Escreva para pesquisar

As cortinas da arte se abrem e mostram o assédio e o abuso sexual fora dos bastidores

Compartilhe

Grandes premiações foram alvo de manifestações políticas de atrizes que se posicionaram pelo fim dos abusos

Por Danielle Cassita

O ano de 2017 teve um final conturbado no meio artístico, principalmente no ramo cinematográfico. Em outubro, alguns personagens já conhecidos do cinema se tornaram protagonistas de histórias que, até então, eram desconhecidas do público em geral.
O primeiro deles foi Harvey Weinstein. O escândalo sexual surgiu, na verdade, com uma reportagem publicada no jornal The New York Times, que divulgava histórias de diversas mulheres que sofreram assédios sexuais do fundador dos estúdios Miramax e The Weinstein Company, ao longo de vários anos.
Weinstein tem um vasto currículo no cinema: de origem judia, ele e seu irmão cresceram com grande interesse pela sétima arte. Conseguiram abrir o próprio estúdio, o Miramax (junção dos nomes de seus pais, como uma homenagem a eles), que se tornou um sucesso no no meio cinematográfico, adquirindo até mesmo o título de uma das maiores produtoras independentes no ramo. Em 1993, a Disney comprou a empresa, o que impulsionou a produção de sucessos como “Pulp Fiction’, “Guia Para um Final Feliz” e outras obras de destaque.
Nessa história, onde haviam começado os casos de assédio? Segundo as denúncias feitas pela atriz Lauren Sivan, os comportamentos abusivos começaram há cerca de dez anos: ela relata que o diretor a encurralou em um corredor e se masturbou na frente dela. Já em 2007, Weinstein foi acusado de tentar seduzir a atriz Hayley Attwell durante as gravações do filme “Reviver o Passado em Brideshead”. Ashley Judd, por sua vez, acusa o diretor de a ter obrigado a lhe fazer uma massagem e vê-lo tomar banho, episódio ocorrido há 20 anos.
Weinstein justificou as acusações dizendo que, de fato, reconhecia que havia se comportado com colegas no passado, e que pedia sinceras desculpas por seus atos. Ele prometia que iria pedir ajuda para poder mudar seu comportamento. Harvey Weinstein acabou saindo da direção da The Harvey Weinstein Company, decisão tomada pelos três membros restantes da companhia. Posteriormente, Paul Tudor Jones, um dos membros restantes, decidiu se demitir também. Apenas no dia 30 de maio de 2018 a acusação formal foi realizada, de modo que o ex-produtor pode pegar até 25 anos de prisão.
Enquanto isso, no mundo das séries de televisão, surgia uma polêmica semelhante: o portal BuzzFeed News publicou uma entrevista com o ator Anthony Rapp, que interpretou o papel principal em “Star Trek: Discovery”. Rapp acusou Kevin Spacey, estrela da série House of Cards, de ter o assediado quando tinha 14 anos de idade. Atualmente, Spacey tem 58 anos – mas, na época, tinha 26.

Olivier Theatre Awards 2015 - Auditorium - 12 Apr 2015

 Kevin Spacey continua sendo alvo de diversas denúncias de assédio sexual – Imagem: Variety


Horas depois, o ator publicava uma nota em seu Instagram, alegando que não se lembrava da situação descrita por Rapp. Apesar disso, ele se desculpava, dizendo que este era simplesmente o comportamento inapropriado de um bêbado e que, atualmente, ele havia escolhido viver como um homem gay. Os fãs da produção e a mídia interpretaram a declaração do ator como uma tentativa de desviar o foco de suas ações, bem como um problema gerado para a comunidade LGBT, uma vez que a sexualidade do ator fora associada ao caso de assédio em sua fala. Por fim, a série House of Cards foi dada como cancelada pela Netflix – embora, segundo fontes envolvidas na produção, o cancelamento já era uma opção discutida na empresa antes mesmo das polêmicas.
Estes são alguns casos que chamaram a atenção da mídia, por tratarem de pessoas famosas e produções de destaque. Contudo, o assédio no meio artístico é algo que possui um histórico muito mais longo e perturbador.
Os reflexos da realidade
No final de 2017, surgiam denúncias de diversas mulheres contra o marido de uma das integrantes da Academia Sueca, que o acusavam de ter cometido abusos sexuais, além de vazar o nome de vencedores do Prêmio Nobel. As denúncias foram feitas por 18 mulheres, que relataram abusos e assédios sexuais.
As denúncias surtiram efeito: no início do mês de maio, a Academia Sueca fez um anúncio declarando que o Prêmio Nobel de Literatura de 2018 não seria entregue em função dos escândalos ocorridos, o que fará com que dois prêmios sejam entregues em 2019. Não é a primeira vez que o Nobel de Literatura fica sem vencedores: nos anos de 1914, 1918 e algumas vezes na década de 40, o cenário se repetiu, mas em função das guerras que estavam ocorrendo.
Uma das premiações de destaque do cinema também foi palco de denúncias. O Globo de Ouro de 2018 ficou marcado pelo protesto realizado pelas atrizes ali presentes, que decidiram se vestir de preto como uma forma de se manifestarem contra as violências que estão sendo denunciadas. Entre as reivindicações, estavam os pedidos de salários iguais entre atores e atrizes e, acima de tudo, respeito.
Tais manifestações parecem ter surtido pequenas mudanças. O ator Benedict Cumberbatch, que interpretou o personagem principal de “Doutor Estranho”, declarou recentemente que rejeitará papéis se o cachê que lhe for pago não for o mesmo que as atrizes envolvidas na produção irão receber.
business recorder

De trajes pretos, atrizes protestaram contra o assédio sofrido no ambiente de trabalho. Imagem: Business Recorder


Neste contexto, a mídia teve papel de destaque: mais do que nunca, os temas ligados a abuso e violência contra a mulher foram colocados em destaque, assuntos esses que nem sempre foram pauta dos grandes meios de comunicação. Para Marina Formaglio, este foi um cenário positivo para trazer tais discussões à tona: “vi muitos meios de comunicação grandes aproveitando o gancho das notícias para falar sobre assédio de uma maneira mais ampla, sobre cultura de estupro, sexismo, e tudo o mais que esses casos envolvem. E é justamente este o papel da mídia, informar verdadeiramente e fazer pensar. Informar não é apenas vomitar “leads”, o papel do jornalista deve ser muito maior do que isso. E observando muitos comentários na internet a gente vê como a população realmente precisa de informação com base”.
O contexto brasileiro
A questão dos assédios sexuais no meio cultural não diz respeito somente ao cenário visto no exterior, mas também no brasileiro. O caso do ator José Mayer ganhou destaque na mídia, quando uma figurinista o acusou de tê-la assediado sexualmente. Como consequência, Mayer foi afastado da televisão, sem previsões de retornar a novas produções. Entretanto, ele continua contratado pela TV Globo.
O assédio é uma questão que não se restringe ao meio físico, como ocorreu no caso da atriz Alice Wegmann. Parte do elenco da novela “Onde Nascem os Fortes”, ela participou de uma cena em que era quase forçada a ter relações sexuais com um homem. Em seu perfil do Instagram, um seguidor comentou que a cena o excitou, e o deixou triste “quando o idiota levou um ferro na cara e não a pegou de jeito”. Na postagem, a atriz inseriu a legenda: “Entendem porque não é mimimi?”, e apontava a necessidade de as mulheres se unirem e seguirem firmes na luta.
Não houve grandes destaques na mídia sobre o ocorrido, mas isso não minimiza a importância da questão. Segundo Marina, muito dos debates que têm ocorrido a respeito do assédio e as demais diversas violências que a mulher sofre tem grande importância vindo da internet: “Antes da internet, era muito mais fácil esconder e manipular informação, já que nossa única fonte eram praticamente os grandes meios, e os casos de assédio que ouvíamos eram apenas de pessoas próximas. Conforme o acesso à internet e às redes sociais foi se expandindo, foi ficando mais claro e mais inquietante como o problema é bem maior do que pensávamos, e muito mais estrutural.” Ela ressalta, contudo, que não se trata de os meios de comunicação terem simplesmente decidido ouvir as vítimas, já que há outros modosde receber a informação. A grande mídia teve que se adaptar.
De acordo com Priscila Bianchini, delegada da Delegacia da Mulher de Bauru, as denúncias feitas por grandes nomes da mídia têm papel importante no combate à violência, uma vez que elas são incentivadas a procurar as autoridades e relembradas de que não devem aceitar tais práticas.
O infográfico abaixo demonstra como proceder em caso de assédio:
photo_2018-07-03_23-17-55

Redação

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Nam quis venenatis ligula, a venenatis ex. In ut ante vel eros rhoncus sollicitudin. Quisque tristique odio ipsum, id accumsan nisi faucibus at. Suspendisse fermentum, felis sed suscipit aliquet, quam massa aliquam nibh, vitae cursus magna metus a odio. Vestibulum convallis cursus leo, non dictum ipsum condimentum et. Duis rutrum felis nec faucibus feugiat. Nam dapibus quam magna, vel blandit purus dapibus in. Donec consequat eleifend porta. Etiam suscipit dolor non leo ullamcorper elementum. Orci varius natoque penatibus et magnis dis parturient montes, nascetur ridiculus mus. Mauris imperdiet arcu lacus, sit amet congue enim finibus eu. Morbi pharetra sodales maximus. Integer vitae risus vitae arcu mattis varius. Pellentesque massa nisl, blandit non leo eu, molestie auctor sapien.

    1

Deixe um comentário

Your email address will not be published. Required fields are marked *