Os posts nas redes sociais e os diversos relatos de uma pílula que é a preferência nacional
Por: Camila Nakazato e Mariana Soares
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pílula oral anticoncepcional é dos métodos mais utilizado pelas jovens sexualmente ativas no Brasil. Seja pela sua alta taxa de eficácia, bem próxima dos 100%, se utilizada corretamente, como pelos efeitos relacionados não só à contracepção.
No Brasil, ao contrário dos países da Europa e dos Estados Unidos, a divulgação do surgimento da pílula anticoncepcional fez parte de uma série de políticas voltadas à redução populacional. O resultado dessas políticas relacionadas também à fatores como, por exemplo, a entrada da mulher no mercado de trabalho, levou à uma queda na taxa de natalidade no país, como é possível perceber no gráfico abaixo:
Enquanto na França a pílula só foi liberada para o consumo após 1967, nas terras brasileiras, a pílula anticoncepcional e o DIU começaram a ser comercializados sem grandes problemas desde o início da década de 1960. Com isso, o seu uso se propagou como o principal método utilizado pelas brasileiras na prevenção, sendo a escolha de 61,5% das entrevistadas, segundo o IBGE.
“Tenho de 19 anos e até meus 18 nunca tinha tomado nada, sempre usei camisinha, mas comecei namorar esse ano e a sentir mais medo de engravidar, o jeito mais prático que me indicaram sempre era o anticoncepcional”, relata a estudante de Relações Públicas Marcela Sanches Romagnoli.
Os relatos nas redes sociais
Apesar de todos seus benefícios, recentemente as redes sociais foram inundadas com diversos relatos de mulheres que faziam o uso da pílula e algumas ainda afirmam que mesmo com acompanhamento médico tiveram efeitos colaterais graves como, por exemplo, trombose e AVC.
A médica Ilza Monteiro que é responsável pelo Ambulatório de Planejamento Familiar do CAISM, o Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti da Unicamp afirma, no entanto, que não há motivos para alarde. Segundo ela, os casos de trombose são raros se a pílula anticoncepcional for utilizada de forma correta, “precisa de 10 mil mulheres para encontrar 10 casos de trombose relacionado ao uso da pílula”, conclui.
Os efeitos colaterais
Apesar disso, alguns efeitos colaterais menos agressivos nunca foram uma novidade para algumas das usuárias da pílula, como mostra a pesquisa publicada na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia que afirma que quase 40% das entrevistadas interromperam seu uso após 6 meses e um dos maiores motivos estava relacionado aos efeitos colaterais como a enxaqueca, o aumento de peso e sangramentos irregulares.
A estudante Beatriz Macarini sentiu os mesmos sintomas relatados na pesquisa e foi isso que a fez abandonar a pílula após um ano e meio de uso, mesmo com contra indicações do médico da família. Apesar de ter parado, infelizmente, os problemas não pararam, Beatriz afirma ter tido uma queda de cabelo e ter demorado 2 anos para conseguir regular seus hormônios novamente. “Fiz e ainda faço uso de fitoterápicos, acupuntura, alongamentos, yoga e muitos analgésicos. Mas o que realmente resolve, pasmem, é masturbação”, conclui a estudante que decidiu utilizar outros métodos não hormonais para lidar não só com a contracepção, mas também com os efeitos do ciclo menstrual.
E ela certamente não foi a única a passar por isso. “Tomei por quase 5 anos e por isso, no começo foi uma bagunça para o meu organismo voltar ao normal. Eu tinha um fluxo muito leve toda semana pelo primeiro mês e meu ciclo ainda era meio desregulado, aí comecei a tomar chá de amora como regulador hormonal, com a orientação de uma terapeuta holística e funcionou”, conta a estudante de design gráfico Raíssa Sansaloni.
Boa parte dos efeitos colaterais são intensificado e, alguns até possivelmente fatais, se a mulher se encaixar em algum dos grupos de risco estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre eles estão as mulheres que tenham um histórico de trombose, AVC, câncer de mama ou de útero, hipertensas, as mulheres com enxaqueca com aura, as com diabetes não controlada e as fumantes, principalmente as com mais 35 anos, entre outros grupos como mostra o infográfico abaixo.
Fora esses grupos de risco, a Dr. Ilza afirma que o maior risco para as usuárias da pílula anticoncepcional é falha dela devido ao mal uso. “A chance de falha se usar direitinho, num período de um ano é de 3 mulheres entre mil, já com o uso incorreto, para mil mulheres acompanhadas no mesmo período, acontecem 80 gestações”.
O uso incorreto, na verdade, se refere ao esquecimento. E o grupo que mais esquece tomar no horário correto a pílula anticoncepcional é o das adolescentes e jovens adultas.
Métodos Alternativos
Para essa jovens o mais indicado pelos ginecologistas recentemente são os métodos contraceptivos reversíveis de longa duração, pois são opções para evitar a gravidez não planejada, mas não dependem da usuária lembrar de tomar todos os dias, além disso não prejudicam a fertilidade no futuro. Entre eles estão o DIU, tanto o hormonal quanto o de cobre, e o implante contraceptivo.
Já para as mulheres que não podem tomar a pílula por fazerem parte do grupo de risco ou que de alguma forma não queiram mais fazer o uso de hormônios, o mais indicado pelos médicos é o DIU de cobre. Esse último, no entanto, segundo a Dr. Ilza, pode aumentar um pouco o sangramento durante a menstruação, mas para quem tem um fluxo menor é uma boa alternativa, pois a aplicação é simples e dura de 5 a 10 anos, além de ter uma alta taxa e eficácia, por volta dos 99% em seu uso típico.
A estudante Beatriz, por exemplo, relata fazer o acompanhamento de seu ciclo por um aplicativo e faz também o acompanhamento do muco cervical, mas sempre unindo ambos os métodos ao uso de preservativos.
Aliás, independente do método utilizado, o uso de preservativos, tanto os masculinos quanto os femininos, junto à esses métodos é essencial, pois além aumentar a eficácia contra uma gravidez indesejada, protege também contra a maioria da doenças sexualmente transmissíveis.