Apesar da importância, o assunto ainda causa polêmica e encontra resistência na sociedade brasileira.
Por Lenes Moreira, Nilo Vieira e Talita Bombarde
Nos últimos anos, observa-se no Brasil um crescimento do conservadorismo em alguns setores da sociedade. Isso é comprovado por manifestações contra exposição artística com temas ligados ao sexo, cancelamento do queermuseu, boicotes contra a peça que retrata Jesus como uma mulher trans e o alvoroço por conta das palestras da filósofa Judith Butler. Por outro lado, há aumento de casos de infecções sexualmente transmissíveis (nova nomenclatura para DST) como sífilis, clamídia e gonorreia.
Um contraponto a esse conservadorismo é o aumento da abordagem de temas como identidade de gênero e sexualidade pela mídia, pela indústria do entretenimento e por produtores de conteúdo. A novela Força do Querer, as séries Sense 8 e Transparent abordaram assuntos com transexualidade, identidade de gênero, homossexualidade, preconceito contra LGBT entre outros. Por sua vez programas jornalísticos como Fantástico tentam falar sobre o tema de uma maneira mais profundas. Por último a plataforma de vídeo Youtube está repleta de canais que discutem sexo e diversidade.
Sexualidade
Apesar desse avanço ainda há resistência em debater esse assunto tão intrínseco ao comportamento humano. O publicitário e membro do coletivo SP sem Homofobia, Felipe Oliveira de Assis afirma que o tema precisa ser tratado com naturalidade: “Falar de sexo é falar da natureza, do natural, do ‘ser humano’, é falar de emoções, sentimentos, autorrespeito e respeito ao próximo, abordando também cuidados e prevenção […]. Quando a criança pergunta algo envolvendo sexualidade, trate do assunto com naturalidade, sempre respondendo apenas ao que foi perguntado, nem mais, nem menos. Nesse momento, o que a criança quer saber é o que diferencia homens e mulheres – e o que os diferenciam são inúmeras características, dentre elas está o sexo. Seja simples. Use palavras que a criança entenda.”
Essa conversa necessária não é tão simples no meio educacional. De acordo com uma matéria do Estadão, a Federação Internacional de Planejamento Familiar aponta que o Brasil, entre os países da América Latina, tem o pior índice no quesito de introdução à temática nos currículos escolares. Além da legislação não exigir esses ensinamentos outros fatores podem estar envolvidos, não só a esse assunto como também a identidades de gêneros e orientação sexual, pautas defendidas pelos grupos LGBT. O advogado e Presidente do Conselho de Atenção à Diversidade Sexual de Bauru/SP, Leandro Douglas Lopes, acredita que “a moral é um processo de criação humana. Eis o grande empecilho de se avançar na discussão de gênero e diretos sexuais, principalmente. As religiões apregoam regras morais que se reproduzem em normas jurídicas e nas relações sociais. Religião e política são fenômenos distintos, mas essencialmente interligados. Há, além das religiões, fatores decisivos em processos de segregação das minorias: a supressão pela maioria; as diferenças que ensejam desconfortos; a ausência de conscientização, representação e enfrentamento pelos grupos minoritários.”
A dificuldade de grupos sociais em discutir a sexualidade pode ser prejudicial à saúde sexual. De acordo com a Secretaria de Saúde de São Paulo houve um aumento de 603% de casos de sífilis por transmissão sexual entre os anos de 2007 a 2013. Às vezes o tabu é tão enraizado que corrobora para que os homens neglicenciem a própria higiene íntima permitindo que ocorra mais de mil casos de amputações de pênis por ano no país, informa o Jornal da USP.
Mídia e Indústria do entretenimento
Não se pode negar o avanço da discussão da temática nas mídias tradicionais, redes sociais e na indústria do entretenimento. Assuntos polêmicos e que eram pouco tratados há dez anos estão em evidência atualmente nesses meios. Transexualidade, identidade de gênero, orientações sexuais diversas, fetiches sexuais e entre outros nunca foram tão abordados pela indústria cultural o que permite que as pessoas que nunca ouviram falar a respeito possam ter contato com esses temas. Porém a dúvida surge; a mídia e os produtores culturais perceberam a relevância do tema ou é apenas jogada de marketing? Lopes tem uma opinião enfática a respeito: “a exploração midiática da temática é ambígua: nos permite avançar na reflexão, mas também sedimenta regras morais teoricamente sacramentadas nos indivíduos. Isso preocupa, pois verificamos avanços e retrocessos em momentos singulares.”
Já Oliveira vê com otimismo o crescimento da diversidade na mídia: “ Hoje vivemos em um contexto recorde de representatividade de minorias na mídia, mas isso é uma conquista de anos de lutas de diversos movimentos. Obviamente se deve a uma estratégia dos grupos midiáticos em lucrar com a representatividade, mas mesmo assim é um fator de extrema importância já que vital para que diversas gerações se vejam na mídia”.
Produtores de conteúdo principalmente em plataformas como Youtube estão compartilhando suas experiências e problematizando de uma maneira que abranja diversos públicos alvos. Entretanto, esses temas ainda precisam ser discutidos com mais profundidades e sem preconceito e amarras sociais por diversos grupos e meios de comunicação.