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Chorinho procura seu lugar

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Gênero musical secular teve seu espaço em Bauru, mas sente a falta de apoio cultural e estímulo financeiro na cidade
Lucas César Ramos e Vitor Peruch
“A situação do choro em Bauru não é boa, os músicos não são valorizados. Em outras cidades do mesmo porte de Bauru há muito mais oportunidades para o gênero”. O trombonista Eduardo Johansen, 29, reconhecido em toda a região, é um dos porta-vozes do choro, tido por músicos bauruenses como um dos primeiro ritmos urbano genuinamente brasileiro. O choro passa longe de ser um gênero de massa, e está distante dos holofotes da grande mídia e da indústria musical, ofuscado pelo sertanejo, pelo pop e por outros gêneros. Johansen, formado no tradicional Conservatório de Tatuí, é um dos entusiastas desse ritmo que, segundo o músico, carece de apoio cultural e financeiro em Bauru e região.
Mistura de ritmos africanos com ritmos europeus, o choro começou a tomar corpo no Rio de Janeiro, no final do século XIX. Influenciado pelas levadas africanas, principalmente a do lundu, e estimulados pelos sons europeus que também chegavam ao Brasil a todo momento, a exemplo da polca e da valsa, os músicos brasileiros criaram um ritmo híbrido que se desenvolveu ao longo de todo o século XX, como retratado no livro “Sambistas e Chorões”, de Lúcio Rangel, crítico, jornalista, musicólogo e eterno defensor da música popular brasileira.
Jacob do Bandolim, Pixinguinha, Waldir Azevedo, Luiz Americano, Radamés Gnatallli, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Paulo Moura, João Pernambuco e Altamiro Carrilho são grandes nomes que fazem parte da história do choro, também chamado de chorinho e que fazem parte das histórias de Lúcio em seu livro.
Em Bauru, a cena se encontra restrita a poucas casas de show. Os músicos “chorões” praticam e fazem suas rodas em suas próprias residências. No entanto, há poucos anos – entre 2006 e 2011 – as apresentações do gênero na cidade eram frequentes e se concentravam no extinto Jeribá Bar, que abrigava os shows do grupo Noz Moscada, do qual Johansen fez parte. Segundo o trombonista, o público que melhor recebia o gênero era o da terceira idade. “Na época do Jeribá, havia samba e choro: o samba era apreciado pelos mais jovens, e o choro pelos mais velhos”, conta.
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Roda de choro tradicional no Bar do Aeroporto de Bauru. Foto: Vitor Peruch
As apresentações cessaram no bar e em todas as casas da cidade, fato que o músico atribui à falta de estímulo e interesse pela boa música por aqui. “Falta apoio cultural na cidade. Cidades médias como Piracicaba têm muito mais estímulo do que Bauru. Os cachês de orquestra dessas cidades são 10 vezes maiores do que os bauruenses”. Eduardo acredita que além disso, os grupos de choro são grupos relativamente grandes – 2 violões, cavaquinho, pandeiro e solista – e isso acaba sendo determinante para o sumiço dos choros no bares de Bauru que, de acordo com ele, “se acostumou a voz e violão, porque é mais barato e assim é possível explorar mais o músico”. Eduardo Johansen e outros músicos da cidade promoveram durante alguns meses uma roda de choro semanal no Bar do Aeroporto, entre o final de 2014 e o começo de 2015, mas o público minguou com a chegada do inverno, visto que o bar se localiza em um lugar alto e sente mais as baixas temperaturas e os ventos.
Amigo e companheiro de trabalho de Johansen, Leandro Miguel, violonista de 7 cordas frequentador das mesmas rodas de choro do trombonista, vive da música e sofre com a falta de oportunidades na cidade. “Não está fácil para ninguém! Mas há alguns lugares que extrapolam a dificuldade, como Bauru. Financeiramente falando, só conheço um chorão que ficou rico de dinheiro, Waldir Azevedo. Mas acredito que o valor do choro não esteja contido no dinheiro, pois carregamos a cultura de um país através dessa prática musical”, defende Leandro, que nas rodas de Choro é conhecido como “Borracha”. Eduardo e Leandro lamentam que a falta de espaço na cidade afete tanto as rodas e o meio musical. “Os músicos optam por sair da cidade e buscar um local onde a música seja mais valorizada”.
“Atualmente, o gênero atravessa um momento importante no país, com a inauguração da casa do choro no Rio de Janeiro, a criação do clube do choro em São Paulo e diversos festivais acontecendo no país. O grande problema no cenário do choro em Bauru é a falta de festivais de música e de uma escola de música”, que lamentou a saída de amigos musicistas da cidade.
“Por aqui tivemos inúmeros músicos excelentes que foram embora por falta de oportunidade de trabalho. Com a fuga desses músicos a cidade não teve uma renovação no meio chorão e o movimento musical na cidade se enfraqueceu drasticamente”, pontuou Leandro.
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“Músicos muito bons de Bauru vão embora da cidade por causa da falta de oportunidades por aqui”, lamenta o violonista Leandro Miguel. Foto: Vitor Peruch
Questionado se a Secretaria Municipal de Cultura de Bauru ajuda a fortalecer o movimento musical, o violonista é enfático “A Secretaria de Cultura de Bauru nem sabe o que é cultura”. Para ele, falta preparo, vontade política e sobra comodismo na Secretaria. “Viajo para cidades menores e maiores que Bauru e me deparo com outra realidade. É triste relatar isso da minha cidade natal, mas não temos incentivo algum. Bauru podia, pelo menos uma vez por ano, sediar um festival de música”.
Atravessando o tempo
Se falta espaços públicos, casas noturnas e abres que abracem a música popular brasileira, outros chorões vivem para a música na cidade de Bauru. A relação do conjunto Si Bemol, composto por senhores de 50 a 94 anos, com a música se diferencia da relação dos músicos mais jovens com a mesma. Apelidados de Demônios da Garagem, o conjunto Si Bemol não se preocupou em buscar lugares para tocar em Bauru e região e começou a se reunir na garagem de Dulphe Ferraz, 94, para formar suas rodas de choro.
Como se estivessem começando na música, os jovens senhores montavam o som na garagem e, com portões abertos, expressavam as marcas e o estilo musical que se propagou pelo tempo. Na quadra 7 da Rua Professor Ranieri, próxima à Duque de Caxias, instrumentos como timba, pandeiro, clarinete, trombone, trompete, saxofone, acordeom, bandolim, cavaquinho e violão comprovavam o poder  da música de atravessar o tempo. A história do conjunto é marcada por apresentações em casamentos e festas beneficentes, além dos “shows” públicos na garagem.
O senhor Dulphe, dono da casa que virou a sede do Conjunto Si Bemol, mudou-se para uma casa de abrigos de idosos, e agora os encontros se tornaram mais casuais e sem um garagem definida.
Chorando no tempo, amadores e profissionais tornaram-se amigos e abriram as portas para novos integrantes. O grupo pode ter uma formação de mais de dez integrantes que tocam apenas pelo prazer, ao contrário dos violonista 7 cordas e trombonista de 28 e 29 anos. Além de Dulphe Ferraz, Fernando Lucilha, Nelson Lopes, Carlos Alberto da Silva, Antônio Carlos Quirino, Ataliba Cardoso e Vicente Cavalheiro são alguns dos músicos que estão sempre presentes nas rodas de choro dos “Demônios da Garagem”, que além do choro, toca boleros e serestas.

Redação

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