Caique Resende Peruch
“Com esses andamentos lentos, tons graves, camadas de ecos e reverberações, loops e a equalização retrô criam essa aura etérea, ambiente e relaxante”, é o que comenta Rodrigo Luz, crítico musical e idealizador do canal no youtube “Vira o Disco”, em um de seus textos na plataforma Medium. Mas sobre o que ele está falando? Você já imaginou uma vasta mistura de cores chamativas, formas geométricas, letras, ou imagens, algumas até em movimento, atrelado a um ritmo que mistura estilos clássicos da música como pop, funk e soul com uma batida eletrônica em um ritmo cadenciado? Em uma definição simplista, isto é o VaporWave.
Surgido no início de 2010, o VaporWave é um dos poucos, se não o único, gênero musical a nascer totalmente na internet. As produções musicais, por sua vez, são misturas de músicas já existentes sampleadas de uma outra forma, desacelerando o ritmo das batidas e trazendo elementos a mais que transformam o que já existe em um novo tipo de som.
Mas o estilo não é só música, também é arte visual , tornando o que era um simples estilo musical em um movimento cultural. As artes visuais também não fogem desse estilo, uma colagem de outras imagens, muitas vezes com caracteres japoneses, ou alguma mensagem, juntas com uma grande variação de cores chamativas, muitas vezes que se movimentam. Nos vídeos encontrados em sites como o YouTube, é comum encontrarmos a junção dos dois.
“Conheci o VaporWave na S/A, que é um local onde artistas independentes são chamados para mostrar sua arte, foi onde escutei a famosa música do Macintosh Plus ‘Floral Shoppe’ e me apaixonei”, comentou João Gabriel Belfort, estudante de 20 anos e fã do movimento. Para Gabriel, o diferencial do VaporWave são os vocais e melodias: “são relaxantes e trazem uma boa sensação”, completou.
O outro lado
Para além do lado artístico, o VaporWave começou a ser apropriado por jovens militantes de direita, que usavam a estética do movimento cultural para propagar as suas ideias. A princípio o VaporWave era utilizado pela chamada “direita alternativa”, que apropriava sua estética para a criação de memes e imagens virais que propagassem algumas de suas ideias, entretanto hoje é possível encontrarmos o estilo sendo utilizado pela extrema direita e por grupos que se denominam fascista.
A partir disso surgiram novas definições para este tipo de utilização do VaporWave, o Bolsowave e o Trumpwave, no Brasil e nos EUA respectivamente, que são mensagens ou memes dos dois presidentes que propagam as suas idéias com as referências estéticas e sonoras do VaporWave. Além disso, existe também o FashWave (Onda Fascista), que parte do mesmo princípio, porém utilizando imagens, saudações e símbolos a fim de propagar suas ideias ou reverenciar o Nazismo, na Alemanha, e o Fascismo na Itália.
Entretanto, não é possível dizer que o VaporWave é um movimento de direita. O movimento surgiu com fortes críticas ao capitalismo e o modo consumista de viver. “Claramente o estilo VaporWave foi criado pela esquerda. Dizem que ele faz uma crítica ao capitalismo e o consumismo, pois na maioria de seus clipes aparecem comerciais de TV dos anos 80 ou 90 com pessoas felizes consumindo produtos de marcas caras”, apontou Gabriel.
Por mais que fora da ideia inicial do movimento e que tenha gerado muita polêmica e discussões, o uso de suas características por movimentos de extrema direita não incomoda todos os fãs do movimento. Para Gabriel: “Acho que qualquer forma de expressão é válida, é normal as pessoas se apropriarem de algum estilo e fazerem algumas mudanças, surgindo assim um ‘microgênero’, mas de qualquer forma sou contra o fascismo”.