Nada recentes e muito menos inofensivas. Entenda o porquê.
Mayara Castro
É muito difícil encontrar alguém que não possua um celular com câmera nos dias de hoje. Com o passar dos anos, a tecnologia foi avançando e os custos para comprar e manter um smartphone foram se tornando cada vez mais acessíveis. Tirar uma foto, então, se tornou questão de costume e leva apenas poucos segundos. Nesse contexto, um estilo peculiar de fotografia começou a aparecer: as selfies. Nunca ouviu falar? Então aperte os cintos e venha com a gente. Você tem muito o que aprender!
Há quem pense que as selfies são um fenômeno recente. Porém, artistas renomados de diferentes movimentos como Van Gogh e Frida Kahlo já antecipavam a onda. Os auto-retratos, como eram conhecidas, datam muito antes do surgimento do smartphone. A diferença, então, se dá pela facilidade e rapidez de se produzir uma foto como essa atualmente. Mas, se os auto-retratos existem há tantos anos, por que só agora eles ganharam tamanha notoriedade e até um nome peculiar – selfie?
Segundo o psicólogo Breno Rosostolato, é importante lembrar que as novas tecnologias e a popularização das redes sociais fizeram com que esse tipo de foto se tornasse mais um modismo a fim de satisfazer os tantos anseios da contemporaneidade. “A questão principal é que, em dias em que uma imagem vale mais que mil palavras, as fotos enaltecem a vaidade das pessoas e satisfazem a eterna busca por popularidade e atenção já vistas anteriormente em outros casos”, explica. Afinal, não é a primeira vez que temos a tecnologia e a internet como válvula de escape da nova geração.
O problema, então, se mostra muito mais sério do que se imagina e merece atenção. Por não serem apenas fotos despretensiosas, as selfies podem se tornar um vício. O primeiro caso foi registrado na Grã-Bretanha ainda esse ano, quando Danny Bowman, um adolescente de 19 anos, tentou suicídio por overdose por não ter alcançado a selfie perfeita. “Pode-se comparar as selfies ao mito de Narciso, autoadmirador que deu origem ao termo narcisismo. Um jovem que se apaixonou pela própria imagem e morreu contemplando sua própria face”, explica o psicólogo.
Há quem se feche neste universo globalizado tão fortemente que termina como refém do mesmo. Muitas pessoas se tornam escravas a ponto de não conseguirem se desconectar e vivem em função de registrar os momentos, postar as fotos e acompanhar a repercussão daquilo. O caso de Bowman claramente é extremo. Mas, quando falamos do ser humano, o limite entre o que é normal e o abusivo se desenha em uma linha muito tênue. Afinal, quantas vezes você já se viu compartilhando a foto de uma refeição, de uma paisagem ou até mesmo da própria cara de sono em uma segunda-feira preguiçosa?
A necessidade do ser humano de expor a vida visando receber carinho e atenção não é novidade alguma. As selfies, nesse contexto, vieram para afirmar esse fenômeno e exteriorizar, como uma vitrine, mais um dos grandes déficits de uma geração que vive atrás da telinha do celular. É claro que podemos utilizar a tecnologia a nosso favor, mas, de qualquer forma, todo cuidado é pouco.