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Organização Mundial da Saúde alerta para os perigos do excesso de ingestão de açúcar.

Por Herculano Foz e Vinícius Passarelli
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu, no início de 2015, as novas diretrizes para orientar a quantidade de açúcar na dieta de adultos e crianças. A organização recomenda que apenas 10% da ração energética diária seja de açúcares, o que equivale a 50 gramas ou, aproximadamente, cinco colheres de sopa diárias. Esse índice inclui não apenas o açúcar que acrescentamos em diversos alimentos, mas também a quantidade contida nos produtos industrializados e os açúcares “ocultos”. Segundo dados apresentados pela última Pesquisa Nacional de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo IBGE, a maior parte dos açúcares consumidos pela população brasileira está oculta em alimentos ultraprocessados como refrigerantes, temperos, sucos, molhos preparados e refeições prontas. É válido ressaltar que nessa recomendação proposta pela OMS não devem ser contabilizados os açúcares presentes em alimentos in natura, ou seja, legumes, frutas e verduras.
A Organização aponta que as doenças não transmissíveis são responsáveis por 38 das 56 milhões de mortes em todo o mundo (68%), e que a má alimentação e a falta de exercícios físicos (considerados como fatores de risco modificáveis) figuram entre as principais causas desses tipos de doenças. “Essa recomendação é de extrema relevância, pois o consumo excessivo de açúcar está associado a um elevado risco de desenvolvimento de obesidade, diabetes mellitus e outras patologias crônicas, que atualmente estão entre as principais causas de internação e de morte no país”, pontua a Doutora em Nutrição Humana a UFS, Andhressa Fagundes.

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Arte: Herculano Foz e Vinícius Passarelli


De acordo com a cartilha emitida pela OMS, as novas recomendações têm como principal objetivo “reduzir o risco de contratação de doenças não transmissíveis em adultos e crianças, com foco especial na prevenção e no controle do aumento nocivo de peso e das cáries dentárias”. Além disso, a Organização ainda pretende contribuir para a elaboração de novas medidas e políticas públicas que atuem na redução da ingestão de açúcares.
Nesse sentido, a diretora da Associação Paulista de Nutrição (APAN), Denise Cussioli, afirma que novas intervenções na área da saúde pública são de fundamental importância. “O excesso de peso acomete um em cada dois adultos e uma em cada três crianças. Para enfrentar essa situação é emergente a necessidade da ampliação de ações intersetoriais – adoção de políticas públicas – sobre os diversos determinantes de saúde e nutrição, promovendo a alimentação adequada e saudável, e intensificando a fiscalização/regularização para a rotulagem de alimentos no âmbito de comercialização para todos os produtos, e não somente os ‘ricos em açúcar’”, pondera Cussioli.
O novo estudo da OMS se baseou, principalmente, em constatações obtidas através de pesquisas científicas recentes que evidenciam a relação entre o alto consumo de açúcar e o peso corporal. Os dados apontam que crianças com ingestão mais elevada de bebidas açucaradas, por exemplo, têm maior probabilidade de apresentar quadros de obesidade, se comparadas a crianças com uma ingestão mais baixa. Além do sobrepeso, um outro fator relacionado ao consumo elevado de açúcar que vem preocupando especialistas da área são os altos índices de diabetes verificados.
É o que salienta a nutricionista Viviane Chaer. “O alto consumo de açúcar, sacarose ou mesmo de carboidratos tipo amido, fará com que nosso organismo produza mais insulina. A insulina elimina o açúcar do sangue e faz com que o indivíduo volte a ter fome e consumir mais carboidratos, gerando um ciclo vicioso. A curto prazo, isso pode aumentar a glicemia pós-prandial. A médio prazo, pode aumentar o tecido gorduroso; e, além disso, a longo prazo pode levar até ao diabetes melito tipo 2”.
Cléssio Gontijo, professor do departamento de Pediatria da UFMG e membro do grupo Observaped, ainda chama a atenção para outros tipos de complicações. “O excesso de açúcar está relacionado ao aumento dos níveis sanguíneos de triglicerídeos e redução dos níveis do HDL. Existem ainda estudos investigando a relação entre o consumo excessivo de açúcar com a candidíase de repetição, a acne, alterações na microbia intestinal e com problemas de memórias”, comenta Gontijo.
Por fim, os levantamentos realizados pela OMS apontam uma relação direta entre a incidência de cáries dentárias e o nível de ingestão de açúcares. As cáries atingem com maior frequência aqueles que apresentam taxas de ingestão de açúcar superior a 10% da ingestão calórica total. Assim, as novas recomendações da Organização estariam ligadas também à redução dos índices desse tipo de doenças.
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De acordo com as recomendações da OMS, devem ser contabilizados tanto o “açúcar de mesa”, quanto os açúcares ocultos em alimentos industrializados (Foto: Divulgação)


 
Rótulos
Além de alertar sobre a quantidade, a OMS afirma que são necessárias políticas públicas voltadas para a alimentação saudável, além de uma regulamentação mais incisiva sobre a rotulagem dos produtos alimentícios e propagandas de alimentos com alto teor de açúcar direcionadas ao público infantil. No Brasil, é previsto por lei que os alimentos industrializados tenham contidos no rótulo as informações nutricionais básicas do produto, com todos os nutrientes presentes na composição e suas respectivas quantidades.
Apesar disso, os especialistas alertam que essas informações nem sempre são razoavelmente claras e de fácil e imediata interpretação para população. “O ideal é que os órgãos ligados à saúde promovam medidas que facilitem essa comunicação com a população e colabore com a interpretação das informações contidas nos rótulos”, alerta Andhressa Alves. Ela chama atenção para o exemplo do Chile, que há quase dois anos vem promovendo uma campanha nacional contra a má alimentação e que, entre outras medidas, implantou uma lei obrigando que a rotulagem de alimentos que contenham um alto teor de açúcar, sódio ou gorduras venha acompanhada de uma mensagem de destaque indicando o excesso.
Essa comunicação mais clara também se faz necessária devido à difícil identificação das quantidades elevadas de açúcar em alimentos não necessariamente doces ao nosso paladar. O Dr. Clésio Gontijo afirma que muitos açúcares com pouco poder adoçante são utilizados como conservantes na indústria de alimentos. “[Estes açúcares]  estão presentes em mais de 70% dos alimentos vendidos nos supermercados, sob mais de 60 nomes diferentes e são, muitas vezes, difíceis de identificar nos rótulos. Dentre eles temos a maltodextrina, o xarope de milho, o xarope de glicose, a glicose de milho, a dextrose, frutose e o extrato de malte”, explica. O professor cita como exemplos o ‘ketchup’ e os molhos tipo ‘barbecue’, que contêm, cada um, duas colheres de café de açúcar por colher de sopa do molho.
Outro problema relacionado aos rótulos é a difícil constatação da real quantidade que se ingere de açúcar ao consumir todo o produto contido na embalagem. As informações normalmente se referem a apenas frações do alimento, dividido em porções menores. ”Todos os industrializados contêm açúcar e esse cálculo depende da quantidade que estamos consumindo. Em uma embalagem de biscoito, por exemplo, a indústria apresenta no rótulo a quantidade equivalente ao cálculo de três unidades, no entanto, muitas vezes o indivíduo consome o pacote todo”, ressalta Alves.
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“Os açúcares estão presentes em mais de 70% dos alimentos vendidos nos supermercados, sob mais de 60 nomes diferentes” (Foto: Divulgação)


 
Políticas públicas e indústria
Medidas governamentais e de outros órgãos ligados à saúde esbarram muitas vezes nos interesses privados dos grandes grupos da indústria alimentícia, o que torna ainda mais difícil campanhas e programas voltados ao combate e conscientização da população ao consumo desequilibrado de açúcar. Além da OMS, órgãos como a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o Ministério da Saúde, que em seu Guia Alimentar orienta a população a consumir menos produtos ultraprocessados, também atuam nesse sentido.
“Existe um interesse econômico muito grande por parte das indústrias, no consumo cada vez maior do açúcar e assim a população necessita de maiores esclarecimentos sobre os malefícios do seu consumo excessivo”, alerta Gontijo. O entendimento dos especialistas da área é de que as estratégias adotadas por órgãos públicos e privados não só conscientizem, mas ajam de maneira mais prática na regulamentação e na fiscalização sobre a produção e o comércio dos produtos industrializados.
Algumas leis e medidas vindas do Estado demonstram essa preocupação. O Guia Alimentar para a população brasileira, produzido pelo Ministério da Saúde em 2014, indica que o consumo excessivo de açúcar na dieta está intimamente ligado a uma alimentação de baixa qualidade e ressalta a importância do consumo de produtos in natura ou minimamente processados a fim de se obter uma alimentação saudável. A Dr. Andhressa Alves também chama a atenção para as políticas direcionadas à alimentação das crianças e ao fato de que o futuro da saúde destas depende de ações implantadas agora, que colaborarão para a formação de hábitos alimentares melhores. “Existe uma lei brasileira que proíbe a venda de refrigerantes e salgadinhos industrializados nas escolas, por exemplo. Já temos algumas medidas que coíbem propagandas de alimentos direcionadas ao público infantil em determinados horários. Essas são iniciativas para tentar reduzir esse consumo, embora não seja fácil”, conclui.
 
 

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Redação

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