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Como o aumento do uso de agrotóxicos afeta o Brasil

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A liberação desses produtos reflete diretamente na qualidade da saúde e na economia do país

Por Beatriz Ribeiro, Giovanna Romagnoli e Julio César

Abamectina, Acefato, Glifosato, Veto, Clorofenóxidos. Quando consumimos verduras, legumes e vegetais não dá para imaginar que também estamos ingerindo uma enorme quantidade de venenos invisíveis. 

Porém, não é de hoje que o aumento da liberação dos agrotóxicos vem sendo pauta do governo. Desde 2017, praticamente o dobro de veneno foi liberado em relação aos anos anteriores. Só esse ano, 239 novos agrotóxicos foram colocados no mercado no Brasil, ou seja, mais de 1 agrotóxico liberado por dia.

Fonte: Brasil de Fato

O ex secretário da agricultura de Bauru, Chico Maia, teve sua mãe contaminada por agrotóxico. A partir disso, ela teve muitas complicações de saúde, pressão alta, tonturas e, acabou tendo Parkinson. Por isso, ele fez ações nesse sentido enquanto atuava como secretário algumas de suas medidas foram: criações de leis municipais, assistência técnica para produção orgânica e agroecológica em parceiras com diversos órgãos, elaboração de projetos que favorecessem o acesso ao crédito rural do Plano Safra, entre outras.  “E ampliamos os canais de comercialização por meio de feiras livres, programas como o Programa de Aquisição Agrícola (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa Paulista de Agricultura de Interesse Social (PPAIS),” completa Chico.

Impacto na saúde

Segundo o mundo educação “A intoxicação por agrotóxicos pode ocasionar tonturas, cólicas abdominais, náuseas, vômitos, dificuldades respiratórias, tremores, irritações na pele, nariz, garganta e olhos; convulsões, desmaios, coma e até mesmo a morte. As intoxicações crônicas — aquelas causadas pela exposição prolongada ao produto — podem gerar problemas graves, como paralisias, lesões cerebrais e hepáticas, tumores, alterações comportamentais, entre outros. Em mulheres grávidas, podem levar ao aborto e à malformação congênita.”

De acordo com o InfoEscola, os agrotóxicos foram desenvolvidos na Primeira Guerra Mundial e muito utilizados na Segunda Guerra Mundial como armas químicas. Após o fim da guerra é que passaram a ser utilizados como defensivo agrícola. São divididos em inseticidas e herbicidas e, cada um deles possuem categorias dos mais para os menos perigosos para a saúde.

Chico comenta que “no Brasil, o uso indiscriminado de agrotóxico é tão grave que há registros de suicídios de trabalhadores rurais, puberdade precoce, com a aparição de pelos pubianos e mamas em bebês de apenas seis meses de idade, nascimento de crianças sem os braços e as pernas, contaminação do leite materno, infertilidades masculina e feminina, câncer e outras doenças degenerativas, segundo estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).”

No meio ambiente a contaminação atinge os solos, as águas, plantas e animais importantes para as culturas agrícolas e multiplicação das espécies que morrem como é o caso das abelhas.

Fonte: Anvisa/Dados de 2016 

Assim, o mais recomendado é consumir produtos orgânicos. Porém, esses alimentos costumam ser 30% mais caros. Vale a reflexão: o dinheiro a mais gasto na compra dos alimentos é muito menor do que o gasto em remédios posteriormente.

Além disso, é aconselhado a imersão dos alimentos em uma solução de 1 litro de água para uma colher de sopa de bicarbonato de sódio durante 15 minutos para retirar o veneno do alimento, segundo o site greenMe.

Produtos orgânicos são uma alternativa um pouco mais cara para os consumidores que querem fugir dos produtos com agrotóxicos

Chico lembra que para se ter uma agricultura mais sustentável é necessário que o consumidor mude suas exigências e passe a consumir produtos de produção agroecológica e orgânica. “Adquirira produtos certificados diretamente dos agricultores e agricultoras, nas propriedades, nas feiras livres, apoiando os grupos de CSA (Consumidores que Sustentam a Agricultura). Procure um produtor perto de você, e busque mais gente para criar um projeto de uma comunidade que sustenta a agricultura.  Você vai receber produtos saudáveis, orgânicos, mais frescos direto do seu amigo produtor. Assim você estará salvando a si mesmo, a sua família, a agricultura, o meio ambiente e o futuro da agricultura familiar com respeito e responsabilidade,” diz Chico.

Impacto na economia 

Para manter o público informado, hoje existem alternativas, através das redes sociais, utilizadas para o acompanhamento de liberação dos agrotóxicos no Brasil. Um exemplo deste tipo de ferramenta é o @orobotox no Twitter, um robô que divulga o número de agrotóxicos liberados no Brasil e informa quais são os novos que foram liberados recentemente. A ferramenta foi criada pela Agência Pública, a maior agência de jornalismo investigativo do Brasil, e pelo Repórter Brasil, e essas duas organizações coletam informações do Diário Oficial da União que estão disponíveis ao público. O objetivo é facilitar o acesso desse tipo de informação, uma vez que é muito mais fácil acompanhar por redes sociais do que por sites oficiais, por exemplo, que possuem uma taxa de acessos consideravelmente menor. 

Fonte: Twiiter/@robotox

É possível também perceber uma alteração nas relações internacionais, no que se refere ao uso de agrotóxicos. Em fevereiro deste ano, a Rússia, um grande exportador da soja brasileira, recomendou que o país reduzisse o uso de agrotóxicos neste produto e, caso não fosse atendida, deixaria de comprar. Essa notícia surgiu como uma bomba naquela época, visto que a Rússia é o quinto maior exportador da soja brasileira, e perder este parceiro afetaria de forma significativa a economia do país que, por sinal, já não está em um cenário tão favorável. 

“Vejo uma política míope que apresenta desafios ao próprio agronegócio ao ser impedido de comercializar em alguns países, como vem pedindo organizações não governamentais da União Europeia, que não querem que seus países comprem produtos brasileiros. Cerca de 600 cientistas europeus assinaram uma Carta para que a União Européia deixasse de importar produtos brasileiros ligados ao desmatamento/envenenamento feito pelo agronegócio,” comenta Chico. Além disso, cerca de 30% dos agrotóxicos proibidos na União Européia, são utilizados aqui no Brasil.

Dessa forma, é possível entender que o uso indiscriminado de agrotóxicos não prejudica apenas a saúde dos brasileiros, o que já é muito sério, mas também a economia do país, prejudicando a confiança externa nos produtos brasileiros. Essa reação do mercado é preocupante pelo fato de que o Brasil é referência na exportação de commodities, sendo os produtos primários a principal fonte de renda da economia do país. Quando esse tipo de escândalo acontece, os países optam por cancelar temporariamente a importação destes produtos. Essas medidas foram percebidas durante o fechamento da Operação Carne Fraca, por exemplo, que investigava a carne brasileira que era adulterada por grandes empresas e, algumas delas, são conhecidas por serem as principais exportadoras de carne.  

“Há uma política deliberada de envenenamento em massa do governo de extrema direita de Bolsonaro e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a musa do veneno, como foi apelidada no Congresso Nacional, com o único objetivo de diminuir o custo da produção,” finaliza Chico.

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Redação

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