Projeto de extensão da Unesp aproxima Universidade e comunidade camponesa de Bauru.
O campus da Unesp-Bauru acordou animado no dia 18 de novembro para receber a primeira edição do Coopera Unesp.
Às 8h da manhã a feira já estava montada em frente ao Anfiteatro Guilhermão: ocupavam o gramado dez barracas com hortaliças, legumes, verduras e temperos, além de pastéis, sucos, café moído na hora e artesanatos.
A feira ficou movimentada o dia todo. Entre os visitantes muitos alunos e professores da universidade aproveitaram a oportunidade para reabastecer seus estoques de produtos naturais. O pastel com suco no intervalo entre aulas foi unânime entre os alunos e o café moído também atraiu muitos interessados. Se destacava entre as cooperativas de agricultores o estande da Associação Agroecológica Viverde, que produz objetos, móveis e estruturas em bambu, expondo alguns objetos de decoração produzidos por eles e um cartaz com informações sobre o grupo.
A partir do meio dia, atrações culturais deixaram o ambiente ainda mais familiar e divertido. O Projeto Perspectiva participou do evento trazendo o grupo musical “O Circo e o Leão”, animando quem acompanhava a feira. Mais tarde, Emerson Pol e Marisa Rosa, do SESC Bauru, apresentaram “Correio poético, cantigas, versos e poesias”, interagindo com o público.
A urbanização brasileira, o crescimento industrial e, consequentemente, a mecanização do campo, foram os principais fatores que acarretaram o êxodo rural. Este processo de migração em massa da população do campo para as cidades costuma ocorrer em um período de tempo consideravelmente curto, como o prazo de algumas décadas. No Brasil esse fenômeno foi ainda mais intenso, em apenas duas décadas a organização demográfica nacional já estava completamente alterada.
Nas décadas de 1960 e 1980 o Brasil viveu o maior êxodo de sua história. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a migração nesses vinte anos contribuiu com aproximadamente 20% de toda a urbanização do país.
Além da aceleração da urbanização, o êxodo rural também contribuiu para o crescimento das periferias urbanas, com a formação de habitações irregulares, e o aumento das favelas em várias metrópoles do país. O desemprego também cresceu, e com ele o número de empregos informais, ocasionando, dessa forma, uma maior precarização das condições de vida dos trabalhadores.
A ditadura militar existente no Brasil entre os anos de 1964 e 1985 está intimamente ligada ao processo de abandono do campo. De acordo com levantamentos históricos feitos pelo MST, os camponeses também foram privados de seus direitos de expressão, de organizar reuniões e de se manifestar contra as truculências impostas pela Lei de Segurança Nacional e pelo Ato Institucional nº 5. Os militares implantaram um modelo agrário mais concentrador e excludente, instalando uma modernização agrícola seletiva, que deixou de lado a pequena agricultura. Esses fatores levaram a população rural para a cidade em busca de novos empregos, e impulsionou a exportação da produção, o uso intensivo de agrotóxicos e concentrando a terra e os subsídios financeiros para os latifundiários.
Com os problemas enfrentados na cidade somados a exploração que o trabalhador rural sofria dos grandes proprietários de terra, surgiram, entre as décadas de 1970 e 1980, as primeiras organizações camponesas, que lutavam pelo seu direito a terra, ou seja, moradia e trabalho. E em 1984, com a ditadura militar mais branda, acontece o 1º Encontro Nacional dos Camponeses em Cascavel – PR. Nessa ocasião surge o Movimento dos trabalhadores rurais sem Terra (MST), que tinha os três seguintes objetivos: Lutar pela terra, lutar pela reforma agrária e lutar por mudanças sociais no país.
A partir do surgimento das organizações em prol da vida e trabalho no campo começaram a renascer na população que vivia na cidade, que era, muitas vezes, marginalizada o resgate de saberes e costumes anteriormente perdidos.
E são histórias que possuem esse mesmo ponto de partida, o reencontro com o campo, que vamos contar a seguir.
O REENCONTRO
Ocupar terras improdutivas gera o reencontro de famílias com seu passado, e também propicia o surgimento de novos sonhos.
O antigo horto Aimorés, localizado na cidade de Bauru-SP, que possui mais de 5 mil hectares, era utilizado, até os anos 1960, como fonte de matéria prima de lenha para as locomotivas a vapor da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. O local passou a ter um novo destino no ano de 2003, quando foi ocupado por integrantes do Movimento dos Trabalhadores sem Terra.
Em 2007, o Aimorés passa de acampamento para assentamento e possibilita, dessa forma, que mais de 300 famílias possam traçar novos planos de vida e contribuir com a produção de alimentos no Brasil.
Entre as famílias assentadas está a de Cláudia, que há cinco anos, produzem produtos orgânicos em sua primeira experiência camponesa. “Eu não vim da agricultura, vim da cidade. E quando cheguei no campo queria fazer algo realmente saudável, e por não ter conhecimentos, procurei cursos e conheci o Grupo Mulher. Hoje vivo da agricultura graças aos meus filhos, foram os principais incentivadores, e acabei descobrindo que gosto muito de trabalhar com a terra” diz Cláudia.
Outra figura importante de Aimorés é Thalita, de 10 anos. Acompanhando seu pai Paulo, a menina conta que também participa de feiras com a família, e além de ajudar a pesar os produtos, cobrar e dar trocos para os clientes, ela cuida das pimentas que a família cultiva, e todo o lucro obtido com elas fica com Thalita, como um incentivo.
O reencontro com a terra também faz parte da história familiar de Osvaldo, outro personagem de Aimorés. Ele esteve presente no evento, mas não como produtor, e sim como consumidor e “bom de prosa”. Contou que vinha de um evento sobre agricultura que acontecia nos arredores da Unesp, e ‘estacionou’ na barraca de Renan (genro de Paulo e cunhado de Thalita). O motivo da visita era a famosa pimenta. “Não temos pimenta no nosso terreno”. E com essa frase o diálogo mais curioso sobre culinária, berinjelas, pastéis e sucos naturais se iniciou. Entre todos os relatos de Osvaldo sobre suas aventuras no fogão, o mais marcante foi descobrir que o produtor de abacaxi era apaixonado por bacon, e sendo este o ingrediente presente em todas suas receitas (ficando a berinjela como segunda colocada).
O produtor das pimentas compradas por Osvaldo era Renan, um jovem agrônomo recém formado pela Universidade Federal de São Carlos – Campus de Sorocaba. Renan é casado com uma das filhas de Paulo, e, com certeza, um dos entusiastas da produção orgânica e também, é claro, um incentivo às novas gerações do assentamento.
No link abaixo você pode conhecer um pouco mais da história de Cláudia:
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