Histórias de brasileiros que foram tentar a vida no estrangeiro
Vinicius Vermiglio
“Morar nos Estados Unidos é bom, mas é uma m****. Morar no Brasil é uma m****, mas é bom”. Essa frase, atribuída a Tom Jobim, pode ilustrar bem os dois lados de morar no exterior. O Brasil é conhecido pelas praias, povo receptivo e pelo Carnaval. Porém também lembram de nós quando se fala em violência e desigualdade social.
Alessandro Cabrera, 39 anos, é assistente de eventos e reuniões e mora em Londres há cerca de dez anos. Inicialmente, ele foi para o exterior com três objetivos em mente: estudar inglês, fazer turismo e celebrar o casamento de sua irmã. A empreitada exigiu sacrifícios, já que Alessandro planejou por 6 meses e vendeu o carro para bancar a viagem. Entre o período de planejamento e o embarque no avião, ele tirou o passaporte europeu, o que facilita o direito de ir e vir dentro dos países que fazem parte da comunidade europeia.
Perguntado qual é a diferença entre morar em São Paulo e morar em Londres, ele é categórico: “Transporte melhor, distâncias menores e o clima mais frio”. Apesar de nunca ter se arrependido da mudança, Alessandro diz que quando pensa no Brasil sente falta da família e dos amigos. As dicas que dá para quem pensa em morar fora são: “Aprender o idioma do país para o qual pretende ir, pesquisar sobre a cultura, não criar muitas expectativas fora da realidade e, claro, ter dinheiro”.
A penúltima dica serve de alerta para quem pensa que só por estar num outro país, seja Estados Unidos, Inglaterra ou Alemanha, as coisas serão melhores apenas porque o país é “mais desenvolvido”.
Roger Oliveira tem 26 anos e é formado em Administração. Voltou ao Brasil depois de ter morado na Irlanda e na Alemanha por 3 anos. Assim como Alessandro, Roger juntou dinheiro antes de viajar e foi melhorar suas habilidades em inglês e alemão.
“Eu fui pra Irlanda, mas a princípio queria ir pra Londres. Mas no final das contas foi uma decisão acertada, pois os custos em Dublin são menores do que na terra da Rainha, principalmente aluguel. Juntei uma grana antes [de viajar], uns 12 mil reais, na época davam 5 mil euros. No começo tive que pagar o visto consular (150€), moradia (300€ na primeira casa) e material didático (70€). Não conhecia ninguém. Fiquei uma semana em casa de família e depois busquei uma casa pra dividir. Nos primeiros 6 meses eu me mantinha com o que havia economizado, mais uns euros que meu irmão me mandou, mas depois achei um trabalho como cleaner numa loja. Chegava a tirar 2500€ por mês. Eu pagava 300€ de aluguel, 100€ de comida (mensal) e tinha bike, daí economizava em ônibus”.
Depois da Irlanda, Roger foi para Alemanha. Enquanto estudava a língua, ele trabalhou como vendedor numa loja e chegou até a entregar jornais nos finas de semana. “Eu tinha que entregar na porta dos assinantes e todo eles moravam em prédios de 5 andares, sem elevador. No começo era um carrinho pesado de jornal, daí eu carregava puxando ele das 2h até as 7h da manhã. Fiz por 2 meses só…(risos)”.
Roger arrepende-se de ter voltado ao Brasil. Por que ele voltou? “Me iludi pensando que o Brasil estaria melhor em questões relativas ao trabalho, mas é preciso ter contatos”. Em maio, ele volta para Alemanha. Dessa vez, Roger vai através do programa Global Internership da AIESEC, a maior organização do mundo administrada por estudantes. Lá, ele será trainee (estagiário) numa empresa durante um ano na área onde é graduado.
O desejo de mudar para o exterior vem da vontade de uma vida, senão melhor, ao menos diferente da vida que se tinha no Brasil. Trabalhos que pagam justamente e serviços públicos superiores são encorajadores. Roger ganhava menos de 2 salários mínimos irlandeses por mês (hoje, o salário mínimo é lá de 1,460€). No Brasil, quantos cleaners conseguem viver bem como vivia Roger com um salário equivalente? Ou seja, qual é o padrão de vida de quem vive com menos de R$1,500 mensais?
Segundo o Itamaraty, mais de 3 milhões de brasileiros vivem no exterior. Os Estados Unidos é a casa de quase metade deles – 1,38 milhão. Na América do Sul vivem poucos mais 408 mil brasileiros; 6.800 na América Central; pouco menos de 1 milhão na Europa, 29 mil na África, 41 mil no Oriente Médio, 240 mil na Ásia e 53 mil na Oceania.