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“As pessoas fazem qualquer maluquice pra diminuir o peso na balança”.

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A obesidade não é apenas um problema relacionado à comida. Inúmeros outros fatores contribuem para essa problemática atual

Por Gabriel Andrade, Lucas Piccolo e Yuri B. Ferreira

Um estudo do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington que mais de um quarto da população mundial está acima do peso. Nesses números estão incluídas as pessoas com sobrepeso e com obesidade, condições que aumentam o risco de desenvolver diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares. A lista de problemas associados ao excesso de peso é extensa.

No Brasil, essa questão tem se tornado um problema visível. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2016 mais da metade do país apresentava um quadro de sobrepeso, além disso, população obesa aumentou em 7% entre 2006 e 2016. Hoje, mais de 40 milhões de brasileiros estão no grupo dos considerados obesos. O número não para de crescer. O que, afinal, pode estar levando as pessoas a ganharem tanto peso?

A vida cada vez mais corrida das grandes cidades leva as pessoas a buscarem facilidade e praticidade na hora de se alimentar. Aí é que entram em cena os fast-foods, restaurantes onde o conceito é se alimentar com conveniência e rapidez, geralmente sem qualidade nutricional. Consumir mais esse tipo comida, com alto teor de gordura, é um dos fatores para o aumento da parcela da população acima do peso nos últimos anos.

Sophie Deram, nutricionista franco-brasileira, mora no Brasil há 18 anos e se especializou no Hospital das Clínicas, com seu doutorado tendo como foco a genética na questão da obesidade infantil. Atualmente ela coordena o projeto de transtornos alimentares do Hospital do Coração. Sophie é autora do livro “O peso da dietas”, best-seller crítico às dietas tradicionais, que já vendeu mais de 50 mil exemplares no país.

Instagram - Ana Priscilla Souza - editada

“Então, realmente, fazer dieta é um trabalho de laboratório”. Foto: Instagram/Ana Priscila Souza

A autora é crítica ao excesso de conteúdo raso relacionado à saúde e bem-estar. Com as novas tecnologias, a oferta de informações aumenta. É mais fácil – e muitas vezes gratis – encontrar dietas milagrosas e receitas certeiras para o seu corpo na internet. Mas nem sempre as informações estão corretas ou são a melhor opção para cada caso.

“Você precisa entender que seu corpo não é uma massinha de modelar, que você pode moldar da maneira que quiser. Você tem que respeitá-lo”.

Para a nutricionista, fazer dieta não é o melhor caminho para obter uma alimentação saudável. Muito pelo contrário, essa prática apenas torna a relação do corpo com a comida ainda mais complicada. Em “O peso das dietas”, ela apresenta um número impressionante: 95% das dietas fracassam e desregulam o apetite. Sophie pontua que a melhor coisa a se fazer é comer bem: “Sem se preocupar com o que e com o quanto pode comer, porque isso acaba gerando uma neura e a pessoa fica cada vez mais estressada. Ao invés de ajudar, complica. Pode até te fazer engordar mais”.

A comida não pode ser vista como o único fator que leva à obesidade.

“Eu enxergo a obesidade como uma condição complexa. Não é só por causa da comida. Eu tenho pacientes obesos que comem melhor do que eu. Isso está muito vinculado com pouca força de vontade, com gula. Mas não é simples assim. Ah, e pior ainda, o tratamento que está sendo divulgado hoje para obesidade é mais assim: ‘ah, tem que fechar a boca e malhar’. Como se isso fosse a solução. Só que a gente vê que quanto mais você faz essas coisas, mais apetite você vai ter”.

Outro problema causado pela disseminação em massa de dietas criadas sem embasamento científico é a taxação de determinados alimentos ou nutrientes como vilões na busca pelo emagrecimento. Segundo a nutricionista e coach, Márcia Pereira, “essa disseminação de métodos sem embasamento científico tem levado as pessoas ao que chamamos de modismos atrelados a ‘absurdos nutricionais’ ou demonização de alguns nutrientes e determinados alimentos de forma desnecessária. Em consequência disso é possível perceber claramente o distanciamento das pessoas à suas tradições, seus hábitos de vida”. Assim, desequilíbrios metabólicos podem gerados e servirem como ponto de partida para transtornos alimentares e emocionais.

As promessas irreais feitas por quem divulga as dietas mais famosas complicam o trabalho dos profissionais que lidam com esse público. “As pessoas querem sentar aqui (no consultório) reparar 40 anos de má alimentação e sedentarismo em um mês, mudar a vida inteira. Eu tenho que falar para terem calma, que não é do dia pra noite, não é em um mês que eles vão ter resultados”, relata o também nutricionista Lucas Otero.

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Ao mesmo tempo em que sabemos que o “comer demais” não é a principal causa da obesidade, é importante que levemos à tona outro tema bastante relevante na alimentação da sociedade atual: a questão da desinformação. Bom, sabemos que a alimentação é, para muitos, um simples ato de ingerir alimentos para saciar as necessidades. No entanto, a boa nutrição e a informação alimentar precisam ser fatores fundamentais na hora de comer alguma coisa.

É por isso que em outubro de 2014, os Estados Membros reunidos no 53º Conselho Diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) aprovaram por unanimidade o Plano de Ação para Prevenção da Obesidade em Crianças e Adolescentes. Dentro do plano, as principais metas são: dispor a rotulagem na parte frontal das embalagens, elaborar as diretrizes nutricionais regionais para alimentação escolar e delimitar as quantidades aceitáveis de sal, açúcar e gordura trans nos alimentos.

É válido ressaltar que essas recomendações da OPAS, oriundas de sugestões da OMS, servem para produtos processados e ultraprocessados. Já que, como citado, muitas pessoas se alimentam apenas pensando na conveniência e na praticidade, e muitas vezes não se preocupam em olhar o que realmente estão ingerindo. Daí a importância dessa precaução nutricional.

Enfim, sabe-se que não há uma relação tão simplória do corpo com a alimentação. Ou seja, não é uma dieta que vai deixar a pessoa “bonita”. A principal preocupação deve ser em comer bem: estar em paz com a comida, respeitar a fome, a saciedade.

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Arte: Gabriel Andrade. 

Relação do emagrecimento com a beleza e a aceitação social

A cultura de comportamento da nossa sociedade impõe muitas vezes de maneira sutil, em outras não, a questão do peso como algo atrelado a saúde e beleza. Corpos magros e fortes são expostos a todo o momento nas mais diversas mídias. Inclusive, corpos que não fazem parte do que é considerado a média da sociedade em que vivemos.
Essa superexposição, atrelada a questões de ordem psicológica, podem estimular um forte sentimento de inadequação e influenciar no desenvolvimento de problemas de ordem alimentar. Para entender as causas desses problemas é necessário buscá-los nas raízes emocionais dos pacientes. É o que diz a terapeuta Helena Bande Garcia, especialista em bio psicanálise: “Tanto quando há compulsão por doces, quanto por excesso de alimentos, sempre questiono e pesquiso as causas. Sempre são de ordem emocional; carência, sabotagem pessoal, entre outros.

Dessa maneira, embora o sobrepeso ou outro distúrbio alimentar possa ser o sintoma mais aparente, o cerne da questão está em questões emocionais que não estão sendo enfrentados. “Os distúrbios emocionais são a origem dos problemas alimentares, e não o contrário”, completa Helena.

O alto índice de transtornos alimentares está ligado de maneira intrínseca às causas exógenas. As pressões do dia a dia da vida em sociedade atrelado ao fato de que é complexo e trabalhoso conseguir desenvolver uma autopercepção para separar questões emocionais dos hábitos alimentares, faz com que a comida seja usada como “válvula de escape”. A nutricionista Márcia Pereira completa “(As pessoas) Comem como recompensa, afago, para amenizar o stress, a raiva, a ansiedade e por aí vai. Outros, consciente ou inconscientemente, adotam padrões comportamentais de alimentação para se punirem, se esconderem, se pouparem de transtornos nos relacionamentos, por rebeldia, distorção de imagem, etc. Nesses casos, chamamos de fome emocional ou psicológica”.

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Redação

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