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Dengue: como funciona a doença e quais são os níveis atingidos no Brasil

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Seja nos noticiários, nas campanhas do governo ou no boca a boca, uma percepção é comum: a dengue parece sempre estar em pauta. E essa visão não está errada. Na verdade, é justificável que o brasileiro esteja frequentemente em contato com esse problema, já que as próprias características ambientais do país são condicionantes à proliferação da doença. Isso porque ela é causada pela picada do mosquito Aedes aegypti, que possui mais adaptabilidade em determinados ambientes. “Os mosquitos dessa família se proliferam em regiões quentes, daí a sua presença ser maior nas áreas tropicais”, aponta o infectologista Aldo de Albuquerque da Cunha. Em climas tropicais, além de uma das características mais comuns ser a temperatura, na maior parte do ano, alta; decorrentes de massas de ar quentes, também há um alto índice pluviométrico. “Os períodos de maior infestação do mosquitos se dá também em épocas de chuva”, adiciona Aldo. Essas características abarcam quase a totalidade do Brasil, já que o país possui, com exceção de uma parcela da região Sul, clima tropical.

Segundo o manual de orientação técnica Dengue: aspectos epidemiológicos, diagnóstico e tratamento, do Ministério da Saúde, “a dengue é uma doença febril aguda, de etiologia viral e de evolução benigna na forma clássica, e grave quando se apresenta na forma hemorrágica. Ela é, hoje, a mais importante arbovirose que afeta o homem e constitui-se em sério problema de saúde pública no mundo”.

O vírus

Normalmente associados a gripes e resfriados, os vírus são agentes causadores de um grande número de infecções no organismo. Aos que possuem a capacidade de contagiar seres humanos se da o nome de vírus de animais e sua atuação no corpo ocorre à partir de uma relação de parasitose com as células. Essa interação ocorre com o depósito do material genético (DNA ou RNA) do vírus dentro das células; a partir de então, ele altera o funcionamento do metabolismo desta, em busca da sua própria reprodução – esse processo pode levar a morte das células hospedeiras. 

No caso da dengue, existem quatro deles: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Essa divisão, entretanto, é baseada no antígeno que o corpo utiliza para combatê-los; ou seja: cada um destes agentes é combatido por um grupo específico de anticorpos. Por isso, ser infectado por um dos sorotipos garante imunidade contra ele, contudo, não para os outros. Por isso é possível contrair dengue mais de uma vez, a partir da contaminação por outro dos sorotipos.

Ciclo de vida do mosquito

Para chegar na fase adulta, o vetor da dengue, a fêmea do Aedes Aegypti – única capaz de transmitir o vírus da dengue, já que o macho não se alimenta de sangue humano – passa por algumas fases de desenvolvimento que são determinantes para a prevalência dos casos da doença. Isso ocorre porque os ovos são depositados em superfícies próximas à água, aguardando por períodos de chuva para que, assim, ele ecloda e libere a larva. E é aqui que mora o perigo. O ovo é extremamente longevo, e pode sobreviver por períodos superiores à um ano.

A fase larval do animal dura cerca de cinco dias e é procedida pela chamada “pupa”, onde o mosquito passa pelo processo de metamorfose para a fase adulta, onde, caso seja uma fêmea, será capaz de transmitir o vírus.

Existe prevenção?

Hoje, as únicas formas de prevenir o primeiro contágio da dengue são os cuidados com o desenvolvimento dos vetores e métodos mecânicos. Para o primeiro, o Ministério da Saúde indica que a melhor forma de prevenção da dengue é evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, eliminando água armazenada, que podem se tornar possíveis criadouros, como em vasos de plantas, lagões de água, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção e, até mesmo, em recipientes pequenos, como tampas de garrafas. Para o segundo caso, pode-se diminuir a exposição da pele com o ambiente, com roupas, além de usar telas contra mosquitos e repelentes.

A única vacina capaz de prevenir a dengue, chamada de Dengvaxia, é contraindicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, desde abril deste ano, para pessoas que nunca foram expostas ao vírus. A decisão foi tomada após pesquisas indicarem que indivíduos que tomam a vacina sem nunca ter contraído a doença correm risco maior de desenvolvê-la, caso sejam picadas pelo mosquito, em formas mais graves – 5 casos a cada mil vacinados que nunca sofreram do problema. Já nas aplicações após a primeira infecção, o risco de hospitalização é menor: 2 casos a cada mil imunizados.

Gravidade

Apesar de muitas vezes ser assintomática, a dengue possui manifestações que variam em gravidade. A expressão mais comum da doença, quando possui sintomas, é a chamada Dengue Clássica. Segundo o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), normalmente, a primeira manifestação da dengue é a febre alta (39° a 40°C), de início abrupto, que geralmente dura de 2 a 7 dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele. Perda de peso, náuseas e vômitos são comuns.

Contudo, existem casos nos quais a doença apresenta efeitos mais graves. A chamada Febre Hemorrágica da Dengue (FHD) compartilha os sintomas iniciais com a variação Clássica; entretanto, os efeitos se agravam e ocorre uma diminuição da febre, por volta do terceiro dia, com consequente surgimento de hemorragias e, nos casos mais graves, choque, em decorrência do aumento da permeabilidade vascular, que causa a diminuição da circulação sanguínea.

Tratamento

Nos casos de Dengue Clássica, o tratamento se baseia no repouso, na hidratação e no controle dos sintomas da doença, com a ministração de medicamentos recomendados pelo médico. Já o indivíduo que desenvolver a FHD deverá ser mantido em observação, já que a intervenção em caso de choque pode necessitar de internação em Unidade de Tratamento Intensivo. 

Combate

Em 2018, o governo federal destinou mais 1,7 bilhão de reais para a Vigilância de Saúde do governo federal, que atua na prevenção e combate a doenças transmissíveis e do mosquito Aedes. Além disso, o Ministério da Saúde diz garantir suporte técnico e material para os estados e municípios. 

A ex-agente de endemia da prefeitura de Marília, região de Bauru, Raissa Pansieri disse que existem alguns métodos aplicados para matar o mosquito ainda em sua fase larval. “No nosso trabalho, fiscalizamos os principais lugares que eram encontrados larvas de mosquito, como lonas, piscinas, pratos de vasos, calhas, pneus e fazíamos usos de produtos, como inseticidas ou produtos químicos, cloro, sabão em pó. Em alguns casos  deixávamos a água salgada, para a larva não se desenvolver”, explicou a ex-agente.

A Sala Nacional de coordenação e Controle para enfrentamento do Aedes coordena as ações de combate ao mosquito transmissor do vírus e também atua junto às pastas envolvidas nesse processo, como o Ministério da Educação; da Integração, do Desenvolvimento Social; do Meio Ambiente; Defesa; Casa Civil e Presidência da República. De acordo com o site do ministério da saúde, essa sala se organiza junto às mais de 2000 salas municipais e estaduais na organização de visitas a imóveis feitas por agentes de saúde. 

Dados e casos 

        Em março de 2019, o ministério da saúde emitiu uma alerta aos estados e municípios para os cuidados com a dengue fossem reforçados junto a população. De acordo com dados da pasta, houve um aumento de 264,1% dos casos de dengue no país, em comparação ao ano anterior, até o mês de março deste ano. Dados de junho já somam 600 mil pessoas afetadas pela doença e 366 mortes em todo país. O número de casos prováveis da doença (que ainda não haviam sido confirmados quando os dados foram liberados) é ainda mais assustador: 1,127 milhões de infectados. Em comparação com 2018, quando 149 pessoas adoeceram, o número de mortes é mais do que o dobro.

        O estado de São Paulo registrou grande parte desses casos. Em março, o ministério da saúde alertou para a situação do estado. De acordo com a pasta, a região teve um aumento de 2.124% no número de casos em comparação com o mesmo período do ano anterior. A cidade de Bauru, localizada no centro-oeste do estado e com pouco mais de 300 mil habitantes, vivenciou uma epidemia contabilizando mais de 25 mil pessoas infectadas com o vírus e notificando 32 mortes por dengue em 2019. O ministério da saúde ainda alertou para um aumento na incidência de casos na faixa etária de acima dos 60 anos, correspondente a 51% dos casos de mortes em todo país.  

Dengue no Estado de São Paulo em março de 2019:


20182019
Número de casos3.73483.045
Incidência8.7182,4

(Fonte: site do Ministério da Saúde – http://www.saude.gov.br/)


Iuri Santos

Ivan Gomes

Douglas Françoza

Redação

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