No princípio de sua existência, por volta de 1910, a música caipira era um ritmo típico do meio rural. Fiel às suas origens e tradições, seus cantores não aceitavam que o ritmo se mesclasse com outros gêneros. Originalmente tocada com viola, seu som era similar ao do cateretê, cururu e modões. Embora os cantores das modas caipiras desejassem manter a tradição e o regionalismo do gênero, a música sofreu seu primeiro intercâmbio cultural por volta de 1970, dando origem a um novo gênero musical: o sertanejo. O ritmo conservava a essência rural, porém, abraçava as transformações. Dentre as mudanças, destacavam-se a mescla de gêneros e o uso de novos instrumentos.
Décadas depois, no início dos anos 2000, surge em Goiânia, capital do estado de Goiás, uma nova variação do gênero, o sertanejo universitário. O ritmo incorporou o arrocha ao sertanejo romântico, tornando-o mais dançante. Para isso, a viola foi substituída pelo violão de cordas e pela guitarra, e o teclado perdeu espaço para o acordeom. As letras acompanharam o ritmo e a música melodramática das gerações anteriores era substituída pelas canções que exaltavam o amor e a farra. Como o nome sugere, os cantores de sertanejo universitário são jovens e tem o público composto majoritariamente por adolescentes e jovens adultos. Após cair no gosto popular, o ritmo alçou voos mais altos e conquistou público em outros países. No auge de sua popularidade, em 2012, Michel Teló apresentava aos gringos a cultura brasileira por meio de um som dançante. A divulgação do hit Ai se eu te pego foi feita por ninguém menos que o jogador de futebol Cristiano Ronaldo. Teló contou em entrevista ao JT: “Foi a maior surpresa da minha vida quando me disseram que o Cristiano Ronaldo tinha comemorado um gol com a minha música. Quando ele dançou, mudou tudo. A música estourou”.
Desde 2015, o gênero sertanejo, quase que exclusivamente cantado por homens,
passou a ter como protagonistas as mulheres. Artistas como Marília Mendonça,
Simone e Simaria, e Maiara e Maraisa tornaram o gênero, tradicionalmente
produzido por homens, mais inclusivo. Junto com a mudança dos cantores e
compositores, mais uma vez o ritmo passou por uma modificação temática. Agora
sob o ponto de vista explicitamente feminino, as mulheres cantam sobre baladas,
pares e afins. Suas letras empoderam e transformam as mulheres que as ouvem,
assim como são inspiradas em mulheres fortes para existirem.
Texto: Raíssa Pansieri