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A bola oval insiste em voar em Bauru

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Com o Gorillas Bauru a cidade volta a ter um time de futebol americano, o esporte favorito dos americanos.

Por Michael Barbosa, Adriana Kimura, Mariana Amud

Quando o rugby – tradicional esporte nascido na Inglaterra e dissidente do nosso futebol – chegou aos Estados Unidos da América (EUA) passou a sofrer ligeiras modificações, de modo que já na segunda metade do século XIX começava a se diferenciar do desporto europeu. Nascia ali uma dissidência da dissidência, que acabaria carregando o nome de football, mas na prática seria jogado mais com as mãos que com os pés, num jogo cada vez mais tático, regido por constantes trocas entre times de defesa e ataque, diferentes modos de pontuar, intenso contato físico e uma liga profissional americana extremamente organizada e rica – o xadrez dos esportes coletivos, muitos já repetiram. Porém, o que, aqui, nos acostumamos a chamar de futebol americano (não porque assistíssemos ou jogássemos, mas porque haveria de se ter como chamar um esporte tão amado pelos ianques e, logo, tão referenciado em livros, filmes, séries etc), permaneceu por muito tempo restrito às fronteiras dos EUA e ao norte – lá no Canadá também se joga, profissionalmente, o futebol americano.

Para nós, o jogo começou a virar, mesmo, no século XXI. O futebol americano até estreou na tevê brasileira num distante 1969, na TV Tupi, e apareceu de maneira mais regular em reprises na Bandeirantes ao longo da década de 1990, mas foi a ESPN Brasil que conseguiu transformar o esporte em um produto de amplo consumo e com uma larga base de fãs. A assinatura de serviços de tevê paga sofreu um boom a partir do crescimento econômico nacional na segunda metade da década de 2000. Outrora item de luxo às casas das classes A e B, a tevê por assinatura virou parte da rotina de milhões de brasileiros, saltando 4,1 mi de assinaturas em 2005 para 19,6 em 2015 (os dados são da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura, a ABTA). A National Football League (NFL, a liga profissional do esporte nos EUA) chega hoje a milhões de casas pelos canais ESPN e a mais tantas pelo Esporte Interativo, disponível em televisão aberta pela rede UHF; lar de jovens que, via de regra, possuem também smartphones, internet banda larga e vontade de dedicar tempo, dinheiro e, por que não, suor ao football.

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Separados, os jogadores “de linha” treinam suas situações de jogo         (Foto: Michael Barbosa).

O crescimento do futebol americano no país leva, todos os anos, milhares de jovens a darem o passo natural quando se desperta a paixão por um esporte: buscar a prática – e é aí que as dificuldades começam. Se a internet, por um lado, ajuda a reunir os interessados de uma mesma cidade ou região, por outro, não resolve os problemas que vêm da falta de patrocínio, materiais e estrutura. Bauru vive hoje, com o 0,, sua terceira tentativa de consolidação de um time que, na prática, joga uma adaptação do futebol americano conhecida como flagfootball; aqui não há o tradicional tackle – a “pancada” que o jogador de defesa comumente se vale para parar o adversário, mas sim um movimento no qual se “rouba” uma das bandeiras presas na cintura dos jogadores. A opção pelo flag não é uma questão apenas financeira – só o shoulder pad, protetor que faz parte do material completo do futebol americano para a região do peito e dos ombros, custa, nas poucas lojas nacionais que importam o produto, cerca de 800 reais -, mas também de segurança, já que jogar o esporte na sua modalidade no pads (ou seja, sem as proteções) pode significar seguidas lesões, incluindo as temidas concussões.

O treino

Era uma quinta-feira, final de tarde, quando investi, pela primeira vez, na missão de ver o Gorillas realizarem um de seus três treinos semanais no Parque Vitória Régia – às terças e quintas às 19 horas, e aos domingos às 9 da manhã. Uma rápida pesquisa no Facebook havia me levado à página do jovem time – fundado em março desse ano – e a um amistoso contato com Haron Guilherme Maia, um consultor de vendas e wide receiver de 27 anos que idealizou os Gorillas no começo desse ano – como eu viria a descobrir apenas dias mais tarde. Haron assistia o Super Bolwl XLIX, disputado em primeiro de fevereiro desse ano, quando foi questionado sobre por que não montava um time de futebol americano na cidade, a resposta imediata foi de que já existiam – “dois!” -, para depois constatar que, na verdade, não havia nenhum time em atividade na cidade e decidir, pouco a pouco, a construir o Gorillas, no boca a boca e nas redes sociais.

Já passadas as 19 horas, um grupo de aproximadamente seis homens adultos conversava em roda no campo de treino improvisado enquanto, às suas cabeças, o tempo fechava, prometendo um temporal de verão e a inevitabilidade do cancelamento – sobrou tempo, apenas, para um rápido contato com Daniel Dalla Valle, estudante de química da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e defensive tackle de 23 anos, um dos membros mais antigos do time, que lamentou a situação e me alertou do treino de domingo, onde acabaria encontrando apenas dois jogadores, sendo um deles Hugo Sajovic, mais conhecido como Hidromel, um engenheiro químico e tigh end de de 27 anos, que atualmente é sócio em uma empresa que produz a milenar bebida que lhe dá o apelido. Hugo encontrou o Gorillas por acaso, uma rara vantagem de se treinar na esburacada grama atrás da concha acústica do Vitória Régia, “faz uns três meses, um dia que eu tava correndo aqui [no Parque Vitória Régia] eu vi o pessoal treinando, a hora que eu parei para olhar, ‘legal, o pessoal brincando’, e aí os caras chamaram ‘vamos brincar, se você gostar começa a treinar com a gente’. “.

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No ataque, se treina lançamentos e recepções (Foto: Michael Barbosa).

Em mais uma tentativa, agora no treino da terça-feira e sem a chuva para atrapalhar, consegui acompanhar um legítimo treino dos Gorillas – uns quinze jogadores – e conversar com Haron e Daniel, que relataram que está exatamente na inconstância das presenças um dos maiores desafios; questionados sobre a frequência dos membros do time, “o problema é a frequência, a galera vem, ‘vou lá dá uma zuada’ e fica por isso, mas como a gente não tem contingente suficiente, então tem que levar em consideração esses que vêm só de vez em quando”, conta Daniel, para, em seguida, Haron relatar que no espaço entre dois treinos tiveram 25 jogadores – um recorde – para no treino seguinte ter apenas oito. A conversa ainda passou pela ausência da figura do técnico, o nem sempre fácil processo de descobrir a posição de alguém que treina o futebol americano pela primeira vez – “o fenótipo!”, me contou Daniel – e, na mesma linha, sobre como o flag foi sua porta de saída do sedentarismo – o futebol americano é um raro esporte que, inegavelmente, comporta, e até necessita, de sujeitos gordos.

Porém, se as dificuldades são muitas, os avanços também são notáveis. Após um contato com Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (a SEMEL), e uma visita do secretário de esportes de Bauru, Roger Barude Camargo, o time vive, hoje, a perspectiva de abandonar o Vitória e transferir os treinos para um estádio de futebol no bairro do Redentor para, assim, treinar forte ao longo do ano 2016 e disputar o campeonato paulista de flagfootball em 2017.

O Gorillas também não respeita estereótipos que poderiam ser muito verdadeiros uma década atrás. Quem esperar encontrar um grupo homogêneo, composto por jovens universitários, vai se decepcionar; adolescentes dividem espaço com homens na casa dos trinta anos; universitários e indivíduos formados, com trabalhadores. Daniel me lembra, “A FIFA [Federação Internacional de Futebol] tirou publicação em português do Facebook, a NFL está publicando [no Facebook, na sua página oficial] em português; então, quer dizer, existe um mercado crescendo e existe gente procurando treinar”.

Redação

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