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Vivendo e respirando Aikido

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Há vinte anos Lucas pratica artes marciais e hoje atua como sensei de Aikido no Departamento de Educação Física da Unesp

Em meio aos prédios da rua Primeiro de Agosto, situada no centro de Bauru, encontra-se a Academia Yoshida. Localizada no segundo andar de um edifício simples e sem destaque, em meio à região comercial, este foi o ponto de encontro para minha primeira entrevista com Lucas Ferreira Sahade, 27, ou, como seus alunos o conhecem, sensei Lucas. Em frente à academia eu o avisto descendo o quarteirão para me encontrar por volta das cinco horas da tarde, como havíamos combinado.

Logo de cara, o sensei deixa transparecer uma de suas características mais marcantes, sua “postura”. A maneira como ele se porta revela uma certa imponência, de quem está preparado para reagir a qualquer situação adversa que apareça. No entanto, para Lucas não foi sempre assim, ele confessa que era uma criança que sentia muito medo. Foi graças ao contato com as artes marciais, entre elas o Aikido, que conseguiu superar esse estado de espírito.

Aos seis anos, ele iniciou sua vida nas artes marciais com o Karatê quando seus pais o colocaram para treinar no Bauru Tennis Club (BTC). Logo, partiu para a academia JKA Shotokan e seguiu treinando essa arte até 2018, até a rotina tornar-se muito puxada. O Taekwondo, o Kendô e o Judô foram outras artes que ele praticou ao longo de sua vida.

Lucas, aliás, não foi o único membro de sua família a pisar em um tatame. Seu pai, José Carlos, é faixa preta em Judô e, mesmo não atuando mais desde que Lucas nasceu, ele e o filho sempre conversaram sobre o assunto. Os primos do jovem sensei também dividiram o mesmo mestre de Taekwondo com Lucas.

Lucas da aulas de Aikido todas as quintas-feiras no Departamento de Educação Física da Unesp.

Porém, entre todos os estilos de técnica e ensinamentos que conheceu foi no Aikido que Lucas realmente se estabeleceu. No começo, o sensei procurava novas técnicas de imobilização para ensinar nas aulas de defesa pessoal que ministrava. Pesquisando, encontrou o que procurava no Aikido. Foi então, em 2010, que um colega com quem praticava Karatê apresentou para ele para o projeto de extensão da Unesp voltado para o Aikido. Hoje, Lucas da aulas gratuitas no projeto e também atua como sensei na Academia Yoshida.

Foram seis exames até alcançar a faixa preta e apenas em 2015 foi intitulado oficialmente um professor. “Lá na Unesp antes de ser faixa preta eu já puxava treino. Eu era um dos alunos mais velhos. Tinham cinco faixas pretas acima de mim”, ressalta Lucas. Quando o sensei Paulo saiu da Universidade para realizar um mestrado, os alunos faixas pretas assumiram as aulas. Na época, Lucas era um faixa verde e puxava os treinos de sábado.

“Eu fui bolsista do projeto quando cursei Educação Física. O professor Sérgio Tozzi que coordena. Quando eu fui entrar na Educação Física o sensei Paulo me indicou e eu já me tornei bolsista. E eu fiquei como bolsista um ano e meio”. Lucas afirma que mesmo se tratando de um espaço diferente de uma academia, os treinos da Unesp tentam seguir as tradições. Os alunos praticam a limpeza do ambiente e o Kami, uma saudação feita pelo aluno quando entra ou sai do dojo.

Vida pessoal

Em 2014, Lucas dividia seu cotidiano entre uma graduação em direito, uma em educação física, os treinos e o trabalho. Devido a rotina muito puxada, ele optou por não concluir o curso de Educação Física. Hoje em dia seu tempo é dividido entre a faculdade e os treinos . Como está no último ano da faculdade, ele também estuda para prestar concursos no futuro. Sua ideia é entrar no mercado ao fim da graduação e, caso passe em algum concurso, manter-se dentro do mundo das artes marciais.

Quando perguntado sobre o que faz em sua vida pessoal, para se distrair, Lucas brinca citando os treinos novamente. “Jogo bastante jogos de computador, jogos de carta”. Sua preferência na sétima arte vai para os filmes épicos, como a série “Os Senhor dos anéis”. Porém, seu gosto varia desde os clássicos, como “O Poderoso Chefão” e ” A Vida é Bela”, até os filmes considerados de classe C. As séries de televisão ganham espaço na hora do almoço. “Isso se eu não estiver lendo algo de Aikido”, brinca Lucas novamente, “Ele (Aikido) é um hobby”

“A partir do momento em que você entra no faixa preta é que nem quando você se forma. Então agora você vai começar a aplicar. Se você não aplicar significa que você não entendeu nada daquilo que você fez”. Ele deixa claro que o Aikido não é um esporte mas um estilo de vida.

“O tempo inteiro o praticante de artes marciais, o praticante de Aikido está tentando desenvolver sua arte”. Essa é ideia que Lucas me passou quando tentou explicar que o Aikido também pode ser utilizado em momentos comuns do cotidiano, como na hora de se cozinhar. Quando perguntei se a ideia seria a mesma do icônico filme “Karate Kid”, Lucas riu e disse que a ideia é próxima mas que o filme é muito mais cinematográfico do que detalhista.

Aulas

“Inicialmente é uma responsabilidade imensa. É muito legal, com certeza é muito legal você passar adiante aquilo que você aprendeu e poder se testar mas ao mesmo tempo você tem uma responsabilidade imensa com as pessoas e com as academia”. Ele ressalta a importância da figura do sensei na vida dos alunos, principalmente dos jovens que levam os ensinamentos para o resto da vida”. Confira Abaixo algumas imagens dos treinos de Aikido na Unesp:

Para ele o retorno que a posição de mestre trouxe para si também é imenso, tanto na organização pessoal quanto no respeito ao próximo. Na medida em que ele descreve sua função é possível entender que esse é um trabalho paradoxal. O sensei deve ajudar o aluno a evoluir para ser superado. Porém, ao mesmo tempo, o próprio mestre deve evoluir para que essa não seja uma tarefa fácil. Ele reconhece que também aprende muito com o processo, é uma via de mão dupla.

Lucas e seus alunos atuam no estilo conhecido como Yoshinkan criado pelo sensei Gozo Shioda. Ele explica que o diferencial do Aikido para as outras artes marciais é o preceito de evitar o confronto com seu adversário, utilizando a força dele a seu favor.

É possível perceber que Lucas também leva seu foco e sua postura para dentro das aulas. Sempre sério, ele demonstra o senso de humor em alguns momentos mas não perde sua “aura” de sensei e sua concentração. Porém, isso não impede que um pouco de sua vida pessoal entre em suas aulas. Em meio ao treino com as espadas de madeira ele faz uma comparação entre a ferramenta de treino com as espadas de diamante dos jogos de video-game ao estilo rpg.

Thaís de Oliveira, 21, estudante de design, é faixa amarela e conhece Lucas desde que entrou no Aikido, em meados de abril de 2017. ” Ele é uma pessoa muito organizada. Dentro do treino ele ainda é uma pessoa séria mas você consegue ver que ele tem um lado amigável que ele demonstra fora do treino também. Mas ele é uma pessoa com uma moral muito forte”. Para ela o mestre foca seu trabalho no condicionamento físico.

Já Roberto de Aguiar, 26, Doutor em Ciência da Tecnologia, é faixa marrom e acredita que o diferencial do sensei é outro. ” O sensei Lucas deixa muito clara a relação do treinamento dos wazas, as técnicas, e o treinamento mental, o budô. Então os pontos que vem junto com a filosofia da arte marcial ficam muito claras durante os treinos dele”

Lucas (direita) ajuda Roberto (esquerda) a preparar-se para um exame.

Futuro

Para o futuro Lucas sonha em tornar-se uma referência para os outros, principalmente para seus alunos. Entre aqueles que toma como modelo está o próprio criador do Aikido, Morihei Ueshiba. A construção de uma academia própria também está entre seus planos. “O Aikido só vai morrer agora quando eu morrer. Então enquanto eu tiver físico eu vou estar treinando.”

Independente do que o aguarda, é possível saber que o Aikido continuará a fazer parte da vida de Lucas.” Aquilo começa a te envolver. As suas atitudes começam a ser Aikido. Você começa a viver aquilo de verdade. Vinte e quatro horas do seu dia você está aplicando aquilo”

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Redação

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