No Brasil, a população está estimada em aproximadamente 206 milhões de habitantes, segundo o senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2016. Já o estado de São Paulo, o mais rico do país, concentra-se quase 45 milhões de moradores de acordo com as estatísticas do mesmo ano. Para suprir as necessidades dessa população o agronegócio entra em cena.
A agricultura orgânica movimentou no ano passado R$ 2,5 bilhões para o campo e aponta o Portal Brasil uma estimativa de crescimento para o setor entre 20% e 30% em 2017. As empresas chegam a exportar para mais de 76 países, onde os principais produtos comercializados são: açúcar, mel, oleaginosas, frutas e castanhas. Já para consumo interno são as hortaliças, também a cana de açúcar, arroz, café, castanha do Brasil, cacau, açaí, guaraná, palmito, mel, sucos, ovos e laticínios. Esse mercado vem crescendo, mesmo com produtos mais caros, tem conquistado o consumidor.
O número de produtores cadastrados no mercado Nacional de Orgânicos é de 11.084 e, quanto à área de abrangência no Brasil chegam a 950 mil hectares cultivados. E esse é um mercado em constante crescimento, segundo dados da USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) e MAPA (Ministério da Agricultura) o faturamento no Brasil chegou a 2,5 bilhões só em 2015. Omar Jorge Sabbag, doutor em Planejamento Ambiental e Desenvolvimento pela Unesp e professor da Unesp de Ilha Solteira, o aumento da demanda por alimentos orgânicos está relacionado a questões de saúde da população “a demanda por alimentos orgânicos tem sido comprovada por uma ligação forte entre determinadas doenças humanas, bem como a percepção da população com relação ao efeito residual de agrotóxicos nos alimentos, em especial frutas, verduras e legumes”. Independente dos tipos de produtos, o governo tem estimulado o plantio orgânico junto a empresas públicas e privadas, porque esse tipo de cultivo agride menos o meio ambiente.
Entre as práticas utilizadas na agricultura sustentável, Omar ressalta algumas técnicas como a “reciclagem dos recursos naturais presentes na propriedade agrícola, em que o solo se torna mais fértil pela ação benéfica dos microrganismos, que decompõem a matéria orgânica e liberam nutrientes para as plantas; compostagem e transformação de resíduos vegetais em húmus; cobertura vegetal morta e viva do solo; uso de esterco animal; adubação verde e controle biológico de pragas e outros fitopatógenos”. Essas técnicas agridem menos o meio ambiente e também contribuem para que haja um equilíbrio natural e proporciona que o alimento que será consumido seja livre de agrotóxicos e outras substancias utilizadas na agricultura tradicional.
Embora o método orgânico seja menos prejudicial à natureza, enfim, a plantação em larga escala é mais viável comercialmente, mesmo tendo um impacto grande ao solo, em contra partida seus custos são baixos, porque se utiliza a tecnologia ao seu favor e por essa razão acaba produzindo mais e com custos mais competitivos ao mercado.
O método mais artesanal não consegue atender em larga escala toda a demanda brasileira e igualmente ao exterior. No ano de 2016, o Brasil atingiu o superávit, foi arrecadado 45 bilhões para o país através da exportação do agronegócio. Diante de tal cenário, a produção em larga escala é essencial para dar conta dos pedidos.
Os produtos mais pedidos do seguimento são: o complexo de soja que lidera as exportações da temporada com US$ 17,23 bilhões, seguido de carnes (US$ 6,98 bilhões), produtos florestais (US$5 bilhões), complexo sucroalcooleiros – produção de açúcar e álcool – (US$ 4,46 bilhões), e cereais, farinhas e preparações (US$ 2,4 bilhões). Os cinco principais setores somaram US$ 36 bilhões nas vendas externas. Esse valor representa 80% do total exportado pelo agronegócio no primeiro semestre de 2016, segundo o site Portal Brasil.
A produção em larga escala tem o custo mais competitivo no mercado, porque a tecnologia contribui para o cultivo em série. Só que, seus efeitos ao meio ambiente nem sempre não são os melhores.
Para o processo de manipulação intensivo do solo ocorre por meio do uso de máquinas agrícolas, tais como tratores e colhedeiras. A compactação dessa terra é negativa para a produção, porque se influencia diretamente no desenvolvimento da agricultura. Outro fator que também pode ser prejudicial é o grande número de animais que acabam por fazer o pisoteio na terra e isso leva a perda da porosidade do solo.
O engenheiro agrônomo de Bauru, Roberto Janeiro, realiza trabalhos na área de consultoria para produtor de leite e também para gado de corte. Ele diz que o pisoteio do gado não é o que causa o empobrecimento da terra, mas é o produtor que contribui para tal realidade ao deixar de fazer a manutenção adequada do solo. Janeiro informa que o seguimento que desenvolve consultoria é conduzido por uma agricultura mais familiar e que toda propriedade quando vai realizar uma atividade qualquer, seja agrícola ou pecuária tem que fazer uma analise de solo por meio de um técnico ou sindicato. Após seguir as recomendações do técnico, e supridas às carências do solo pode-se dar inicio ao processo da atividade que se deseja desenvolver.
Quando o solo não é cuidado ele fica danoso e à água acaba não infiltrando nas camadas das superfícies e com isso pode levar até as erosões no local. Essa consequência fica ligada diretamente a movimentação da água pelo solo. Além desse fator, igualmente é prejudicial à natureza o uso de substâncias químicas no campo, porque os insumos agrícolas como os fertilizantes, inseticidas e herbicidas, podem ser infiltrados no solo por meio da água da chuva, por exemplo.
Após o lençol freático e o aquífero serem contaminados por substâncias químicas, pode-se igualmente levar aos mananciais como os córregos, rios e lagos esses resíduos. Além dos danos já citados, o solo pode passar pela desertificação, ou seja, ficar próximo à paisagem de um deserto. Isso é comum ocorrer em regiões de clima árido, semiárido e subúmido, onde a evaporação é maior do que a infiltração da água. Outra questão é a poluição direta de lixos, entre outras substancias na terra que causam destruição do chão.
Os produtores em larga escala ficam atentos à demanda do mercado e nem sempre se atentam nas consequências que podem causar ao solo quando realizam o uso incorreto da terra. Nos últimos levantamentos de 40 anos, as áreas cultivadas cresceram cerca de 53%, dos 851 milhões de hectares do país. Mesmo diante de consequências negativas referentes ao impacto ambiental, o agronegócio é muito importante para o Brasil. Em 2015, o PIB brasileiro correspondente a esse setor foi de 23%. Nessa situação, tenta-se buscar uma solução para o problema, por meio de legislação se incentiva o plantio sustentável por parte das empresas.
O governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, decretou o Projeto de Desenvolvimento Regional Sustentável Paulista no qual as empresas recebem subsídios do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista, do Banco do Agronegócio Familiar – FEAP/ BANAGRO para que implantem as práticas de desenvolvimento sustentável adequada a cada região do Estado. Por meio da lei, objetiva-se obter a contribuição do agrônomo para com a conservação do solo e do meio ambiente.
A agricultura sustentável é a que apresenta maiores vantagens, se for levado em conta que é um processo que envolve um menor uso de produtos tóxicos, melhor aproveitamento do solo e a manutenção do equilíbrio ambiental. Omar ainda diz que por ser uma prática que usa menos produtos químicos, é mais benéfica ao produtor, já que muitos não usam os EPIs necessários para o manuseio. Ainda sobra as vantagens, ele ainda diz que “Outro fator remete à percepção do nível de satisfação em oferecer aos consumidores produtos de melhor qualidade e ainda promover melhorias para a população próxima aos locais de produção, diminuindo a contaminação ambiental”.
Porém apresenta várias desvantagens em relação a agricultura tradicional, um dos maiores é em relação ao custo para a implantação desse tipo de agricultura, além disso os selos de garantia para produtos orgânicos também geram um custo, que acaba recaindo sobre o valor final. Outro fator é que como a produção ainda é reduzida, o valor final do produto acaba ficando mais alto do que aquele que foi cultivado na agricultura tradicional, o que ainda é um entrave já que preço ainda é um fator que influencia o consumidor na hora da compra.
Agricultura sustentável no Brasil
Existem empresas e eventos que estão ligados à agropecuária sustentável no Brasil e isso mostra como é um mercado que está em expansão e que tem grande potencial para crescer, já que cada vez mais as pessoas estão preocupadas com o meio ambiente e também com a origem dos alimentos que elas consomem.
Omar fala sobre a Bio Brazil Fair 2016, que é uma feira organizada pelo Sebrae. O evento é destinado apenas a agricultura orgânica e mostra como se trata de um mercado em expansão, que tem chegado a vários lugares do Brasil.
Outra empresa apontada por ele foi a Korin Agropecuária, que produz apenas alimentos orgânicos e sustentáveis, sendo que foi a primeira a produzir um frango orgânico, tendo até mesmo o sele de Bem-Estar Animal da HFAC – Humane Farm Animal Care. O selo é um certificado conferido a empresas produtoras que implementam e seguem normas rigorosas de bem-estar animal, como alimentação equilibrada, lugar de repouso e um ambiente em que o animal pode se comportar de acordo com a sua espécie. Tanto a criação e o abate de cortes de frango quanto a criação das galinhas de postura da Korin são certificadas pela certificadora Ecobert.
Em 2014, a revista Exame elencou as 30 empresas mais sustentáveis do ano. Na área agrícola o destaque foi dado para a Bunge, pois ela inaugurou um terminal portuário em Barcarena, no Pará, e com isso reduziu em 20% a emissão de carbono das suas exportações de grãos para a Europa, pois esse terminal fica mais perto do que o de Santos ou de Paranaguá.
Agricultura Sustentável em Bauru
No interior paulista, em Bauru, a Secretária Municipal de Agricultura e Abastecimento (SAGRA), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), criou o projeto piloto do Programa Feira do Produtor Rural, na segunda quinzena de fevereiro de 2014. A finalidade do plano foi para capacitar os grupos de produtores rurais para a preparação dos produtos, de forma organizada para a sua comercialização, e tudo realizado de acordo com as normas legais.
O diretor de abastecimento da SAGRA, Rafael Santana de Lima, comenta que o trabalho de capacitação é destinado para o pequeno e médio agricultor e para obter os bons resultados a Secretária Municipal realiza parcerias com as empresas, e entre elas está o SEBRAE. Segundo o diretor, as instituições têm trabalhado muito a questão da sustentabilidade e saudabilidade dos alimentos, “fazemos um trabalho em cima de produtos orgânicos. Inclusive temos um engenheiro, o Gabriel, que fica responsável pelas questões de água, do assoreamento dos rios e o reflorestamento das árvores. Trabalhamos todos em conjunto”, explica Lima.
No agronegócio as parcerias são de suma importância para o sucesso de todos os envolvido, em especial para o agricultor familiar, conta o diretor de abastecimento “com parceiros, em um galpão da prefeitura será feito o primeiro entreposto da agricultura familiar, ou seja, o produtor além de poder vender na feira também terá seu espaço de comercialização no celeiro” comenta Lima. De acordo com o diretor, o agricultor muitas vezes tem dificuldades para escoar a mercadoria, já com um lugar próprio terá mais oportunidade para realizar a venda de seu produto. Porque as pessoas hoje buscam justamente por qualidade.
Embora em Bauru tenha o Horto Florestal I e II com uma extensão grande de terra, mas não é possível produzir de acordo com sua dimensão. No local há o assentamento que abriga quase 400 famílias, segundo Lima e, cada uma tem em torno de cinco alqueires para o plantio. “Se destinassem as responsabilidades de forma adequada, só nesse lugar seria possível produzir alimento para o estado de São Paulo inteiro”, comenta o diretor de abastecimento. Só que a reforma agrária não foi feita corretamente e por isso não se produz de acordo com a capacidade do espaço.
Medidas sustentáveis como a realizada pela SAGRA contribuem para a normatização do solo. Embora a produção seja feita em pequena escala, os agricultores são orientados a seguirem normas que não prejudique o solo. A comercialização é o foco, mas os cuidados e as medidas tomadas com o meio ambiente contribuem para a garantia do solo saudável e igualmente dos alimentos.
De acordo com o Portal Brasil, “o governo federal tem estimulado, em parceria com entidades públicas e privadas, a difusão da agricultura orgânica com cursos de capacitação, promoção de feiras orgânicas para o escoamento dos produtos e certificação da produção. A certificação garante a origem e a forma produtiva do alimento que chega ao consumidor, atestando que a produção está em harmonia com o meio ambiente”.
Outra alternativa que se tem buscado para diferenciar as empresas preocupadas com o meio ambiente é por meio de certificação. O ISO 14001 é usado para caracterizar a instituição que atua de acordo com as normas que regem a gestão sustentável na qual o estabelecimento cumpre a legislação ambiental em todo processo de produção do agronegócio. A norma ISO 14001 estabelece um sistema de gestão ambiental (SGA) na qual já existem mais de 250 mil certificados no mundo.
A partir disso é possível observar que a agricultura sustentável é um nicho que tem ganhado espaço dentro do mercado e que está começando a ganhar também subsídios do governo para que a prática seja mais utilizada do que a agricultura tradicional. É uma forma de contribuir para a preservação do meio ambiente e também de garantir que os produtos que chegam até as mesas das pessoas sejam de qualidade e livres de produtos químicos.