98 respostas válidas, de pessoas entre 18 e 40 anos.

Dentre os entrevistados, 84,7% afirmaram que a pandemia alterou de alguma maneira suas rotinas sexuais. Houve diminuição dos encontros e na frequência do sexo em respeito ao isolamento. “Não transo nem beijo desde março”, conta um dos entrevistados.

Mas, há quem fuja da regra. “Tive meu primeiro namoro, perdi a virgindade e baixei o Grindr pela primeira vez. Então, sim, me afetou bastante, porque tive muito tempo livre”, diz uma das respostas. “[A quarentena] tornou o contato com outros homens mais raros e, consequentemente, mais intensos, a níveis que chega a ser estranho”, confidencia outra, a flor da pele.

Durante o isolamento, 10,2% das respostas alegaram libido baixa e falta de tesão. Por outro lado,  27,6% disseram não ter tido alterações e 58,2% dos entrevistados ficaram com a libido alta e tesão acumulado. Para lidar com isso, recorreram a masturbação, pornografia e por aí vai. 

 Um dos entrevistados conta: “Eu me masturbo. Muito. Já não planejava ter encontros casuais durante a pandemia, mas depois que vim pra casa dos meus pais isso nem tem chances de acontecer”. Outro, diz: “Lidar com tesão e libido na minha quarentena é com a ajuda de um pornô do meu agrado. Não gosto de usar redes sociais para trocar nudes ou ter dirty talks, não me sinto confortável”.

Em relação a apps de pegação, 70,4% dizem usar. Os fins são variados, vão desde arranjar encontros casuais e sexo “agora” a sexo virtual, sexting, troca de nudes e masturbação. Tem também quem use para buscar relacionamento amoroso ou dar só uma olhadinha na vizinhança. 

O uso desses aplicativos durante a quarentena aumentou para 42,9% dos entrevistados. Porém, teve quem abriu mão da dependência. “Eu deletei um pouco antes da quarentena. Mas, chegou num ponto em que flexibilizei minha própria quarentena e acabei baixando e usando os apps, ainda numa frequência muito menor do que antes da pandemia”, revela uma das respostas.

Há quem seja ainda mais prático. “Eu usava, porém o vírus ‘moiou’ todo o rolê. Mas, percebi que bater uma no XVideos é bem mais simples e menos estressante”, conta outro participante.

Metade dos entrevistados nega ter furado a quarentena para transar, enquanto 31,6% disseram ter furado ao menos três vezes e 18,4%, muitas vezes. “Um dos meus pretendentes me mostrou um teste negativo para Ccovid-19 para me convencer a encontrá-lo. Aceitei e fui. Foi ótimo, por sinal”, conta Renato de Souza, único a revelar o nome. 

Dentre as precauções tomadas nessas fugidinhas, constam banhos antes e após o sexo, uso de máscaras, troca de lençóis e muito mais. “Fui uma vez só, mas me arrependi logo depois, cheguei surtado em casa e fui logo tomar banho. Depois, rezei uns três Pai Nosso (sem brincadeira, rezei mesmo)”, diz um arrependido. 

Por fim, não falta quem assuma a responsabilidade pelo risco tomado. “Furar a quarentena e medida de proteção são palavras que não tem como serem usadas na mesma frase, assumo o risco, usei máscara e lavei as mãos, inclusive tomei até banho na casa do boy, mas se ele tiver assintomático não adiantaria de nada”, argumenta um dos participantes da enquete.

Tá todo mundo ansioso

A psicóloga Laura Rinaldi explica que, diante da pandemia, há uma ansiedade generalizada sobre qual realidade viveremos depois desse auê. “Tem uma incerteza, uma angústia muito grande… as pessoas não conseguem planejar ou pensar no futuro porque não sabem quando esse cenário vai melhorar”, aponta. 

O desânimo é reforçado pela falta de contato físico, principalmente com quem amamos ou com quem queremos nos relacionar. Segundo Laura, isso tem remodelado as relações. Para minimizar os danos, a profissional indica que haja um apelo aos contatos virtuais, atividades de relaxamento ou de prazer.

Por isso, ela não titubeia quando aponta quais alternativas os gays solteirões temporariamente inativos nos apps podem aderir pra aliviar o tesão. “Masturbação, sexting, sexo virtual, brinquedinhos… e por aí vai”, relaciona. “Dá pra experimentar muita coisa… quem provou e gostou, pode continuar depois da pandemia”, ri.

Mas, ela acende um alerta. Diante do estresse causado pela pandemia, é preciso tomar cuidado para não tornar a auto satisfação sexual um compensador para outros problemas. “Não pode causar dependência nem atrapalhar outras esferas da vida pessoal”, avisa. 

Sobre a retomada da velha normalidade e dos matchs por aí, a psicóloga chama a atenção para o autocuidado. “Vai com calma, seja transparente com o parceiro e tenha responsabilidade emocional. Ninguém sai perdendo com diálogo”, argumenta.

Em busca de “agora”

O pesquisador Mário Fellipe estuda as interações homoeróticas masculinas nas mídias sociais. Em diálogo com vários autores, ele explica que os aplicativos caracterizam-se, entre outras coisas, pela sincronicidade, imediatismo, conectividade e portabilidade.

Em outras palavras, os usuários do Grindr, Hornet, etc., assim como de outras mídias sociais, detém de uma comunicação instantânea na palma da mão o tempo todo. Assim, anseiam por respostas imediatas, inclusive para o próprio desejo. Por isso, é tão usual recorrer aos apps de pegação quando sobe aquele fogo.

Para ele, essa dinâmica persiste mesmo com a pandemia. “Os aplicativos são como espaços comerciais, com segmentações, nichos… operados pelos algoritmos. Há uma ‘disputa’ constante por interações”, argumenta, ainda que essas interações não se convertam em encontros presenciais. 

Nesse sentido, Mário acrescenta que os usuários atuam como empreendedores de si mesmos nessas plataformas. Ou seja, adotam um modelo estratégico na criação dos próprios perfis, utilizam uma racionalidade flexível só no discurso e valorizam uma liberdade individualista quase empresarial.

Porém, nem tudo é determinado pela tecnologia. “Podemos ressignificar essas ferramentas, mesmo que pareça difícil fugir dessa dinâmica toyotista”, acredita Mário. Para o pesquisador, os apps tem como ponto positivo a viabilização de encontros de desejo e de interações em momentos de solidão. 

Por outro lado, é preciso reconhecer as falhas dessas ferramentas. “Nos tornam ansiosos, pela sincronia e imediatismo, e reforçam padrões e performances de masculinidade dominantes”, finaliza.

Redação

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