Profissionais discutem as novas oportunidades na área
Cinthia Quadrado
Muitos começam a pesquisar a profissão de jornalista pelo glamour que aparece em seriados de televisão, no cinema ou em jornais famosos. Pensa-se numa realidade em que fama e profissionalismo estão lado a lado, e, além de tudo isso, acredita-se em uma nova forma de mudar o mundo. Essa é uma das ideias que alguns estudantes de Jornalismo podem ter tido no início de faculdade.
Depois do dia do jornalista, comemorado 07 em abril, aparentemente não há muitas coisas a se celebrar. Casos de violência e censura perduram, enquanto profissionais da Comunicação continuam a atuar na área. Nessa tentativa de dar continuidade ao trabalho e a rotina jornalística, profissionais gabaritados tiveram iniciativas diferenciadas na área. Empreendedores, desenvolvedores de sites e outras empresas começaram com pequenas ideias e conseguiram destaque. Mas, por qual motivo ainda não há um debate aprofundado sobre esse assunto nas universidades?
Wander Veroni, jornalista e professor do curso de extensão de Blogs e Redes Sociais do UniBH, acredita que ainda existem visões distorcidas relacionadas ao jornalismo. “A primeira é em relação a ‘aparecer’ na TV, rádio, impresso ou web. Muita gente acha que isso irá lhe trazer uma colocação que lhe dê fama, dinheiro e prestígio. A segunda é achar que é possível mudar o mundo, transformar a sociedade ou mudar a linha editorial dos veículos tradicionais”, conta. Para ele, o Jornalismo é uma profissão em que compartilhamos histórias e é preciso ter humildade, respeito e ética para contribuir com um mundo mais justo e democrático.
O jornalista relata que vê poucas discussões em relação ao jornalismo (ou qualquer outra área da Comunicação) no ambiente da faculdade. “Isso se deve a própria concepção que as grades curriculares foram formadas. Sem contar que esse debate sobre o empreendedorismo na comunicação é muito recente, não tem nem 10 anos”, afirma. Ele ainda conta que incentiva seus alunos a não esperarem a iniciativa das instituições. “Quem quer desenvolver ações empreendedoras precisa correr atrás de conhecimento sobre este assunto, ler mais sobre administração, economia, negócios, marketing, finanças, publicidade, startups, produção de conteúdo na web, design, webmaster, dispositivos móveis, etc”, conclui.
A jornalista Maria Clara Lima comenta que as profissões são exaltadas e “mostram médicos como heróis, professores como grandes líderes e os jornalistas em meio a um mundo de fantasia”. Para ela, “a realidade é sempre mais dura e menos fantasiosa. Acho justo que cada estudante de jornalismo entre no curso querendo salvar o mundo, e acho extremamente triste alguns descobrirem que isso não é possível e desistirem no meio do caminho”.
Quanto ao debate sobre empreendedorismo dentro das universidades, Maria Clara afirma que “há pouco mais de uma década, com as políticas adotadas pelo governo federal no Brasil, é que o país pode se colocar em um patamar possível ao empreendedorismo, especialmente de forma micro, local”. Ela reforça a ideia de que independente de ser jornalista ou não, essa nova modalidade de se fazer economia deveria ser incentivada no país. “Acho cedo para falar em uma disciplina curricular, talvez no ensino fundamental, onde ainda está se formando os ideais dos adolescentes, seria possível um debate mais aproveitável”, sugere a jornalista.
Há uma crise no jornalismo?
A crise no jornalismo tradicional é muito mais complexa do que pode ser pensando. Para Wander, essa crise “está relacionada também com o comportamento do público e o quanto a produção de TV, rádio e impresso é cara. A internet trouxe mais democracia da informação tanto para o público, quanto para os produtores de conteúdo”. Ele ainda dá alguns exemplos:
Na década de 1980, o jornalista que não estava numa redação ou numa assessoria de imprensa não estava no mercado. Hoje, um jornalista pode trabalhar de forma freelancer, escrever uma grande reportagem em e-book ou livro sem a necessidade de uma grande editora, já que editoras independentes na web, como o Clube dos Autores. Eles também podem manter um blog ou um site, dar consultoria, se associar com outros colegas para criar uma nova possibilidade de trabalho.
Motivos para empreender podem ser os mais diversos. O professor da UniBH acredita que “o motivo em tese é: coragem e uma ideia na cabeça. O profissional precisa acreditar em si e na sua ideia e batalhar para que ela saia do papel e colha frutos”. Além disso, também é necessário “ter disciplina para se planejar porque isso é fundamental. E não é de um dia para o outro. Leva tempo. É preciso ter calma e perseverança”.
Outro exemplo é a Agência Pública em que um grupo de jornalistas brasileiros se reuniram para a produção de grandes reportagens investigativas. Por meio dessa agência, além das contribuições na colaboração no site Catarse, reportagens aprofundadas permitem que se tenha acesso a um conteúdo diferenciado, que foge ao padrão das redações tradicionais de jornais e revistas. “Hoje temos mais opções de trabalho, mas é preciso que os profissionais que estão saindo da faculdade, e os que já estão no mercado, tenham essa sensibilidade de ver que sempre temos alternativas de trabalho por meio do empreendedorismo”, conclui Wander.
Casos
A jornalista Cristina Thomaz fundou a Em Pauta Comunicação em 1998 e, desde então, ela trabalha com jornais regionais, jornais de empresas e com assessoria de imprensa e produção de conteúdo para redes sociais.
Cristina conta que começou seu trabalho fazendo um jornal de bairro com uma amiga. Depois disso, quando sua amiga parou, ela iniciou outro projeto de assessoria de imprensa com uma outra amiga da faculdade (e sua sócia até hoje). “Os trabalhos foram surgindo, fui fazendo, as pessoas me procuravam e indicavam outras. Quando eu vi, tinha todo o meu tempo ocupado com estes trabalhos e minha remuneração era muito mais significativa do que um emprego num meio de comunicação ou assessoria de imprensa”, afirma.
Para a jornalista, há “muitas empresas de assessoria de imprensa, basicamente. E também de profissionais freelanceres, que trabalham com texto. Muitos profissionais começam trabalhando em suas casas. É uma saída para driblar esta crise. Eu mesma comecei assim, meio sem querer”. Ela ainda conta que o sucesso nesses 15 anos ”se deve à constante preocupação em oferecer o que há de melhor aos clientes. Graças a isto, temos clientes há quase 10 anos conosco, outros há mais de dez”.
No caso de Wander, ele começou do zero com o site Café com Notícias, na plataforma Blogger e num computador super limitado. “A medida que o projeto foi crescendo e comecei a ganhar dinheiro – seja pelos anúncios ou pelos trabalhos que o blog me trouxe, comprei um computador novo, mudei o layout, comprei um domínio próprio, e passei a investir em equipamentos e capacitações que possam me ajudar a fazer com que o projeto cresça ainda mais”.
(Clique na imagem para conferir nossa pesquisa sobre Jornalismo Empreendedor).